Brasileiro que fez show para o Papa alegra crianças na África

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Por Só Notícia Boa
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Fotos: arquivo pessoal||||

Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa.

Um brasileiro que recusou os padrões e seguiu seu coração. A missão dele é alegrar as pessoas. O artista de circo Rogério Piva, de 28 anos, é de São Paulo, mas já passou boa parte da vida viajando o mundo.

“Já fiz show para o Papa Francisco no Vaticano, [participei de] festivais e circos pelo mundo, ganhei prêmios nacionais e internacionais e agora [estou] compartilhando o meu melhor em vilarejos africanos”, contou em entrevista ao SóNotíciaBoa.

“Estou em uma jornada aqui pela Africa, sozinho, independente, me virando para dormir e comer e seguir viajem, passando de povoado em povoado fazendo meus shows nas comunidades”.

Conhecido como Piva e vestido de palhaço, Rogério faz espetáculos em território africano para as pessoas que vai encontrando pelas ruas. Ele distribui alegria e recebe solidariedade.

“As comunidades contribuem voluntariamente com moedas de um lado e de outro, porque meus shows são gratuitos. Sempre encontro um canto para dormir sem necessitar pagar e a comida, eu me viro com o que ganho. Muitas vezes sou convidado a comer.

O idioma nem sempre importa nessa arte universal do circo.

“Apesar das línguas que vou aprendendo, a arte se comunica por mim. Compartilho o que tenho, faço a difusão do circo onde ele é desconhecido, faço a inclusão social para todos terem acesso. E eles riem, eles me abraçam. São risos tão verdadeiros, uma gratidão tão sincera”, conta.

No começo as pessoas estranham e olham desconfiadas, mas logo entram na magia do circo.

“Quando chego, eles não entendem bem, retiro minhas coisas da bolsa, minha sanfona, os malabares. Os olhares curiosos e desconfiados surgem, mas se aproximam e em seguida fazemos um cortejo para anunciar. Assim, a festa começa”, explica.

Rogério conta que muitos na África nunca viram um circo.

“É o primeiro contato com o circo dessas pessoas. É lindo, transformador”

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Saudades

Como todo bom palhaço que arranca sorrisos no palco, Piva divide seus momentos de tristeza e saudade com o travesseiro.

“Sempre foram um mar de emoções as viagens. Estar longe do que você cresceu, do que você conhece, de quem ama, sempre me levou a noites de muitas lágrimas. As constantes despedidas, os relacionamentos que não duram, os amores perdidos, a distância constante. Tudo foi um processo que ainda não me acostumei’, confessa.

Rogério conta que desenvolveu seu próprio jeito de conviver com a tristeza.

“Trabalho o desapego constantemente, seja o material e o sentimental. O longo processo convivendo sozinho me ensinou isso. Não me privo das noites de choro, as desfruto como um privilégio de sentir a vida na sua essência, de sentir o tempo e de entender a minha humanidade. Porém desfruto cada vez mais os momentos felizes. Eles passam a ser mais constantes e fáceis. Já que não espero muito deles, eu me surpreendo todos os dias com coisas muito simples, é incrível”, diz.

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História

Nascido em São Paulo e formado na escola publica de Guacari, na zona sul da cidade, Rogério viveu o conflito entre seguir sua arte, ou a carreira acadêmica estável, como desejava sua família.

“Vivo da minha arte desde os 15 anos, desde quando comecei a atuar nos semáforos das avenidas de São Paulo, sendo discriminado e rejeitado pela maioria, mas as moedas que uma minoria colaborou, saibam que o resultado é toda essa trajetória que tenho”, conta.

“Entrei na faculdade para estudar administração e conciliar com o trabalho no circo. Fiquei por 2 anos e decidi que não faria outra coisa se não algo vinculado a arte. Deixei a faculdade me dedicando somente ao circo e dando um basta nos conflitos e na imposição do sistema, que tentava me forçar ao suicídio da estabilidade, com emprego fixo e as garantias de prisão até o fim da vida. Me libertei…”, lembra.

A libertação fez Piva trabalhar em circos brasileiros de renome, trampolim que o levou a 22 países. O primeiro foi o Chile.

“Parti para o Chile, sem saber bem como faria. Com pouco dinheiro, sem o idioma, sem saber onde iria exatamente, eu tinha apenas minha mala com meus aparelhos. No primeiro dia ao chegar, encontrei um grande circo, me deixaram fazer um teste e adoraram. [Foi] Meu primeiro contrato internacional. De lá segui para o mundo sendo solicitado por muitos circos e festivais”, lembra.

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Show para o Papa Francisco – 08/01/2014 – Foto: arquivo pessoal

Apresentação ao Papa

“Fui convidado a participar do 30°Golden Circus Festival Roma Capital. Um grande festival de circo que ocorre todos os anos em Roma na Itália. O vaticano havia feito um convite à direção do Festival para uma apresentação na primeira audiência pública do Papa Francisco. Fui um dos artistas selecionados para fazer o show pra ele”, comemora Piva.

Há 8 meses o brasileiro está numa viagem internacional pela África, que começou com uma carona que pegou com um circo francês. Depois Piva abandonou o grupo para seguir só.

“Percebi que os circos, apesar de eu amar, já não me satisfaziam, pois eu me sentia um produto apenas. Queria levar minha arte sempre a lugares mais isolados, para pessoas com menos condições. Participei e colaborei com inúmeros projetos sociais no mundo. A África sempre foi uma prioridade. Agora estou aqui e realmente aqui me ensina muito”, comemora.

Ele revelou ao SóNotíciaBoa que pretende voltar este mês ao Brasil para matar saudades.

“Estou passando pela Tanzânia nesse momento. Seguirei para Ruanda, Uganda e Quênia… Fui convidado a um festival de circo em Marrocos. Depois de Marrocos, “acho” que retornarei ao Brasil para recarregar as baterias ou descarregar de vez, devido a situação que se encontra o país.

Em seguida ele segue para festival no Peru, marcado para o dia 21.

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Lições da vida
Rogério conta que aprende muito e acaba fazendo reflexões nessas caminhas por países diferentes.
“Essa minha vida no mundo me fez compreender que a saudade é dor, mas ela nos faz enxergar a importância das pessoas. E que os relacionamentos terminam, distantes ou não”.
“Tudo aqui me faz compreender o nosso modelo de vida, tão fútil… Ter ficou mais importante do que ser, do que sentir”.
“Eu não quero trabalhar, não quero estudar, não quero me casar. Quero é fazer arte todo dia e encantar a todos com a poesia que faço da minha vida…”, conclui o artista.
Da redação do SóNotíciaBoa