Guarda acolhe em casa usuários de drogas e moradores de rua

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Por Só Notícia Boa
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A história de um guarda brasileiro, que acolhe em casa usuários de drogas e moradores de rua, acaba de ganhar o mundo.

A BBC mostrou esta semana o tamanho do coração do guarda municipal Marcos de Moraes, de 51 anos, um homem que ajuda pessoas desconhecidas, abandonadas, a se reinserirem na sociedade.

Em oito anos na Guarda Civil Metropolitana (GCM), Moraes já encaminhou para abrigos, levou de volta para os braços da família e até para morar dentro de sua própria casa cerca de 50 usuários de crack e moradores de rua.

“Levo para casa mesmo. Sei que é um número pequeno, mas não me importo com quantidade, e sim com a qualidade. Quando pego um caso, vou até o fim”, disse em entrevista à BBC Brasil.

O Facebook é uma das principais ferramentas que Moraes usa para encontrar as famílias dos moradores de rua.

De uma farda azul marinho, cassetete e revólver na cintura, o guarda municipal observa a multidão na cracolândia, em São Paulo, durante sua patrulha.

À distância, ele analisa o comportamento dos usuários de drogas que frequentam o local, se aproxima de alguns e oferece apoio para aqueles que mais o comovem.

“Você aceita ajuda? Eu não estou brincando. Se você confiar em mim, eu posso te tirar das ruas”, diz o guarda com firmeza na voz e olhar acolhedor, enquanto segura a mão de seu interlocutor.

Marcos de Moraes: - Foto: arquivo pessoal

Marcos de Moraes: – Foto: arquivo pessoal

Um dos resgates

Hoje, Moraes vive em uma casa alugada em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo) com a mulher Karyne e o pedreiro Geraldo Martins, de 63 anos (foto abaixo), que foi resgatado quando morava nas ruas de São Bernardo do Campo, também na Grande SP.

O guarda levou o desconhecido para dentro de sua casa em fevereiro, depois de ver um alerta no Facebook para o caso dele – o senhor que saíra de Pernambuco em busca de um emprego e estava morando na rua.

“Ele trabalha em São Paulo e a esposa dele fica sozinha. Não sei como ele teve coragem de me trazer. Ele confia demais em mim. É amizade demais nós, parece que ele é meu filho”, disse Geraldo com lágrima nos olhos.

Geraldo Martins - Foto: Matheus Brant

Geraldo Martins – Foto: Matheus Brant

O resgate

Moraes conta que quando conheceu seu Geraldo logo o chamou para ir embora para a casa do guarda.

“Perguntei se ele não era pedreiro e disse que também tinha um serviço na minha casa que ele poderia fazer e ainda encontraria mais trabalho para ele.

Ele nem parou para pensar na resposta. Se despediu dos amigos, entrou no meu carro e a gente foi embora.

Ele dorme em um cômodo no fundo da minha casa e me ajuda em uma obra.

O seu Geraldo já faz parte da minha família. A comida que ele almoça é a mesma que a nossa, toma café da manhã com a gente, passeia, viaja. Ele está bem feliz.

O Geraldo tem 52 anos e é muito respeitoso.

Ele nos mostrou na internet a casa onde ele mora em Pernambuco, onde os filhos e a mulher estão. A intenção dele agora é guardar um dinheiro através do trabalho e visitar a família em outubro.

Mas ele não quer morar lá. Ele quer passear e voltar para São Paulo. Ele diz que aqui é o lugar onde ele se sente feliz.

Ele colocou uma arcada dentária nova, comprou roupas. O único mal dele hoje é o cigarro, mas ele prometeu que vai parar.

Outro resgate

Seu Claudiocir (foto no alto), que era viciado em crack e morou 25 anos na rua.

“Quando o conheci, perguntei se ele deixaria as drogas se eu encontrasse sua família, que morava em Poções, na Bahia.

Ele, que morava sob uma tábua, disse que sim e eu fui atrás. Pedi ajuda na rádio da cidade de Poções até encontrar a mãe dele. Vizinhos que ouviram o apelo e até o próprio radialista foram até a casa dela.

Disseram que a senhora até deixou o café no fogo e deu pulos de alegria quando soube notícias do filho.

O reencontro foi maravilhoso. A TV Record se interessou pelo caso, levou o rapaz para uma clínica de reabilitação e depois pagou a passagem de volta”, contou à BBC.

História do guarda

Marcos de Moraes nasceu em Mogi das Cruzes, na Grande SP, onde mora até hoje.

“Tive uma infância muito boa, embora eu tenha perdido meu pai com seis anos. Um pai faz falta, mas consegui me adaptar muito bem com meu padrasto”, conta.

Vendi ferro-velho e, em 1990, comecei a vender cachorro-quente na porta da Universidade Mogi das Cruzes. Foi quando comecei a me aproximar de moradores de rua.

No fim da noite, sempre chegavam um ou dois pedindo um lanche e, claro, eu dava. E aproveitava para perguntar o motivo de estarem na rua. Cada um tinha uma história e ali começou a despertar a minha atenção para o lado dessas pessoas excluídas da sociedade.

Depois de 12 anos vendendo lanches, passei a vender cerveja e, em 2008, eu fiz concurso e entrei na Guarda Civil Metropolitana (GCM). Foi lá que me realizei profissionalmente.

Ajudar sempre!

“Tem uma passagem na bíblia com o homem caído que é ignorado pelas pessoas que poderiam ajudá-lo. Mas um passa e vem para ajudá-lo. Esse sou eu. Se tiver no meu alcance, vou ajudar na hora”, diz.

“Se eu puder dividir um prato de comida eu divido”.

Leia a reportagem completa na BBC