Japão tem 6 mortes POR ANO com armas de fogo: baixa violência

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Por Só Notícia Boa
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Foto: Lusa

É impressionante! O Japão registrou 6 mortes em 2015 com armas de fogo. Isso mesmo: 6 mortos durante um ano inteiro. É uma das menores taxas do mundo.

No Brasil são 5 mortes POR HORA com arma de fogo, segundo o Mapa da Violência 2016.  Foram 44.861 vítimas em 2014.

Nos EUA morreram 33.599 em 2015.

Mas como eles conseguiram?

“A resposta à violência nunca é violência. A polícia japonesa disparou apenas seis tiros em todo o país em 2015”, disse o jornalista Anthony Berteaux à BBC.

E tudo começa na forma de agir da polícia.

Policiais japoneses dificilmente andam armados e a ênfase é maior nas artes marciais – todos devem chegar a faixa preta do judô. Eles passam mais tempo praticando quendô (uma luta com espadas de bambu) do que aprendendo a usar armas de fogo.

“O que geralmente a polícia japonesa faz é usar imensos colchonetes para embrulhar, como uma panqueca, a pessoa que está violenta ou bebeu demais e levá-la para se acalmar na delegacia”, explica Iain Overton, diretor-executivo da organização não-governamental Action on Armed Violence e autor do livro Gun Baby Gun.

Overton compara este modelo com o americano que, segundo ele, tem sido o de ‘militarizar a polícia”.

“Se há muitos policiais sacando armas nos primeiros instantes de um crime, isso leva a uma pequena corrida por armas entre a polícia e os criminosos”, afirma.

Compra de armas

Os segredos dos japoneses vão além: lá para comprar uma arma de fogo é preciso paciência e determinação.

É necessário um dia inteiro de aulas, passar numa prova escrita e em outra de tiro ao alvo, com um resultado mínimo de 95% de acertos.

Também é preciso fazer exames psicológicos e antidoping.

Os antecedentes criminais são verificados e a polícia checa se a pessoa tem ligações com grupos extremistas.

Em seguida, investigam os seus parentes e mesmo os colegas de trabalho.

Lei rigorosa

A polícia tem poderes para procurar e apreender armas de fogo.

Armas portáteis são proibidas. Apenas são permitidos os rifles de ar comprimido e as espingardas de caça.

A lei também controla o número de lojas que vendem armas.

Na maior parte das 47 prefeituras do Japão, o número máximo é de três lojas de armas e o usuário só pode comprar cartuchos de munição novos se os usados forem devolvidos.

A polícia tem que ser informada sobre onde a arma e a munição ficam guardadas – e ambas devem estar em locais distintos, trancadas. Uma vez por ano a polícia inspecionará a arma.

Depois de três anos, a validade da licença expira e a pessoa é obrigada a fazer o curso e as provas de novo.

Tudo isso ajuda a explicar por que os tiroteios e massacres com armas de fogo são muito raros no Japão.

Quando um massacre ocorre no país, geralmente o criminoso utiliza facas.

História

A atual lei de controle de armas japonesa foi criada em 1958, mas a ideia vem de séculos atrás.

“Desde que as armas chegaram ao país, o Japão sempre teve leis bastantes rigorosas,” diz Iain Overton, diretor-executivo da organização não-governamental Action on Armed Violence e autor do livro Gun Baby Gun (Arma Baby Arma, em tradução livre).

“O Japão foi o primeiro país do mundo a criar leis sobre as armas e isso é a base para mostrar que elas não fazem parte da sociedade civil”.

A população japonesa tem sido premiada por devolver armas antigas, algumas de 1685.

O resultado é um índice muito baixo de porte de armas: 0,6 armas por 100 pessoas em 2007, em comparação com 6,2 por 100 na Inglaterra e no País de Gales, e 88,8 por 100 nos Estados Unidos, de acordo com o projeto Small Arms Survey, do Instituto de Estudos Internacionais e de Desenvolvimento de Genebra, na Suíça.

“Quando se tem armas na sociedade, há violência armada. E acredito que a relação tem a ver com a quantidade. Se há poucas armas numa sociedade, é quase inevitável que os níveis de violência sejam baixos”, diz Overton.

Máfia

Para o crime organizado japonês as rígidas leis de controle de armas são um problema.

Os crimes da máfia japonesa, a Yakuza, caíram drasticamente nos últimos 15 anos e os criminosos que continuam usando armas de fogo têm que descobrir novas maneiras de entrar com elas no país.

“Os criminosos escondem armas dentro de carregamentos de atuns congelados”, conta o policial aposentado Tahei Ogawa. “Já descobrimos alguns peixes recheados com armamento”.

Paz

“Não existe um clamor popular no Japão para que as leis sobre armas sejam relaxadas”, diz Berteaux.

“Isso tem muito a ver com um sentimento pacifista do pós-guerra, de que a guerra foi horrível e não podemos nunca mais passar por isso”.

“As pessoas assumem que a paz sempre vai existir e, quando se tem uma cultura como esta, você não sente a necessidade de estar armado ou de ter um objeto que acabe com esta paz”.

Com informações da BBC e Época