Os moradores de Oklahoma City perderam juntos 450 mil quilos de gordura.
A região era uma das que tinham o maior sobrepeso nos Estados Unidos: um de cada três adultos era obeso. E estava entre as que consomem menos frutas e tem a menor expectativa de vida de todo o país.
O local era famoso por ter a maior concentração de fast food dos EUA – com 40 McDonald’s entre muitos outros estabelecimentos do tipo. Isso, até que o prefeito de Oklahoma se deu conta da própria obesidade.
Quando Mick Cornett – um ex-locutor esportivo de televisão – iniciou o primeiro de seus quatro mandatos como prefeito, em 2004, a cidade estava ainda se repondo do colapso financeiro dos anos 1980.
Mick percebeu que estava pesando 100 kg e se assustou:
“Me afetou como prefeito, e quando subi na balança me afetou pessoalmente. Sempre fiz exercício e lembro ter pensado que não comia nada entre as refeições, ainda assim consumia 3.000 calorias por dia. Na condição de prefeito, as pessoas sempre querem se reunir com você, então era normal ter um café da manhã de trabalho, depois um almoço com alguém e uma recepção para o jantar. E no meio pode haver diversas atividades com aperitivos e doces”.
Foi aí que teve a ideia de usar sua imagem pública para declarar guerra à gordura.
Ele desafiou os cidadãos a emagrecerem um milhão de libras e teve apoio da imprensa.
Mick incentivou os moradores – em suas casas e no trabalho – a mudarem o estilo de vida, enquanto eram estudadas as estatísticas para identificar os bairros com os piores dados de saúde e assim destinar para lá recursos para a mudança de hábitos.
Era uma batalha travada com — e não contra — as redes de fast food e fabricantes de bebidas doces, confiando na persuasão em vez da coação, através de impostos sobre o açúcar e a proibição do refrigerante.
Logo a cidade foi batizada como o “laboratório da vida saudável”.
Rua de Oklahoma – Foto: Kate Brady
Mudanças estruturais
O veterano político republicano também iniciou uma campanha para criação de parques, calçadas, ciclovias e caminhos panorâmicos pela cidade. Em cada colégio está sendo construído um ginásio.
Com o foco colocado sempre no exercício, os responsáveis pela cidade investiram 100 milhões de dólares para criar o melhor complexo de remo e caiaque do mundo em uma cidade do Meio Oeste sem nenhuma tradição nesses esportes.
A cidade faz parte de um dos maiores centros urbanos do país, com uma área de 1.000 quilômetros quadrados, o que significa que seus 600.000 moradores dependem completamente do carro.
Adesões à campanha
O prefeito convenceu um magnata do setor da saúde a financiar uma página informativa na Internet chamada This City Is Going On A Diet (Esta cidade está de dieta).
As igrejas organizavam clubes de corrida, as escolas analisavam seus cardápios, as empresas realizavam competições para perder peso, os chefs dos restaurantes competiam para oferecer pratos saudáveis.
“Não podia impedir que as pessoas fossem a esses locais, mas podia tentar fazer com que fossem mais razoáveis no que pediam. Não se pode mudar completamente os hábitos das pessoas”.
Em janeiro de 2012 a cidade conseguiu perder os 450.000 quilos propostos pelo prefeito: as 47.000 pessoas que tinham se inscrito no desafio perderam em média 9 quilos cada uma.
Um feito admirável em uma campanha que demonstrava sua inteligência para mobilizar a população.
Mas, apesar de toda a publicidade, a ambição de Cornett ia muito além dessa façanha: agora queria refazer sua metrópole, remodela-la para as pessoas e não para os carros. Ou, como ele diz, “devolver a comunidade para a comunidade”.
Mick Cornett em palestra no TED – Foto: Youtube
Resultados
Não há dúvida de que Oklahoma City e seu prefeito merecem um reconhecimento por sua luta contra a obesidade, una inspiração para um país tão dependente dos carros, onde dois terços da população adulta têm problemas de sobrepeso.
Um artigo publicado na revista Lancet analisou três décadas de obesidade mundial, concluindo que nenhum dos 188 países estudados havia conseguido reverter uma situação que piora a cada dia.
Embora os homens de Oklahoma vivam quase seis anos menos que a média nacional, a cidade registrou uma queda de 3% na taxa de mortalidade.
E, no entanto, ainda que o ritmo seja agora mais baixo — de 6% para 1% por ano —, a obesidade continua crescendo.
Hoje, depois de reagir e controlar o que comia, o prefeito que mudou a vida da população pesa 18 quilos a menos.
Assista à palestra dele no TED ( com legendas)
Com informações do ElPaís
