Negro, moreno, branco: crônica contra o preconceito

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Por Só Notícia Boa
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Foto: Pixabay||

Negro, moreno, branco… O que define uma pessoa negra não é apenas a cor e o cabelo, é também o que ela pensa sobre si, como se vê.

Na aquarela, os negros têm vários tons. E, por isso, pra dar nome a essa cor, às vezes o que é negro vira bombom, o que é negro vira moreno clarinho, jamelão, mas nem por isso deixa de ser negro.

Todos têm sua relação pessoal com o preconceito. É o que hoje conheço como colorismo: um nome pra explicar como as pessoas se relacionam com o preconceito de maneiras diferentes a partir do tom da pele.

Na escala crua, não de cores, mas do preconceito, todos os negros vão para o fim da fila, não importa a tonalidade.

No entanto, apenas por observação, é nítido perceber que negros mais escuros são mais apagados na sociedade do que os negros com tom mais claro de cor. Nem por isso, um ou outro deixa de sentir a dor do racismo.

Há um motivo pessoal para essa história.

Certa vez, um amigo negro me disse que eu nunca saberia o que um negro sente. Foi uma das piores demonstrações de preconceito que já ouvi. Como um irmão, alguém igual a você, lhe dá um tapa na cara?

Eu queria estar com ele e explicar que eu também sabia o que ele passava. Mas as palavras daquele amigo me fizeram pensar que talvez eu não soubesse. Me fizeram pensar sobre quem eu sou.

Ao olhar para aquele rapaz que toda semana, na volta pra casa, relatava que as pessoas na parada de ônibus se assustavam ao vê-lo chegar à noite, que até hoje não concluiu a faculdade, que não tem um bom emprego, e está em uma família abandonada pelo pai, foi que eu entendi tudo o que estava bem na minha cara: somos diferentes. Mas há um porém.

As diferenças não corroem aquilo em que somos parecidos. Se já não são suficientes todas as formas de separação entre as pessoas, isso mostra que novas estão em expansão.

A segregação, até hoje mais conhecida entre brancos e negros, pode se revelar ainda mais cruel quando divide os negros em subclasses.

É como se referir ao “negro de traços finos”, “é negro mas é bonito”, “mais ou menos negro, é mais claro”.

E quando o próprio negro adota esse discurso que distancia? Em que vê “inimigos” em brancos e em negros “mais claros”… reflexo de uma história marcada pela desigualdade.

É a velha segregação entre cores mais complexa de se entender.

Nenhum traço físico pode ser tão mal interpretado quanto o pensamento de quem não vê todos os negros iguais.

É como estar no limbo do racismo. Essa pessoa “morena” nunca será branca porque sempre (sempre) será negra.

Basília Rodrigues, jornalista - Foto: arquivo pessoal

Basília Rodrigues, jornalista – Foto: arquivo pessoal

Crônica da jornalista Basilia Rodrigues, da Revista Evoke