Islândia testa 4 dias de trabalho na semana e inspira Europa

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Por Rinaldo de Oliveira
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A prefeitura da capital da Islândia, Reykjavik, testou a redução de jornada de trabalho durante 4 anos e os resultados foram positivos - Foto: sharonang / Pixabay

Durante quatro anos, a Islândia fez um teste com a população e diminuiu a jornada para 4 dias de trabalho na semana, sem redução de salário. E o resultado foi positivo!

Além de se manterem produtivos, os funcionários ficaram mais satisfeitos, motivados com o trabalho e menos estressados.

E essa experiência de sucesso no pequeno país nórdico animou entusiastas da redução da jornada de trabalho em vários países da Europa. A ideia de reduzir um dia de trabalho na semana vem ganhando mais adeptos na Alemanha, França, Espanha e até no Reino Unido. (veja abaixo)

“É inegável e todos os trabalhos acadêmicos demonstram que há uma correlação positiva entre satisfação e produtividade”, disse o economista Erwann Tison, diretor de pesquisas do think tank Institut Sapiens, em entrevista à RFI Brasil.

“Temos experiências emergindo de todos os lados no mercado de trabalho, afinal temos a tecnologia e a vontade, sobretudo, de trabalhar de outro jeito. Mas também teremos que cuidar para que a experiência não acabe em algo completamente maluco como trabalhar quatro dias, de modo remoto, do outro lado do mundo.”

Como foi o teste

O teste na Islândia foi promovido com 1 % da população pela prefeitura da capital Reykjavik, pelo o governo islandês e dois think tanks (Association for democracy and sustainability e Autonomy).

A experiência fez 2,5 mil pessoas trabalharem 35 horas por semana, em apenas quatro dias.

O teste se concentrou no setor de serviços e envolveu funcionários públicos, privados, em escolas e em hospitais.

Também foram implementadas modificações para melhorar a produtividade, como diminuir a duração de reuniões e cortar tarefas que se revelaram inúteis.

Os empregos industriais, que tenderiam a ficar mais cansativos com o novo esquema, ficaram de fora.

Os resultados

Para os participantes, o balanço foi amplamente positivo, em especial quanto ao melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

Com três dias de descanso, as pessoas passaram a se dedicar mais aos hobbies, à família e atividades sociais, enquanto nos quatro restantes se empenharam mais no trabalho.

Por outro lado, os dirigentes e ocupantes de postos de maior responsabilidade tiveram mais dificuldade em se adaptar. ou abandonaram a nova organização – a carga de trabalho deles não cabia em apenas 35 horas semanais.

Outros, simplesmente preferiram continuar diluindo as tarefas em mais dias na semana.

“Não acho que essa medida deveria passar pela lei, em nível nacional. Ela deve ser resultado de uma negociação entre uma empresa e seus funcionários, afinal os casos são todos diferentes, de acordo com o setor, com a empresa e a vida das pessoas”, avalia Tison. “Sem contar que país nenhum poderia paralisar setores da economia por um dia inteiro.”

Inspiração na Europa

Na França, partidos de esquerda e os ecologistas prometem trazer a questão à tona já nas eleições presidenciais do ano que vem.

Os franceses já têm experiência no ramo: há 23 anos, o país adotou o regime de 35 horas semanais para abrir mais vagas de empregos. Entretanto, na prática, um trabalhador francês trabalha 39 horas por semana e, segundo o Insee (Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos), a medida gerou cerca de 350 mil empregos apenas – distante do objetivo de 2 milhões de vagas, esperadas pelos socialistas idealizadores do projeto.

No entando, o governo do presidente Emmanuel Macron avalia que o país sofre para empregar a mão de obra menos qualificada e a semana de 32 horas acentuaria o problema.

Já na Alemanha, onde uma medida semelhante foi adotada no auge da pandemia para evitar mais desemprego e a reflexão sobre a perenidade da semana reduzida se instalou.

Na Espanha, o partido Mas Pais vai lançar, nos próximos meses, um projeto parecido com o islandês, com 3 a 6 mil trabalhadores espanhóis a 32 horas por semana, durante três anos.

Cerca de 200 empresas do país participarão da iniciativa.

Na Grã-Bretanha, um grupo de 40 deputados solicitou ao governo a criação de uma comissão para analisar essa possibilidade.

“Não acho que seja uma utopia e o exemplo islandês é uma amostra. É possível realizar em qualquer lugar”, afirma Tison.

Com informações da RFI