Poliamor: casais de 3 ou 4 pessoas se assumem

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Por Bruno M.
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Foto: ThinkStok/BBC
Um jeito de amar aberto e sem preconceitos está se disseminando nas redes sociais: é o poliamor, que “saiu do armário”, para desespero dos mais conservadores.
Em grupos secretos ou fechados no Facebook, milhares de “trisais” (“casais” formados por três indivíduos) e “quatrilhos” (quatro pessoas) defendem a possibilidade de múltiplos relacionamentos amorosos simultâneos, sempre com o consentimento de todos os envolvidos.
Eles garantem que não se trata de suruba nem poligamia. 
“A poligamia sempre foi associada aos haréns, a relações machistas entre homens e várias mulheres. Aqui os direitos são iguais e mulheres têm direito de ter quantos homens desejarem”, explicam.

Nas redes, compartilham suas fotos, dúvidas e experiências. Discutem ciúme, fidelidade e regras para relacionamentos “poli”. Detalham diferentes modelos de relações. Trocam dicas para a discussão do tema em família e tomam coragem para se assumirem publicamente.

Também, claro, aproveitam o espaço para flerte e para encontrar novos pares.
Os adeptos dizem que “a monogamia é uma invenção social.”

Famílias
“Sou casada no papel com Joviano há 12 anos. Conhecemos Daiane há sete. Há dois, moramos todos juntos. Dois filhos são biologicamente meus e dois são dela. No coração, eles são filhos dos três”, conta a dona de casa Juliana Cabral, de 30 anos, ao #SalaSocial da BBC. 

Ao lado de Daiane, Joviano e dos quatro filhos, ela diz viver uma experiência familar poliamorosa “bem-sucedida”.
Os filhos hoje aceitam bem o modelo não-convencional. “Eles dizem para os amiguinhos que têm duas mães”, conta, orgulhosa.

Mas nem sempre foi assim. “Foi difícil para o mais velho. Ele perguntou: ‘você é sapatão, mãe?’. Eu disse que não. Contei que amo estas duas pessoas igualmente, independente de gênero. Aí ele começou a relaxar.”

A dificuldade não residia só dentro da casa simples onde vivem, na cidade goiana de Aporé, cuja população não chega a quatro mil pessoas.

Preconceito
“Minha mãe deixou de falar comigo. Meu pai não toca no assunto. Às vezes, professoras nos chamam para entender como são as coisas. Tudo bem, vou e explico. Já aconteceu de uma delas, evangélica, proibir as crianças de tocarem no assunto. ‘Era pecado’. Então, mudamos de escola.”

‘Amar é natural’A principal das barreiras a se enfrentar, diz Juliana, era ela própria.”Até descobrir o grupo, eu me sentia pessoa errada. Lá que descobri que amar é natural. Então procuramos ajuda psicológica e só confirmamos isso. Se dá para amar seis filhos, por que não amar seis maridos ou esposas? O que impede a gente? Aprendi a resposta: a sociedade.”

O grupo a que Juliana se refere está no Facebook, chama-se Poliamor e reúne mais de 5 mil interessados.

“A internet me ajudou muito, moço. No começo eu tinha vergonha de dizer que era casada com um homem e uma mulher. Vendo os depoimentos, vi muita gente como eu. E era gente feliz.”

Com a ajuda dos desconhecidos da rede, vergonha se tornou orgulho. “Ponho foto no Facebook. Faço declarações. Todo mundo sabe. Nos queremos bem, não fazemos mal a ninguém e precisamos ser respeitados. Poliamor não é suruba ou safadeza. Poliamor é amor.”

Categorias
A principal dificuldade relatada nos grupos pelos novatos é identificar em qual categoria poliamorosa se encaixam.

O cardápio é vasto, e inclui triângulos abertos (por exemplo, uma mulher casada com dois homens que não se relacionam entre si), triângulos fechados (trios em que todos os membros se relacionam) a grupos em que os quatro integrantes se relacionam.

Nuno*, Lucas* e Rômulo* formam um triângulo fechado. “Esse é meu marido e esse é meu namorado”, diz o primeiro, apontando para a foto em que aparece abraçado a dois rapazes – um, com quem se casou no papel no ano passado e outro, com quem ambos se relacionam (e vivem juntos) há dois meses.

Ele conta que, uma vez juntos, precisaram conversar para definir as regras da relação para driblar o ciúme e possíveis frustrações.”O ‘contrato’ padrão dos namoros e casamentos por aí é normativo: ‘eu não traio e você não me trai’.

Quando fugimos desse padrão, precisamos colocar parâmetros: Seremos só nós três? Podemos fazer com mais gente? Sempre todos juntos ou pode separado? Tem que avisar antes ou não tem?”.

As regras, diga-se, ainda são obscuras na legislação.  

Com informações da BBC