Ex-morador de rua ganha maior prêmio da música: ouça

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Por Só Notícia Boa
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Foto: Ian West / PA via AP)

Um ex-morador de rua, que tocava em estações de metrô para receber trocados e se alimentar, ganhou o maior prêmio da música britânica, o Mercury.

Competindo com nomes consagrados, Benjamin Clementine, de 26 anos, recebeu o prêmio anual britânico de música, o Mercury de melhor álbum de 2015, por At Least For Now, seu trabalho de estreia, e transformou-se num dos mais respeitados cantores da atualidade.

Não faz muito tempo que o britânico , cantava e tocava guitarra em estações do metrô de Paris.

Tempos duros

De origem humilde, vindo do norte de Londres e com experiência de viver nas ruas em Paris, Benjamin passou inúmeras noites nas ruas da capital francesa, dormindo em calçadas, enfrentando o frio e a neve.

Cenas dos tempos difíceis de Benjamin Clementine como sem-teto ainda podem ser vistas.

Algumas de suas apresentações no metrô parisiense foram registradas em vídeo por passageiros, com seus telefones celulares, e postadas à época no YouTube.

Em uma delas, compartilhada na internet em dezembro de 2012, Clementine equilibra-se no espaço entre dois vagões enquanto oferece aos passageiros sua versão de Rehab, de Amy Winehouse.

Na cena, um homem à sua esquerda parece mais interessado no livro que lê, mas uma mulher se aproxima para lhe dar umas moedas – e ele agradece. Outros o acompanham no refrão e cantam “No, no, no”.

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Em outra apresentação registrada em vídeo, publicado por uma passageira no YouTube em setembro de 2011, ele reproduz os versos de No Woman, No Cry, de Bob Marley.

Sua potente voz toma conta dos corredores da estação. “Everything is gonna be alright, everything is gonna be alright”, repete um ainda pobre e desconhecido Clementine.

Ele tinha razão. Tudo acabou dando certo.

A virada

Em outubro de 2013, já de volta a Londres, Clementine cantou pela primeira vez na TV britânica, no programa musical de Jools Holland, da BBC.

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Piano

Se no metrô sua companheira inseparável era a guitarra acústica, em sua versão profissional seu principal instrumento é o piano.

Nele, Clementine apresentou na BBC sua primeira música lançada, Cornerstone, responsável por conquistar a imediata admiração de Paul McCartney.

Com os pés descalços, uma de suas marcas, Clementine impressionou a todos não apenas por sua cativante voz e estilo de tocar, que levaram a comparações com Nina Simone.

Ele mostrou também ter muito a dizer. “Eu estou solitário, sozinho numa caixa de pedra / Eles dizem que me amam, mas estão mentindo / Estou solitário, sozinho na minha própria caixa / E a este lugar que agora pertenço / É a minha casa, casa, casa”, canta ele na belíssima Cornerstone.

Nos meses seguintes, Clementine lançou um segundo EP e trabalhou na produção de seu primeiro álbum.

Demorou um ano e meio até que At Least For Now fosse lançado e, apesar do impacto positivo entre críticos e da indicação ao prêmio Mercury, a disputa pela maior glória da música britânica foi acirrada.

Com concorrentes mais badalados ou já consagrados, como a banda indie Wolf Alice, Florence and the Machine e Aphex Twin, Benjamin Clementine não acreditava que poderia sair vencedor.

“Sempre quis ser indicado para este prêmio, mas nunca pensei que eu pudesse vencer. Sempre fiz piada sobre isso!”, disse o cantor de 26 anos.

Maior prêmio da música

O Mercury é o maior reconhecimento almejado por artistas do Reino Unido e da Irlanda. É entregue ao melhor álbum do ano, escolhido por um júri de 12 pessoas formado por críticos, músicos e compositores.

Entre grandes nomes já vitoriosos estão as bandas Primal Scream, vencedora da primeira edição do prêmio, em 1992, Portishead (1995) e Arctic Monkeys (2006). A cantora PJ Harvey venceu duas vezes, em 2001 e 2011, enquanto Amy Winehouse e Adele foram apenas indicadas, duas vezes cada.

Estar entre os 12 indicados, no entanto, já é considerado uma honra capaz de impulsionar a carreira de qualquer artista. No caso de Clementine, a vitória, já em seu primeiro álbum, apenas três anos depois de sua realidade de cantor de rua, é um feito impressionante – e merecido.

O trabalho de Benjamin Clementine oferece um conjunto de qualidades de que o atual cenário musical mundial anda carente.

Para as vítimas de Paris
Benjamin Clementine recebeu o Mercury numa cerimônia na sexta-feira, 20 de novembro, uma semana após os atentados do Estado Islâmico que mataram ao menos 130 pessoas em Paris.

Após ser anunciado como vencedor e chamar ao palco todos os outros concorrentes, ele dedicou a conquista às vítimas dos ataques, num discurso interrompido pelo choro que não conseguiu conter.

https://www.youtube.com/watch?v=lNO-kB2QPCM

O vídeo de uma de suas músicas revela como Paris permanece no seu coração. A faixa London fala sobre a esperança por um futuro positivo para Clementine, o que talvez tenha ocorrido antes do que ele esperava.

“Londres Londres Londres está te chamando / O que você está esperando, o que você está procurando? / Londres Londres Londres está tudo dentro de você / Por que você está negando a verdade?”

O vídeo, porém, não foi filmado em Londres, mas em Paris. Enquanto canta os belos versos de London, Benjamin Clementine aparece, novamente descalço, no topo de um prédio em sua cidade adotiva.

No horizonte, imponente, está a Torre Eiffel, em imagens que servem como uma declaração de amor à paisagem parisiense.

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Com informações G1