Sobrevivente da chacina da Candelária se torna artista plástica de fama mundial

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Por Rinaldo de Oliveira
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A artista plástica Elenice Nogueira morava na rua quando aconteceu a chacina da Candelária e escapou por pouco do triste episódio. Fotos: Zô Guimarães/UOL

De sobrevivente da chacina da Candelária a artista de reconhecimento internacional.

Em 1993, o Brasil se comovia com o massacre que marcou as escadarias da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro (RJ), com o assassinato de oito crianças que dormiam na rua. A artista plástica Elenice Nogueira morava na rua quando aconteceu a chacina e escapou por pouco desse episódio horrível da história do Brasil, que completará 29 anos em julho.

“Estava há poucos metros dali. Conhecia as vítimas e ainda tenho contato com alguns sobreviventes, mas não deixei esse episódio me derrubar”, afirmou. Hoje, Elenice tem obras espalhadas pelo mundo e até já foi convidada especial da Casa Branca nos EUA. Conheça a história dessa vencedora!

Como foi parar nas ruas

Aos 15 anos, Elenice perdeu o pai para o derrame. A morte de seu grande amigo fez com que ela procurasse as ruas para fugir da sua dor.

“Fiquei revoltada com a morte do meu pai porque éramos muito amigos. No dia do enterro, em Irajá, quando o vi, fiquei desestabilizada e saí correndo. Peguei um ônibus atrás do outro e não queria mais voltar para casa. Larguei estudos, cursos, tudo”, contou.

Como a relação dela com a mãe era bem conturbada, Elenice passou a dormir no Aterro do Flamengo, na zona sul. “Meu pai levava muita a gente ao Monumento dos Pracinhas para ver os barcos ancorados”, lembra.

Medo de dormir nas ruas

Elenice contou que andava com o grupo da Candelária, mas como criavam muitos problemas com os lojistas, preferia andar e dormir sozinha.

“Nunca consegui relaxar, deitar e dormir por medo de tomar uma tijolada na cabeça ou dos anjos da noite, que eram seguranças da rua que davam porrada à toa”.

Na hora em que aconteceu a chacina da Candelária, Elenice estava a poucos metros, conversando com os taxistas do aeroporto Santos Dumont.

“Quando cheguei, vi a movimentação da polícia e fui embora porque percebi o terror e fiquei com medo que dissessem que eu fazia parte do grupo assassinado”.

A virada na vida veio com uma ajuda especial

Elenice cresceu fazendo aulas de músicas e participando de projetos sociais. Mas, com a morte do pai, largou tudo.

Porém, sua vida ganhou uma nova chance ao conhecer uma jornalista alemã, a Astrid Prange, que passou a dar aulas de violino para ela. Ela ainda pagou um curso de desenho e fez a jovem voltar a estudar.

“Graças a Deus participei de projetos sociais até a quinta série. E estudei em uma escola municipal em Acari onde se ensinava técnicas agrícolas e comerciais, artes industriais, educação para o lar e artes. Por isso, nunca fiz nada errado. Até na antiga Funabem (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor), onde fiquei por oito meses, estudei. Fiz cursos como lapidação em pedra. E nunca sofri violência”.

Universidades renomadas

Depois que retomou o rumo da vida, Elenice passou em Artes Plásticas e História da Arte na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ela também estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e se tornou assistente do artista plástico Orlando Mollica.

Hoje ela vive da arte!

“Apesar de tudo, hoje consigo me sustentar com a minha arte. Ilustrei incontáveis livros, e tenho um publicado, “O velho tênis novo”, que já ficou entre oito obras de autores negros mais vendidas no Brasil”.

Que história e que virada! Veja a importância de ter uma nova chance, uma oportunidade!

 

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Com informações de Portal Geledés