Brasileiro se vira na crise e passa a trocar produtos: escambo

-
Por Só Notícia Boa
Imagem de capa para Brasileiro se vira na crise e passa a trocar produtos: escambo
Rosilene Lucindo - Foto: Valter de Paula||

Por Cristiane De Paula, de MG, para o SóNotíciaBoa.

Com a comida cada vez mais cara e o salário perdendo para a inflação, famílias tem feito ovos, aves e verduras virarem pão, leite, eletrodoméstico e até conserto de carro.

Sim, o brasileiro voltou a recorrer ao velho sistema de troca de produtos, para economizar em tempos de crise e na família Lucindo quase tudo ser resolve na base da permuta, do escambo.

Um casal de gansos em troca de uma antena parabólica. Foi a forma que Rosilene Lucindo, encontrou para ter um desejo realizado: instalar uma antena parabólica no sítio da família, a 45 kms de Uberlândia, em Minas Gerais.

Na padaria

Na padaria o comerciante anota em uma caderneta, o que entrega para a família e no final da semana a soma dos pães, leite e tudo mais é convertida em verduras frescas.

A família de dona Rosilene é feirante e os produtos, que são comprados na Ceasa, Central de abastecimentos da cidade, para serem comercializados na feira livre, ou os ovos da produção do sítio, viram moeda de troca.

“Assim todo mundo ganha, eu tenho o que preciso e na padaria também circula estoque. Ninguém perde e tudo tem um valor justo, minha verdura pra mim vale muito, assim como o pão que ela vende vale muito pra ela”, disse Rosilene, acostumada com essa forma de negociação.

“Até o conserto da Kombi a gente completa com verduras, e aí a gente paga por semana”, completa ela.

Foto: Valter de Paula

Rosilene Lucindo na feira – Foto: Valter de Paula

Na feira

Em Uberlândia, Minas Gerais, a modalidade de troca para adquirir produtos é evidente e mais forte nas feiras livres.

A cidade tem cerca de 340 feirantes e é difícil encontrar um deles que não faça troca para aquisição de mercadorias.

Uma prática que começou, contam os mais antigos, na relação de trabalho entre eles.

Na banca para vender queijos e polvilho, a feirante troca o que vende por verdura do feirante da barraca ao lado. “Dá certinho, eu amo verdura , minha colega ama queijo e fica tudo bem”, diz a comerciante.

Até o pastel, dona Helena Amaral Alves, uma das pasteleiras mais populares, negocia com alguns dos colegas na troca de mercadorias, ou pra casa dela, ou cebolas e tomates para a produção dos recheios.

“Eu dou desconto para meus colegas e eles me dão desconto nas verduras que preciso. Milho, tomate, cebola, tudo que preciso para fazer os recheios, as vezes até garapa para meus funcionários, é assim; uma mão lava a outra”, disse Helena.

Ela conta que pelo menos 10% do que negocia é na base da troca.

Helena e o pastel - Foto: Valter de Paula

Helena e o pastel – Foto: Valter de Paula

Coisa antiga

O escambo, permuta, ou troca é uma das formas mais antigas de negociar com pouco ou nenhum dinheiro. É à base do comércio. É como trocar pelo valor da força de trabalho.

Com esse sistema de economia popular tudo vira moeda, um negócio informal onde ninguém passa vontade, ou fica totalmente sem dinheiro.

O que pode ser economizado com serviços ou produtos, ajuda na hora de pagar as contas convencionais, de água, luz e outras necessidades da família.

Valor

O economista Carlos Diniz, lembra que o escambo se torna mais evidente quando a circulação do dinheiro fica mais difícil. O custo da moeda aumenta e por consequência, prejudica a manutenção das necessidades básicas.

O valor dos produtos passa a ser contabilizado pela necessidade e não pelo valor intermediado pelo padrão monetário e financeiro. É quando os produtos começam a adquirir valores interpessoais.

“É obvio que eu não vou trocar 10 quilos de ouro por 50 gramas de farinha de trigo, mas se você estiver no deserto você pode trocar 10 quilos de ouro por dois copos de água”, disse Carlos Diniz.

“A necessidade produz o valor do que você está comprando”, conclui ele.

Da redação do SóNotíciaBoa