São Paulo vai testar vacina contra crack e cocaína feita pela UFMG

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Por Renata Giraldi
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Agora com a parceria entre a UFMG e a prefeitura de São Paulo, a vacina brasileira contra cocaína e crack poderá ser testada em humanos - Foto: Reprodução/UFMG.

A Prefeitura de São Paulo fechou parceria e vai testar em humanos a vacina contra crack e cocaína desenvolvida pela UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais.

A vacina Calixcoca é finalista em uma premiação internacional Euro Inovação na Saúde. Ela produz anticorpos anticocaína no organismo para tratar dependentes químicos.

Para o projeto em São Paulo, a prefeitura vai apoiar a produção do imunizante, que se mostrou ser capaz de bloquear o efeito das substâncias ativas das drogas em testes com ratos.

Ação conjunta

O pesquisador-chefe do projeto ressaltou que, nos testes realizados, os anticorpos produzidos pela Calixcoca criaram, a partir de uma molécula sintética, uma barreira que impediu que a cocaína fosse levada pelo sangue até o sistema nervoso central e o cérebro, interrompendo o mecanismo que provoca a compulsão pela droga.

A parceria para testar a vacina revolucionária em humanos foi definida durante reunião, nesta quinta-feira (1º), em São Paulo.

Participaram o pesquisador-chefe do projeto da vacina, professor Federico Garcia, com os secretários municipais da Saúde, Luiz Carlos Zamarco, e de Governo, Edson Aparecido, o chefe de gabinete da gestão municipal, Vitor Sampaio, e o coordenador da Vigilância em Saúde, Luiz Artur Caldeira.

Perspectivas

Na próxima etapa das pesquisas em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), responsável pelo Programa Municipal de Imunizações (PMI), será avaliada, conforme o progresso dos estudos, a aplicação do imunizante em pequenos grupos.

A possibilidade é aplicar em dependentes químicos em fase de recuperação.

Se bem-sucedida, poderá ser determinante para ajudar no tratamento de dependentes de crack e cocaína que, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), respondem por 11% da dependência química no Brasil.

“Será, entre outros avanços científicos, um movimento para recuperação psicossocial e reintegração de dependentes químicos à sociedade”, diz o secretário Luiz Carlos Zamarco.

Para o governo municipal, a produção da vacina chega em boa hora.

“O prefeito Ricardo Nunes determinou apoio irrestrito, tanto técnico como financeiro, para viabilizar e acelerar as próximas fases da vacina, que poderão custar, inicialmente, R$ 4 milhões”, disse Vitor Sampaio.

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Dependência química é doença

A dependência química é considerada, na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da Organização Mundial da Saúde (OMS), como doença.

Para os especialistas, a dependência química reúne um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido de determinada substância.

A dependência pode dizer respeito a uma substância psicoativa específica (como o fumo, o álcool ou a cocaína), a uma categoria de substâncias psicoativas (por exemplo, substâncias opiáceas) ou a um conjunto mais vasto de substâncias farmacologicamente diferentes.

No Brasil, em 2021, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool. O número, infelizmente, aumenta anualmente.

Acolhimento aos dependentes

Desde o começo do ano a Prefeitura de São Paulo e o governo do estado intensificaram a campanha e acolhimento aos dependentes químicos.

Um serviço de atendimento específico para os usuários de crack e cocaína foi disponibilizado, é o Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas, no bairro de Bom Retiro, que ampliou as ações do antigo Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod).

Há, ainda, o Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica (Siats), o Serviço de Cuidados Prolongados, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) e os CAPS Álcool e Drogas.

Também existem 1022 vagas no Programa Redenção e mais 1300 vagas das comunidades terapêuticas, parceiras do Governo do Estado e que estão disponibilizadas também para a Prefeitura.

A novidade pode mudar a vida de usuários que buscam uma nova chance para sair da dependência e iniciar uma vida livre das drogas. Foto: Reprodução/Hospital Santa Mônica.

A vacina contra crack que será testada em humanos em São Paulo pode mudar a vida de usuários que buscam uma nova chance para sair da dependência. – Foto: Reprodução/Hospital Santa Mônica.