Aos 15 anos superou bullying, depressão e passou em medicina na USP

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Por Só Notícia Boa
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Emanuelle Passarini - Foto: Fabiana Assis/G1

Uma adolescente de 15 anos que sofreu bullying por ser superdotada e teve depressão, mudou de colégio, deu a volta por cima e passou em medicina na USP, Universidade de São Paulo, em Bauru, no interior do Estado.

Emanuelle Marie Cassin Passarini, não teve um caminho fácil, apesar de ser muito inteligente. Ela conta que sofreu preconceito de colegas e professores que não entendiam seu comportamento na sala de aula.

Enquanto a média da população tem um QI entre 90 e 110, os superdotados têm mais 130. O da Emanuelle gira em torno de 160.

“Eu ficava muito entediada porque era muito fácil. Eu ficava lendo durante as aulas”, contou.

Foi o hábito de ler em qualquer lugar – inclusive na sala de aula – o que causou mais estranheza dos colegas de escola. Professores que demoraram a entender o seu jeito e a desatenção na sala de aula.

O pior período, segundo Emanuelle foi recentemente, aos 14 anos, em uma escola particular quando colegas colocaram lixo na sua mochila e jogaram coisas na sua cabeça.

Foi aí que decidiu se transferir para a Escola Técnica Estadual (ETEC) Paulino Botelho e encontrou um sistema de ensino mais atraente ao seu perfil.

“Fui muito acolhida, as coordenadoras me incentivaram e ajudaram a me reclassificar. Tive muito amparo, elas lutaram muito por mim”, contou.

Paralelamente, passou a fazer um cursinho pré-vestibular à noite, onde também foi bastante estimulada a buscar novos conhecimentos.

Com incentivo, passou a se interessar mais pelos estudos, se tornou bolsista do CNPq e teve anos mais tranquilos na escola.

Emanuelle foi aprovada por meio Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para a primeira turma do curso de medicina da USP de Bauru, o segundo mais concorrido da Fuvest desse ano, com 105,9 candidatos por vaga, e está entre as alunas mais novas a entrar em um curso de medici

História

A garota que começou a ler com menos de 3 anos, tem duas medalhas de bronze na Olimpíada Nacional de Matemática e já foi bolsista de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Os pais, o professor universitário Luis Carlos Passarini, e a assistente administrativa Wânia do Carmo Cassin Passarini, entenderam cedo que a filha estava à frente das outras crianças.

“Ela tinha um ano e já montava quebra-cabeças para crianças de 5 e 6 anos. Começamos a observar que os coleguinhas da idade dela que iam em casa não conseguiam fazer o que ela fazia”, contou Wânia.

Como o conteúdo normativo das escolas tradicionais para as pessoas da idade dela não era suficiente, ela tentou adiantar de série, mas o procedimento é muito complicado, sendo necessária uma ampla avaliação teórica e psicológica.

Mesmo assim, Emanuelle conseguiu se reclassificar por duas vezes, entre o 5º e 6º ano do Ensino Fundamental e entre o 2º e 3º ano do Ensino Médio.

“Eu posso comparar a minha vida escolar com uma música do Paul MacCartney (‘Somebody Who Cares’) que fala que às vezes você parece um carro e que tiram as rodas quando você tem algum lugar importante para ir”.

“É muito frustrante você saber que não vai chegar a lugar algum. A minha vida escolar foi mais ou menos isso, porque eu era superdotada, eu tinha muito talento, muito para oferecer e não tinha oportunidade para exercer aquilo que eu tinha”, disse.

“Era muito entediante, muito frustrante e eu posso dizer que até um pouco letal, porque tinha dia que eu chegava em casa e eu só queria morrer para não ter precisar ir na escola no outro dia”, ressaltou.

Depressão

Ela diz que não é a única a sofrer com esse tipo de incompreensão, que causa consequências terríveis.

“Conheci muita gente que era assim. A maior parte ficou doente, desenvolveu transtornos. Eu não conheci ninguém superdotado que não tivesse depressão, transtorno de ansiedade, transtorno de pânico ou fobia social”, contou.

Emanuelle diz que o apoio que encontrou nos pais e em alguns professores foi fundamental para conseguir superar os traumas e até uma depressão.

Críticas

A adolescente acha que o sistema de ensino não está preparado para os superdotados e acaba sendo punitivo ao invés de estimulante.

“É muito triste porque você vê talentos morrendo. O Brasil nunca ganhou nenhum Prêmio Nobel e isso pode ser atribuindo ao fato de que o sistema de educação mata os gênios. É muito difícil você encarar tudo isso e decidir que vai lutar mesmo assim, que vai fazer a diferença, que não vai deixar as injustiças acabarem com você”, lamentou.

Ela diz que, agora que passou no vestibular quer fazer alguma coisa para mudar isso e melhorar a condição das pessoas superdotadas.

Com informações do G1