Bélgica descobre proteína que previne diabetes e obesidade

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Por Só Notícia Boa
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Foto: LAURA HUSKONEN & WILLEM M DE VOS

Cientistas descobriram uma proteína que consegue prevenir o desenvolvimento da obesidade e da diabetes tipo 2, em ratos.

A descoberta da Universidade Católica de Lovaina (UCL), na Bélgica, foi publicada esta semana na revista especializada Nature.

Ela abre caminho para o desenvolvimento de um medicamento contra as duas doenças que afetam, respectivamente, 600 milhões e 400 milhões de pessoas em todo o mundo.

A proteína

Batizada de Amuc_1100, a proteína faz parte da membrana externa da bactéria Akkermansia muciniphila, que vive exclusivamente na flora intestinal de animais vertebrados, como o homem.

Ela é conhecida por sua capacidade de reduzir em entre 40 e 50% o ganho de massa corporal e de resistência a insulina.

A equipe liderada pelo professor Patrice Cani descobriu que, administrada em grande quantidade, essa proteína bloqueia completamente o desenvolvimento de intolerância a glicose e de resistência a insulina, tanto em um regime normal como em um regime rico em gordura.

Ela atua como uma espécie de barreira protetora, diminuindo a permeabilidade do intestino e impedindo que toxinas presentes na massa fecal entrem na corrente sanguínea.

“A permeabilidade intestinal é responsável pela passagem ao sangue de determinadas toxinas que contribuem para o desenvolvimento da diabete, de inflamações, para o fato de que algumas pessoas obesas sintam fome constantemente e para várias desordens metabólicas”, explicou Cani em entrevista à BBC Brasil.

Essa barreira também reduz a absorção de energia pelo intestino, resultando em menor ganho de massa corporal.

Como

Para reproduzir sinteticamente a bactéria, sensível ao oxigênio, Plovier optou pela pasteurização, um processo no qual uma substância é aquecida a 70 graus.

“Descobrimos não só que a bactéria produzida dessa maneira conserva suas propriedades, mas também que dobra em eficácia, detendo totalmente o desenvolvimento da obesidade e da diabete tipo 2, independente do regime alimentar”, afirma Cani.

Ao investigar as razões do ganho em eficácia, os pesquisadores observaram a presença da proteína Amuc_1100 ainda ativa na bactéria pasteurizada.

“Quer dizer, a pasteurização elimina o que é desnecessário na bactéria e preserva a proteína, o que explica essa eficácia multiplicada.”

Os testes

A equipe testou os efeitos da proteína isolada em três séries de testes com ratos e obteve, em todas elas, os mesmos resultados do tratamento com a bactéria Akkermansia muciniphila pasteurizada.

Submetidos a um regime rico em gordura e altamente calórico, os animais que receberam a bactéria viva ganharam menos peso e desenvolveram menos resistência à insulina que os que receberam um placebo.

No caso dos que receberam a bactéria pasteurizada ou a proteína isolada, o tratamento deteve totalmente o ganho de peso e a resistência à insulina.

O tratamento com Akkermansia muciniphila pasteurizada já foi submetido a uma primeira fase de testes em humanos e a conclusão é que sua administração não apresenta riscos para a saúde.

A prova foi realizada com quatro grupos de dez voluntários, em alguns casos durante 15 dias, em outros durante três meses, seguindo os procedimentos habituais para esse tipo de pesquisas.

Um grupo recebeu uma dose diária de um bilhão de bactérias vivas, outro 10 mil bactérias vivas, o terceiro um bilhão de bactérias pasteurizadas e o último um placebo.

Segundo Cani, nenhum dos voluntários apresentou qualquer problema.

A segunda fase de testes em humanos, para determinar os efeitos clínicos da bactéria sobre a obesidade e a diabete, deve ser concluída no segundo semestre de 2017 e contar com mais de 100 voluntários.

Remédios

Se os resultados forem positivos, será o primeiro passo para o desenvolvimento de um futuro produto terapêutico contra ambas doenças, que poderia chegar ao mercado em um prazo de cinco ou seis anos.

Já para o desenvolvimento de um remédio, os pesquisadores ressaltam que ainda é necessário testar o uso da proteína isolada em humanos e descobrir uma maneira de produzi-la em grande escala.

O processo todo poderia demorar pelo menos dez anos.

Cani pretende também comprovar os efeitos da Akkermansia muciniphila sobre outras doenças relacionadas, como alto nível de colesterol, arteriosclerose, inflamação intestinal e mesmo câncer.

Com informações da BBC