Vacina e tratamento da Unifesp eliminam HIV de paciente há 17 meses
Será finalmente a cura da Aids? Um tratamento experimental desenvolvido por pesquisadores da Unifesp, Universidade Federal de São Paulo, está conseguindo eliminar o vírus HIV de um paciente há 17 meses.
Isso quer dizer que há quase 1 ano e meio o vírus não é mais detectado no corpo dele. Por cautela, os cientistas brasileiros evitam falar em cura da doença, mas ficaram animados com a descoberta.
O homem, que preferiu não ser identificado, descobriu que estava HIV há 8 anos. Mesmo sem tomar o coquetel de remédios há um ano e meio o rapaz permanece sem os sinais do vírus no corpo.
Ele mostrou à CNN o resultado do teste realizado este ano, que agora mostra “não reagente para HIV”. “Eu me sinto livre”, disse.
“Aqueles anticorpos que a gente usa pra falar se a pessoa tem infecção pelo HIV, ou não, eles estão diminuindo de forma progressiva [neste paciente], que é uma evidencia de que o vírus pode não estar mais ali”, afirmou o infectologista Ricardo Sobhie Diaz, que coordena os trabalhos na Unifesp e estuda o HIV desde os anos 1980.
Vacina
Para diminuir a replicação do HIV, os cientistas brasileiros criaram uma vacina produzida com o DNA do próprio paciente.
É uma vacina de células dendríticas, que consegue ensinar o organismo do paciente a encontrar as células infectadas e destruir uma a uma, eliminando completamente o vírus HIV. Em outras palavras, ela faz o sistema imunológico a reagir e eliminar as células infectadas, nas quais o fármaco não é capaz de chegar. A vacina de células dendríticas é extremamente personalizada já que é fabricada a partir de monócitos (células de defesa) e peptídeos (biomoléculas formadas pela ligação de dois ou mais aminoácidos) do vírus do próprio paciente.O tratamento da Unifesp usa essa vacina junto com uma combinação de outros remédios.
“A gente intensificou o tratamento. Usamos três substâncias no estudo, além de criar uma vacina”, afirmou o infectologista Ricardo Sobhie Diaz.
Dois grupos estudados apresentaram respostas animadoras, mas os resultados do rapaz citado no início da reportagem foram os que mais impressionaram os cientistas. Mesmo assim, o responsável pelo estudo foi cauteloso.
“Existe a possibilidade de o vírus voltar nessa pessoa, por isso o monitoramento dele vai ser de forma definitiva e muito próxima, porque no momento em que o vírus voltar, a gente tem que tratar de forma pronta”, afirmou.
O estudo
O estudo começou em 2013. Foram recrutadas 30 pessoas que tinham iniciado o tratamento contra a infecção pelo HIV recentemente.
Eram pacientes em tratamento com carga viral indetectável há mais de 2 anos, ou seja, pessoas que têm a carga viral baixa e não transmitem a doença, por mais que vivam com o vírus.
O intuito era “acelerar” o que o tratamento já estaria fazendo por estas pessoas, ou seja, diminuir a quantidade de células infectadas.
“A gente pegou pessoas que estavam tomando o coquetel e deu mais dois medicamentos pra elas. A gente descobriu um medicamento que faz com que a latência [dormência do vírus escondido] seja interrompida de uma forma muito eficiente”, afirmou o infectologista.
Próximos passos
Ricardo Sobhie Diaz disse que os estudos vão continuar. A próxima fase deve contar com 60 pessoas e vai incluir mulheres como voluntárias — a primeira fase contou apenas com homens.
Atualmente, a pesquisa está paralisada por causa da pandemia do novo coronavírus no país.
Mundo
Até hoje, dois casos de cura da Aids foram reconhecidos pela comunidade científica: Timothy Ray Brown, conhecido como “paciente de Berlim”, e Adam Castillejo, conhecido como o “paciente de Londres”.
Os dois homens foram submetidos a um transplante de medula óssea. Por uma mutação rara, eles ficaram livres do vírus HIV.
Segundo a Unaids, programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, até dezembro de 2018, havia cerca de 37,9 milhões de pessoas em todo o mundo vivendo com HIV.
79% foram diagnosticas e sabiam que tinham a doença, mas 8,1 milhões de pessoas ainda não tinham conhecimento de que estavam vivendo com HIV.
32 milhões de pessoas já morreram de doenças relacionadas à AIDS, de acordo com a Unaids.
Mas desde 2010, a mortalidade relacionada à Aids caiu em 33%, depois que as pessoas tiveram mais acesso ao tratamento antirretroviral que, aqui no Brasil é fornecido pelo SUS.
Com informações da CNN e CorreioBraziliense