Fruto da Amazônia pode baratear tratamento da leishmaniose

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Por Só Notícia Boa
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Foto: Luciete Pedosa - Ascom Inpa

Um fruto que vem da Amazônia, usado por ribeirinhos, pode ser a chave para baratear e simplificar o tratamento da leishmaniose, uma doença cruel que causa lesões renais, hepáticas, cardíacas e mata cães e seres humanos.

Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) testa um creme fitoterápico à base do jucá (Libidibia ferrea) como terapia alternativa às dolorosas injeções para tratar contra a leishmaniose do tipo tegumentar (LT).

Os testes iniciais com o creme, em roedores, tiveram sucesso.

Segundo os pesquisadores, os animais tratados com o preparado à base do jucá tiveram 25% de crescimento de lesões relacionadas à doença, em comparação ao aumento de 300% dos animais que não receberam nenhum tratamento.

O estudo, que começou no Laboratório de Leishmaniose e Doenças de Chagas do Inpa, pretende desenvolver um medicamento eficaz, de uso tópico e com uma logística de distribuição simplificada para auxiliar os pacientes que moram em áreas de difícil acesso.

A ideia é que o creme feito com a planta possa ser associado ao o glucantime, medicação recomendada pelo Ministério da Saúde há mais de 50 anos, para agir como coadjuvante no tratamento da leishmaniose tegumentar.

Velho conhecido

O jucá, também conhecido como pau-ferro, é um velho conhecido dos ribeirinhos da região amazônica, muito utilizado por eles em forma de chá como remédio caseiro para diversas enfermidades.

Árvore nativa do Brasil, ele está amplamente presente nas regiões Norte e Nordeste.

Tem propriedades antissépticas, antienvelhecimento, antioxidantes e antipigmentação.

Também é usado como adstringente, antidiarreico, cicatrizante, sedativo, tônico, anti-inflamatório, expectorante e até mesmo afrodisíaco.

De acordo com o farmacêutico responsável pela pesquisa, Bruno Jensen, o experimento ainda está restrito a roedores – mas com resultados satisfatórios.

O desempenho, para Jensen, mostra que o tratamento da leishmaniose poderia ser complementado com o creme, para aumentar sua eficácia e reduzir os efeitos colaterais apresentados a partir da administração da medicação única indicada pelo governo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 350 milhões de pessoas estejam expostas ao risco da leishmaniose no mundo, com registro aproximado de dois milhões de novos casos das diferentes formas clínicas ao ano no mundo.

Apesar de a infecção estar controlada no Brasil, estima-se que quase 3 mil pessoas são contaminadas todo ano.

Transmissão e sintomas

Existem dois tipos de leishmaniose: a visceral (LV), conhecida como calazar, e a tegumentar (LT).

São infecciosas e transmitidas por diferentes espécies de insetos infectados pelo protozoário.

A LV é caracterizada, principalmente, por febre de longa duração, aumento do fígado e do baço, além de perda de peso acentuada, e pode levar a óbito em 90% dos casos se não for tratada adequadamente.

Já a LT provoca úlceras na pele e mucosas.

Produção de medicamentos

A líder do grupo de pesquisa do Inpa, Antônia Maria Ramos Franco, disse que o desenvolvimento de novos fármacos é importante porque o país precisa reduzir as despesas com o tratamento de uma doença considerada negligenciada – aquelas causadas por agentes infecciosos ou parasitas e que afetam principalmente as pessoas de menor poder aquisitivo.

“Somos especialistas na realização de pesquisas científicas envolvendo este tipo de enfermidade, que é considerada um grande problema mundial, não só no Brasil”, diz Franco.

Parceiros

“Agora, estamos iniciando uma nova etapa: a busca por parceiros que tenham interesse em produzir esse fitoterápico à base de jucá em escala industrial.”

Segundo Jensen, a pesquisa ainda não foi publicada em revista científica porque o estudo precisa aguardar o pedido de patente, que, de acordo com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), deve cumprir com o prazo estabelecido em Lei.

“Como a pesquisa é recente e o processo de patente geralmente leva de 18 a 36 meses para ser finalizado, ainda não podemos publicá-la”, diz o pesquisador.

Com informações da BBC