Caio volta à vida após coma: perdeu 45% do cérebro

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Por Só Notícia Boa
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Fotos: reprodução / Facebook

Superação! Um jovem de São Paulo, que ficou 60 dias em coma, voltou à vida depois de um grave acidente de moto em que perdeu 45% do cérebro e comprometeu as atividades do lado esquerdo de seu corpo.

Caio Branco, de 22 anos, emagreceu mais de 20 quilos, não falava, não respirava sozinho, teve hemorragias nos olhos e não se movimentava.

Márcia Branco, a mãe dele, ouvia dos médicos que o estado do filho era irremediável, que ele “vegetaria”.

Mas ela não perdeu as esperanças e comemorou a reabilitação do filho, depois de um tratamento que estimula a neuroplasticidade. (veja abaixo)

Nesta quarta-feira Caio Branco leu esta matéria do SóNotíciaBoa, contando a história de superação dele.

O jovem nos escreveu pelo Facebook e agradeceu por estar vivo e se recuperando:

“Cada vez que leio, lembro o quanto foi grave meu caso e preciso agradecer!! Podia estar vegetando aí! Imaginem só ! Deus me livre”, escreveu.

História

Caio sofreu um acidente com sua moto em julho de 2016. Ele tinha bebido “só um pouquinho” e decidiu ir encontrar os amigos.

O consumo de álcool no trânsito é o responsável por 42,9% das mortes em acidente sem São Paulo.

A moto do paulistano colidiu com um carro. Ele teve Traumatismo Cranioencefálico Hemorrágico e perdeu quase a metade do cérebro.

“Quando eu cheguei ao hospital, os médicos me disseram que ele tinha apenas 3% de chances de sobreviver ao acidente. Eu fiquei em choque”, contou a mãe dele, Marcia Branco, ao HuffingtonPost Brasil.

Sem chão, Márcia recorreu à fé: “Uma amiga me pediu para que eu a acompanhasse em uma igreja. [Lá]  Eu senti o poder da vida e pedi para que meu filho tivesse outra chance.”

“A cada cirurgia, tudo o que eu ouvia era que talvez ele não sobrevivesse. Eu ficava calada. Ele estava em coma, mas eu punha meditação e conversava com ele. Eu tinha a impressão de que ele não queria voltar porque ia ser muito difícil.”

Pensamento positivo

Nas redes sociais, familiares e amigos do jovem iniciaram correntes para ajudá-lo. Entre elas, houve uma doação de sangue na qual eles conseguiram doar para um banco que atende até 600 pessoas no hemocentro.

Marcia liderava o movimento e chegou a receber um “diploma” de “mãe do ano” na UTI em que o filho estava internado: “Eu parei de chorar e passei acreditar. Mobilizava as pessoas e pedia pensamentos positivos”.

A mãe sempre conversava com o filho durante o coma. Um dia ele acordou! Mas os prognósticos continuavam péssimos. Médicos falavam em que ele “vegetaria”.

Neuroplasticidade

Marcia Branco começou a buscar informações sobre o funcionamento e a recuperação dos neurônios humanos.

“Comecei a procurar sobre o que era a neuroplasticidade e como funcionava uma cabeça que perdeu metade do cerébro”

O termo “neuroplasticidade” abrange uma série de mudanças nos elementos que compõem o sistema nervoso central (SNC).

“A neuroplasticidade ocorre por toda a vida do indíviduo em resposta a estímulos extrínsecos e intrínsecos. Ela é a responsável pelo desenvolvimento e aprendizado da criança, pela adaptabilidade da espécie humana aos vários territórios do planeta e também pela possibilidade de reparos pós-danos estruturais”.

Palavras do neurologista Fabiano Moulin, da Unifesp e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

Hoje, sabe-se que um tecido neural é capaz de reagrupar e rearranjar as conexões entre os neurônios que o compõe.

Reaprender

O neurologista Fabiano Moulin, da Unifesp, diz que os principais estímulos para construir a neuroplasticidade são: a atividade física, a alimentação, a educação (incluindo números de anos estudados e de idiomas falados), além das qualidades das relações sociais.

“Vale lembrar que as terapias atuais como fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e neuropsicologia também são comprovadamente eficazes na reorganização cerebral, repercutindo na melhora clinica dos pacientes”, explica.

“O treino mental é próprio do ser humano e um dos princípios básicos do aprendizado. Tudo acontece primeiro no plano mental e depois você executa. Hoje, temos robôs e tecnologias para auxiliar nessa atividade. Mas a máquina não faz nada pela pessoa, só auxilia para que ela use o corpo da melhor forma possível”, explica Dr. André Sugawara.

De acordo com Marcia, para quem está passando por uma situação similar, o importante é não ficar parado: “A neuroplasticidade funciona. Os neurônios se transformam, reaprendem e executam. Eles vão fazendo novas funções e você tem que estimular isso constantemente”.

Alta

Caio passou por uma cirurgia de reconstrução da calota craniana. Ele deixou o hospital em novembro de 2016.

Em fevereiro de 2017 começou o processo de reabilitação na Rede Lucy Montoro.

E foi progredindo aos poucos: despertar, abrir os olhos, equilibrar o tronco e a cabeça, reaprender a se comunicar, a comer sozinho e a usar o banheiro, ficar de pé e voltar a andar.

“Ele tem uma força de vontade enorme. O melhor lugar do mundo é ao lado dele. Ele chegou zerado na reabilitação, era um morto-vivo. Ver ele hoje é de se admirar com a sua superação”, conta a mãe, orgulhosa.

O despertar

“A gente precisa despertar os pacientes. Alguns deles ainda estão no coma em nosso primeiro contato. Depois, vem o processo para que eles não estejam apenas fisicamente conosco, mas também presencialmente, de modo que a gente consiga entender as suas emoções”.

A explicação é do fisiatra André Sugawara, que trabalha há 15 anos com pacientes em reabilitação e acompanha a recuperação de Caio.

Uma pessoa em processo de reabilitação precisa ser provocada, desafiada e estimulada, respeitando-se os próprios limites.

Marcia conta que o filho teve que ter paciência para reaprender e para isso ele tem uma técnica especial: antes de tentar fazer qualquer coisa, ele imagina e mentaliza cada movimento.

Se quer se alimentar sozinho, ele busca na memória como era a sensação de segurar os talheres, qual a força que ele utilizava em suas mãos para dominar o garfo e a faca, ou até mesmo o que ele sentia após uma boa refeição

Vitória compartilhada

Caio criou a página “Caio na Real” no Facebook. Lá ele mesmo escreve, compartilha sua história e conta todo dia como vão seus avanços.

“Ele escreve o que ele está pensando, conversa, organiza a vida dele”, diz Marcia Branco.

“Ele está pesquisando a história do cérebro. O propósito dele é contar o que é a neuroplasticidade para as pessoas. É ser a testemunha de uma pessoa que perdeu metade do cérebro e está lúcido”, conta.

“Desde que ele começou o tratamento, ele ainda tem muitas dificuldades motoras e na fala. Ele saiu de uma semi-vida e hoje está ai, vivendo um dia após o outro.”

O Caio é jovem e está no início da reabilitação, mas nem por isso ele precisa parar a vida dele. A vida e a reabilitação andam juntas”, conclui o médico André Sugawara 

Acesse aqui a página do Caio no Face 

Abaixo, a página da Márcia, uma mãe exemplar, que também recebe aqui os aplausos do SóNotíciaBoa!

Com informações do HuffPostBrasil e SNB.