Implante de retina restaura visão de paciente pela primeira vez

Pela primeira vez, cientistas conseguiram devolver parte da visão a pessoas que viviam com cegueira causada por uma doença degenerativa da retina. O resultado foi alcançado com um implante eletrônico de retina que substitui as células destruídas pela degeneração macular, condição comum em idosos. O experimento, publicado no The New England Journal of Medicine, está sendo considerado um avanço histórico na oftalmologia.
A doença, conhecida como atrofia geográfica, ocorre quando as células responsáveis por captar luz no centro da retina morrem, deixando uma mancha escura no campo de visão. Com o tempo, os pacientes perdem a capacidade de ler, reconhecer rostos e se locomover com segurança, embora mantenham alguma visão periférica.
No novo estudo, 32 pessoas receberam o implante e, em 27 delas, houve melhora significativa. Ainda que a visão obtida seja limitada, em preto e branco e com alcance pequeno, os participantes conseguiram ler e identificar letras, algo que antes era impossível.
Tecnologia pioneira
O implante criado pelos pesquisadores é um chip minúsculo e extremamente fino, colocado diretamente na retina para substituir as células mortas. Ele funciona junto a uma câmera acoplada a um par de óculos especiais. Essa câmera capta as imagens do ambiente e as envia ao chip em forma de luz infravermelha.
Os sensores do implante transformam essa luz em sinais elétricos, que estimulam os neurônios ainda ativos da retina, permitindo que o cérebro volte a processar parte das imagens. Com o novo sistema, os pacientes recuperaram, em média, cinco linhas de visão nas tabelas oftalmológicas usadas em consultórios.
O resultado foi classificado por especialistas como um dos maiores avanços recentes na área de próteses visuais. Demetrios Vavvas, diretor do setor de retina do Massachusetts Eye and Ear, afirmou que o projeto representa o que há de mais moderno na ciência ocular.
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Tratamento para casos específicos
O implante foi testado em pacientes com média de 79 anos e cegueira causada pela perda de fotorreceptores, as células que captam a luz. Por isso, o tratamento não se aplica a outros tipos de deficiência visual.
Atualmente, existem apenas medicamentos injetáveis capazes de retardar o avanço da degeneração macular, como o pegcetacoplan e o avacincaptad. Eles não impedem a progressão da doença, apenas reduzem a velocidade da perda de visão.
Segundo o oftalmologista Royce W. Chen, da Universidade de Columbia, muitos pacientes acabam buscando terapias alternativas sem comprovação científica, o que torna essa nova opção especialmente promissora.
Efeitos e próximos passos
Durante o estudo, 19 participantes tiveram efeitos adversos, entre eles aumento da pressão ocular e pequenos sangramentos, mas todos os casos foram controlados em poucas semanas. Apesar disso, os resultados chamaram a atenção de pesquisadores de todo o mundo.
O dispositivo foi desenvolvido originalmente pela empresa francesa Pixium Vision, que encerrou suas atividades em 2024. A tecnologia foi adquirida pela norte-americana Science Corporation, responsável pelos testes clínicos realizados na Europa.
A empresa já solicitou autorização para comercialização no continente e negocia com a agência reguladora dos Estados Unidos para liberar estudos no país.
O físico Daniel Palanker, da Universidade de Stanford, é o criador do implante. Ele contou que começou o projeto há mais de duas décadas e que já trabalha em uma versão de alta definição, atualmente em testes com animais de laboratório.
