Empresário descobre talentos na periferia, levanta autoestima e lança modelos no DF

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Por Rinaldo de Oliveira
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Talentos na periferia! Modelos descobertos no DF: Kairon, ex-obeso, Deny sofria bullying e Iranel, que veio do Haiti - Fotos: divulgação

Sim, existem talentos na periferia! A beleza está em todo lugar e em todas as classes sociais. O que falta é mostrar, ter um olhar para elas e dar oportunidade. É isso que o Suburbanos Fashion está fazendo no Distrito Federal: resgatando a autoestima de pessoas do chamado “subúrbio” e permitindo que elas mostrem sua beleza, muitas vezes reprimida, escondida no próprio preconceito cultural.

Hoje você vai ver no Só Notícia Boa a história de seis pessoas que deixaram de acreditar em si mesmas, foram resgatadas e estão brilhando como modelos de passarela, comerciais e fotos artísticas. Algumas já ganhando dinheiro e vivendo disso, inclusive.

“São pessoas que saíram da depressão, que saíram do quarto escuro, estavam com autoestima baixa, pessoas que sofreram bullying, racismo, homofobia…. é um resgate da autoestima. Eles saem bem melhores depois de aprender a desfilar, se produzir e brilhar na passarela”, contou o criador do projeto, o modelo e empresário Adriano Lugoli em entrevista ao Só Notícia Boa. (veja abaixo as histórias de superação)

Ele, que também foi resgatado, mas do submundo das drogas há 10 anos, criou a Lugoli Company, uma agência focada na diversidade e que prepara pessoas para um futuro diferente, com dignidade.

Desfile da mudança

“A beleza verdadeira vem de dentro para fora, então buscamos a linguagem do diálogo e do amor para trazer para fora essa beleza. Cada um de nossos modelos tem uma história de mudança para contar”, afirmou.

No último fim de semana, Lugoli uniu seus modelos e fez um desfile emocionante com todos eles no Complexo Cultural de Samambaia, a 33 Km de Brasília.

Entre os destaques do desfile, o ex-servente de pedreiro Michael Douglas Gois – que revelamos aqui no Só Notícia Boa – um jovem de 30 anos que mora no Guará – I, que está desempregado e faz entregas como motoboy para sobreviver. E logo na primeira vez, MD, como é chamado, arrasou na passarela e já começou a receber os primeiros convites para fotos.

Veja as fotos e histórias de superarão de outros modelos que conhecemos no desfile de Lugoli:

Talentos na periferia: o modelo Kairon, que sofria por ser obeso hoje brilha nos ensaios e vive da moda - Fotos: divulgação

Talentos na periferia: o modelo Kairon, que sofria por ser obeso hoje brilha nos ensaios e vive da moda – Fotos: divulgação

É impressionante a transformação do Kairon Angelo, de 27 anos, (foto acima) um morador do Guará (DF) que hoje vive da moda, de ensaios fotográficos e de campanhas publicitárias. Ele fez o curso de modelo de Lugoli.

“Sou ex-obeso, eu estava com 115 Kg. Desde criança eu tinha a autoestima baixa, sofri muito com isso na escola. Eu era motivo de piadas constantes, pela cor da pele, pelas fisionomia negra, pelo nariz e boca grandes. Com isso fui me esquecendo, deixei de gostar de mim, do meu corpo, engordei e cheguei a ficar obeso. Estava entrando em um estado de depressão, não estava feliz comigo […] Foi quando decidi mudar, mudar minhas atitudes, minhas amizades, e comecei a treinar e buscar uma melhora pro meu corpo e da minha mente. Fiz uma reeducação alimentar, comecei a praticar atividade física, me afastei de gente que só me colocava pra baixo e [comecei] a me amar. Depois de muita luta comecei a ver os resultados. Meu corpo e minha mente foram se transformando e isso foi magnífico! Meu amor pela minha vida aumentou e surgiu a oportunidade de ser modelo [com Adriano Lugoli]. Minha vida se transformou a arte me salvou e hoje sou muito feliz com minha vida, com meu trabalho de modelo e com o jeito que vivo… O que aprendi é que independentemente do que nos falam e do tanto que tentam acabar com você, você pode!! Você é incrível e magnífico, corra atrás dos seus sonhos e objetivos, porque você merece”, contou Kairon em depoimento ao Só Notícia Boa.

O modelo Joseph é muito requisitado para testes, mas não consegue ir aos castings porque não pode faltar no trabalho como cozinheiro - Fotos: divulgação

O modelo Joseph vive na periferia do DF. É muito requisitado para testes, mas não consegue ir aos castings porque não pode faltar no trabalho como cozinheiro – Fotos: divulgação

Iranel Joseph, é do Haiti e trabalha como cozinheiro no DF

Quem vê toda beleza e músculos do Iranel Joseph (foto acima) não imagina o tanto de sofrimento que esse homem do Haiti já passou. Ele está com 31 anos, é tímido, fala português arrastado e ele tenta reconstruir sua vida no Distrito Federal.

“O que eu passei foi terrível, amigo. Nem quero relembrar. Foi tanto sofrimento, nem quero lembrar entendeu? Aí eu cheguei aqui no Brasil. Aí já fiz de tudo. Trabalhei como chapeiro, cozinheiro, garçom… pra quem precisa não tem escolha não”, lembrou Joseph à nossa reportagem.

Adriano Lugoli revelou que o Joseph é bastante requisitado para testes de comerciais e fotos pela beleza exuberante que apresenta, mas nem sempre consegue ir porque precisa trabalhar para pagar as contas, aluguel e se alimentar. E faltar no emprego para fazer testes – que nem sempre se tornam contratos – para ele é arriscado demais. É sinônimo de desconto do dia no salário no fim do mês. “Uma pena, porque ele tem um talento incrível e nem sempre consegue participar dos castings pessoalmente”.

E se tem outra coisa que o Joseph tem, além da postura e da beleza, é a gratidão! Falar com ele chega a emocionar.

“Eu consegui entrar na moda por causa do Lugoli que me ajudou muito e é um cara que eu nunca vou esquecer na minha vida”, disse Joseph em entrevista ao Só Noticia Boa.

A modelo Deny Santos é diarista para pagar faculdade, sofria bullying e tentou suicídio até se encontrar na moda - Fotos: divulgação

A modelo Deny Santos é diarista para pagar faculdade, sofria bullying e tentou suicídio até se encontrar na moda – Fotos: divulgação

Deny Santtos, diarista, sofria bullying, tentou suicídio e se encontrou nas passarelas

A história da maranhense Deny Santtos, diarista, 29 anos, é a de muitas mulheres pretas espalhadas por este Brasil, que tem tanto preconceito cultural. Moradora do Jardim Botânico, em Brasília, ela não se deu por vencida e hoje trabalha como diarista para pagar a faculdade de Educação Física e virou uma modelo de passos fortes e muito expressiva.

“Eu desde criança sempre fui muito insegura, por sofrer muito preconceito com minha cor, cabelo e inúmeras situações horríveis de contar. Na adolescência eu era a menina que todos zoavam. Na juventude não foi diferente, eu odiava fotos por achar que era feia. Minha primeira foto eu tirei tinha 15 anos. Aos 18 fiz um ensaio fotográfico que ganhei de um sorteio eu comecei a gostar um pouco de mim, mas não o suficiente. Em 2017 conheci uma pessoa que destruiu com minha autoestima […] tive início de depressão, só queria chorar e ficar deitada. Tentei suicídio uma vez, perdi meu emprego de vendedora no shopping. Tive apoio de um amigo que me ajudou muito na época com apoio moral, eu melhorei, voltei à vida. Em 2019 tive uma ectópica, uma gravidez tubária. Quase perdi a vida por falta de atendimento no hospital que disseram que não era nada […] Eu fiquei muito triste, não conseguia me olhar no espelho […]  por não aceitar ter uma cicatriz de cesária no meu corpo, sem contar nos problemas pós operatórios que tive, eu estava deprimida insegura precisei fazer terapia pra melhorar […] Já estava desistindo, quando recebi um convite pra ser modelo da fotógrafa @fografia_izabel. Isso floresceu o desejo novamente e ano passado (2021) eu conheci o Lugoli em um salão de beleza. Ele estava promovendo um desfile do Dia da Consciência Negra e quis muito participar. […] No início deste ano ele abriu vagas para um curso (Suburbanos Fashion) e eu sem pestanejar logo me inscrevi, e foi a melhor coisa que fiz. Me sinto segura de mim mesma, minha autoestima está lá encima e hoje tenho forças pra ir contra qualquer comentário maldoso de pessoas que não acreditam em mim. Eu pretendo continuar no mundo fashion e espero ter muitas oportunidades futuras, porque eu agora sei do meu potencial do que mereço, e o mundo é todo meu”.

Manu Oliveira, mulher-trans, foi violentada, teve tentativa de suicídio e voltou a sorrir após virar modelo - Fotos: divulgação

Manu Oliveira, mulher-trans, foi violentada, teve tentativa de suicídio e voltou a sorrir após virar modelo – Fotos: divulgação

Manu Oliveira, mulher-trans violentada, tentativa de suicídio

Manuella Oliveira (foto acima) tem 32 anos, é de Brasilia e já viveu os maiores horrores da vida. Até que foi resgatada, se descobriu como modelo e começou a enxergar um novo horizonte nessa vida.

“Sou uma mulher-trans e desde muito jovem não me reconhecia no corpo no qual eu nasci. Sempre me identifiquei como uma menina, amava brincar de bonecas, de casinha, vestir as roupas da minha irmã, era fã da Maria do bairro, amava imitá-la rs. Tentei esconder esse meu lado feminino da minha família de todas as formas, mas era inevitável a não percepção, eu era uma criança muito delicada e afeminada. Sofri muito bullying na escola, morria de medo de ir ao banheiro e os meninos me baterem, então por diversas vezes, fazia necessidades na roupa, e a diretoria nada fazia porque a “errada” na história até então era eu. O tempo foi passando […]  fui brutalmente violentada por 2 pedreiros, que faziam uma obra próxima de onde eu morava. Ali acarretou marcas profundas no meu corpo e na minha Alma. Me tornei uma criança depressiva, perturbada, extremamente agressiva […] Quando me assumi para minha família […] foi aquele choque, família extremamente conservadora católicos […] Como eu era muito jovem, mal tinha terminado os estudos, e sabemos o país preconceito no qual vivemos, ninguém quis me empregar. Então infelizmente fui covardemente empurrada ao mundo da prostituição. Vivi as maiores atrocidades que se possa imaginar, drogas, corrupção, cafetinagem, tráfico, abusos […] sofri agressões físicas, psicológicas, comecei a ter crise de ansiedade e do pânico fortíssimas, comecei a tomar remédios controlados, tentei o suicídio. Mas nunca perdi minha fé em Deus. Sempre pedia a ele que me tirasse dessa vida horrível que eu levava. Até que tive a grande oportunidade de conhecer a medicina da ayahuasca [e tive] meu verdadeiro renascimento das cinzas, surgi como uma Fênix, e nessa linda consagração conheci esse grande irmão, esse ser de Luz Adriano Lugoli. […] Ele me propôs [entrar no] mundo da moda e para mim está sendo uma vitória transitar nesse novo universo maravilhoso. […] E esse está sendo o meu grande recomeço, está sendo a virada de chave na minha vida, uma grande oportunidade para muitas (os) que passam pelo o que passei. Essa oportunidade está me renovando como pessoa, está ajudando bastante na minha aceitação física do jeitinho que sou, elevando cada vez mais a minha autoestima”

Ana Clara, de 13 anos, sofria com baixa autoestima - Fotos: divulgação

Ana Clara, de 13 anos, sofria com baixa autoestima – Fotos: divulgação

Ana Clara, 13 anos, baixa autoestima

A vida da adolescente Ana Clara (foto acima), de 13 anos, moradora do setor O da Ceilândia, DF, virou de cabeça para baixo nesta pandemia. A estudante da 8ª série no Centro de Ensino Fundamental 12 de Ceilândia contou para o Só Notícia Boa que era uma menina comum…

“Eu era estudiosa, alegre, brincalhona e frequentava a igreja. E quando começou a pandemia, fiquei muito tempo presa em casa, meus pais viviam discutindo […] Com o passar do tempo veio a separação, minha mãe foi morar no Ceará e resolvi ficar com meu pai […] Fui ficando rebelde, desobediente, depressiva e de querer ficar muito tempo brincado na rua. Cheguei até a fugir de casa por algumas horas até me acharem andando na rua […] Nas minhas férias continuei depressiva, não gostava nem de ficar tirando fotos, tinha autoestima baixa e sem vontade de estudar. Então meu pai viu na internet um anúncio de um projeto que trabalhava etiqueta em passarela, design, moda e automaquiagem (Suburbano fashion), e como sempre gostei de maquiagem, e meu sonho era um dia virar modelo resolvi se inscrever, e para minha alegria gostaram do meu perfil […] Durante o curso fui perdendo a minha timidez graças aos meus amigos e professores Adriano Lugoli, Karen e Vinicius, que vou levar para vida toda. O curso me ajudou a ter mais confiança em mim, melhorou minha autoestima. [Hoje] gosto de ser fotografada e amo desfilar […] Voltei a ter interesse em estudar, e estou muito feliz comigo mesma, e quero seguir a vida de modelo”.

Bia costa, de 18 anos, Bia Costa, saiu da depressão e ansiedade depois que virou modelo - Fotos: divulgação

Bia Costa, de 18 anos, saiu da depressão e ansiedade depois que virou modelo – Fotos: divulgação

Bia Costa, saiu da depressão e ansiedade

A Bia Costa, estudante do Ensino Médio, tem apenas 18 anos e já sabe o que é depressão e ansiedade. Ela é de Samambaia (DF) e disse que “a moda foi a cura” para ela.

“Eu era uma pessoa muito tímida, tinha muito medo. Eu vivia em estado de depressão, tinha crises muito fortes de ansiedade, estava começando a ficar muito acima do peso, e não conseguia ver uma forma de melhorar, de conseguir me ajudar. Eu tinha vontade de mudar, mas não tinha coragem. A moda para mim tá sendo minha “cura”. Sentir a experiência das pessoas te vendo como uma inspiração, mostrar que todos podemos ser alguém melhor, influenciar as pessoas a se amarem, a ser quem elas realmente querem ser. Isso pra mim é gratificante, e descobri isso com a moda, que eu posso ser quem eu sou, sem medo”.

O empresário Adriano Lugoli com seus modelos descobertos na periferia - Foto: divulgação

O empresário Adriano Lugoli com seus modelos descobertos na periferia – Foto: divulgação

Kairon, Matheus, Michael Douglas e Iranel Joseph - Foto: divulgação

Talentos na periferia do DF: Kairon, Matheus, Michael Douglas e Iranel Joseph antes do desfile da Suburbanos Fashion – Foto: divulgação

 

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