Apaixonado por livros, ex-cobrador monta bibliotecas móveis em paradas e bikes

Um apaixonado por livros, alfabetizado aos 13 anos, se encantou assim aprendeu a ler e escrever e decidiu fazer alguma coisa para levar esse mundo de sonhos a outras pessoas.
O maranhense Antônio da Conceição Ferreira, ex-cobrador de ônibus em Brasília, criou as bibliotecas itinerantes nas paradas de ônibus. O sucesso foi tão grande que ele virou “gestor cultural” da empresa que trabalhava na capital federal. Agora Antonio quer ampliar e criar bicicletas que servirão como bibliotecas!
“Depois que constatei a diferença de comunicação das pessoas que liam daquelas que não liam, tive a ideia para não deixar minha timidez passar a meu filho. Logo que coloquei os livros para emprestar no meu horário de trabalho de cobrador de ônibus”, contou.
A leitura
A estante foi improvisada, feita com material reutilizado de um porta revista, e com apoio de universitários que se encantaram com o projeto, “Seu Antônio do Livro” ficou conhecido na capital.
“Uma aluna de biblioteconomia da UnB [Universidade de Brasília] gostou tanto que tirou foto e levou para fazer um trabalho acadêmico”, disse.
Extremamente cuidadoso com as palavras, Seu Antônio do Livro, como é conhecido, resume o que a leitura representa na vida de quem cria o hábito.
“A pessoa que lê compartilha com quem não lê, por meio da comunicação falada, entre diálogos acontecidos em vários contextos sociais. Assim, um ser humano troca conhecimento com outro por meio de interação social falada e, com isso, cresce o conhecimento, espalhando-se entre os humanos”, observou.
Desde 2015, foram arrecadados mais de 179 mil livros. Infelizmente após a pandemia da Covid-19, o projeto foi paralisado. As estantes foram retiradas dos coletivos.
Porém, Seu Antônio do Livro está confiante no retorno da proposta. “Estamos em processo de retomada”, garante a empresa.
Do sonho à realidade
Inspirado na própria paixão pela literatura, Seu Antônio do Livro montou “bibliotecas” itinerantes para difundir o hábito da leitura. O projeto Cultura no Ônibus começou em 2003. Lá, no começo, eram livros guardados em caixa de sapato ao lado da roleta do ônibus.
A ideia chamou a atenção da empresa onde trabalhava, a Viação Piracicabana, e o rodoviário foi liberado da função para atuar como gestor cultural.
Natural do interior do Maranhão, ele começou a trabalhar ainda na infância para ajudar os pais agricultores. Sempre estudou em escolas públicas. O hábito de leitura começou com páginas de jornal que seu pai trazia como embalagem de compras.
A grande mudança da vida de Seu Antônio do Livro foi depois de “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, que conta as aventuras de meninos em situação de rua na Bahia. Ele já estava em Brasília. Para o maranhense, havia semelhanças entre os anseios dos garotos do escritor baiano e os sonhos dele.
O ex-cobrador fez três semestres do curso de administração, além de ter frequentado – como aluno especial – algumas disciplinas dos cursos de biblioteconomia e letras da UnB.
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Do ônibus à bicicleta
Como extensão do projeto Cultura no Ônibus, Seu Antônio criou o Cultura na Bicicleta. Pedalando a própria bicicleta, ele promove empréstimos de obras literárias em Sobradinho.
“Assim que terminar de organizar o espaço do projeto Cultura na Bicicleta, que aumentará a variedade de livros”, disse. “O objetivo é chegar a todas as cidades do DF.”
Para o futuro, Seu Antônio planeja investir em reciclagem de bicicletas infantis e distribuí-las a crianças carentes. Com a iniciativa, ele espera facilitar a mobilidade urbana e rural e, com isso, estimular a leitura, por meio de eventos, onde serão entregues as novas bikes.
Servição
- Como doar os livros e bicicletas?
Entrar em contato com Antônio pelos telefones (61) 99207-9279 e 98139-2158.
- Como funciona o empréstimo?
As condições para empréstimo do Cultura na bicicleta e a data de devolução podem ser combinados com o próprio Antônio

Com informações do Correio Braziliense