Ex-doméstica que chegou a comer restos de ossos agora será juíza

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Por Rinaldo de Oliveira
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Agora juíza, Rosilene lembra da infância difícil. A família chegou a pedir restos de ossos em açougue para se alimentar. Foto: Hériklis Douglas

De doméstica ao magistrado. A vida da baiana Rosilene de Santana Souza, 38 anos, mudou graças à educação. Ela é filha de trabalhadores rurais e deixou a casa em que morava no sertão da Bahia, aos 19 anos, em busca do sonho de estudar Direito. Ela superou todas as dificuldades e agora vai ser juíza!

Rosilene lembra da infância difícil… a família chegou a pedir restos de ossos em açougue para se alimentar. Ela dividia o mesmo tênis com a irmã para ir à escola e dormia na cozinha de uma casa onde trabalhava como doméstica, enquanto estudava.

“Ainda não acredito. Acho que a ficha ainda não caiu. Eu ainda não desabei, não chorei. Mas é gratificante olhar para trás e ver que todo o esforço valeu a pena, não foi tudo em vão”, afirmou Rosilene.

Infância difícil

A família da mais nova juíza morava em uma comunidade no município de Oliveira dos Brejinhos, no sertão baiano.

Ela e a irmã, ainda criança, chegaram a dormir no chão de uma casa de uma amiga da família, para ficarem perto de uma escola e estudar.

Rosilene chegou a ficar sem estudar quando tinha 10 anos porque não havia professor na escola da localidade. Mas isso não fez a garota desistir de alcançar seus objetivos.

“Trabalhar pela minha sobrevivência, mas estudar sempre foi meu objetivo. Foi muito difícil desde o início”.

Com apenas 12 anos, ela trabalhava como doméstica para ajudar em casa.

Direito

Aos 19 anos ela deixou o sertão baiano e foi para Colatina, Espírito Santo e tentou fazer faculdade. “Quando cheguei em Colatina, fui trabalhar em casa de família e não consegui fazer faculdade na época porque o valor que eu ganhava não era o suficiente para pagar”, lembra.

Rosilene aproveitou a oportunidade de um curso técnico gratuito de edificações que era oferecido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) de Colatina. Com o curso, ela conseguiu uma oportunidade melhor de emprego, com remuneração maior.

Trabalhando, ela entrou na faculdade de Direito, com uma bolsa de estudo com desconto na mensalidade, o que ajudou a dar o primeiro passo de uma jornada que não seria nada fácil. “Eu trabalhava das 8h às 18h, e estudava das 19h às 22h, então eu só tinha o período até 1 hora da manhã para poder estudar mais e complementar. Foi um período muito difícil”, relatou.

Agora, juíza!

Nos últimos cinco anos, Rosilene parou de trabalhar no escritório e se dedicou aos estudos.

Os livros e as apostilas impressas ainda estão todos guardados.

Ela tentou mais de 10 concursos públicos e o esforço de anos deu resultado: foi aprovada para uma vaga de juiz de Direito substituto (juiz estadual) do Acre.

Como passou em 1º lugar, a advogada — futura juíza — pode escolher a cidade onde vai trabalhar. E ela sabe que deve essa mudança de vida à educaçao.

“Vemos crianças buscando alimento para tentar sobreviver. Então falar em educação parece tão distante. Eu já passei por isso quando criança. Mas o que eu posso dizer para quem tem a mesma origem que a minha é que acredite. A educação é a única saída para nós, da nossa origem social, que não temos herança e nem com quem contar. A educação é o caminho que pode salvar vidas, assim como salvou a minha”, agradeceu.

Viva a educação!

"A educação é o caminho que pode salvar vidas, assim como salvou a minha". Foto: Hériklis Douglas

“A educação é o caminho que pode salvar vidas, assim como salvou a minha”. Foto: Hériklis Douglas

A família da mais nova juíza morava em uma comunidade no município de Oliveira dos Brejinhos, no sertão baiano. Foto: Arquivo Pessoal

A família da mais nova juíza morava em uma comunidade no município de Oliveira dos Brejinhos, no sertão baiano. Foto: Arquivo Pessoal

Com informações de Notícias Bahia