O amor foi mais forte que o cigarro. E ela garante: vai largar o vício

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Comercial
Por Roberto Garini
Morava em uma cidade muito pequena, tipo Rio Verde, cidade de turismo bem do interior.
As pessoas vão para essas cidades, ficam dois ou três dias e se vão. Não dá tempo de fazer amizade com os de fora. Os locais conhecem-se a todos.
Silvia morava com uma amiga, que já até parecia irmã.
A rotina era a mesma: escola, casa, ginástica e raramente o cinema, pois só tinha um na cidade.
Agora com 17 anos, já se sentia meio dona do próprio nariz, e só voltava a ser uma adolescente e totalmente dependente, quando o pai vinha de supetão, para ver como andavam as coisas.
A conversa sempre terminava com a mesma pergunta:
– Arrumou namorado, quando é que vai casar ?
A resposta também sempre a mesma:
– Penso nesse trem não, uai !
O Goiano emprestou algumas expressões do mineiro e “trem” serve para designar coisas ruins e boas, palpáveis e abstratas, enfim, todas as coisas que Deus criou e até ele próprio.
Mas um dia chegou à cidade um jovem que tinha ido morar fora.
Estudado, era engenheiro, boa família, bem apessoado, idade ideal para casar, 30 anos e conhecia o mundão: tinha morado na Inglaterra por alguns anos.
Esse sim, um “trem bão”, que toda “menina mulher” desejava.
A cidade entrou em alerta máximo.
Todas queriam conhecer o tal moço que acabara de chegar.
O destino o levou a entrar em um escritório de contabilidade para acertar seus ponteiros com o leão.
La estava Kátia, toda solícita a resolver o problema do recém chegado.
Mas Kátia não entendia só de contabilidade, tinha forte tendência a arrumar namorado para as amigas, um jeito de enturmar as pessoas e se enturmar em vários grupos: era a diretora social da pequena cidade.
Entre fazer o imposto de renda dele e convidá-lo para o cinema com umas amigas, foi um segundo, tinha prática nisso.
E no mesmo segundo pensou em Silvia: um prato cheio para não ter que dar mais explicações ao pai, que toda visita terminava com a frase:
– Se continuar assim no próximo fim de ano vai embora comigo. Filha minha tem que casar!
Tudo arranjado, foi Silvia ao cinema, embora reclamando da idade do moço.
– Ele é velho para mim Kátia !
Não havia mais jeito: se encontraram, assistiram ao filme e ao final da seção ela saiu rapidinho para fumar, pois duas horas de cinema dá mais vontade ainda.
Decepção total para ele.
Geração saúde, nunca tinha posto qualquer droga na boca, bebia raramente… era um verdadeiro desportista, sem praticar nenhum esporte.
A semana seguinte foi desastrosa, pensava como ia ser, o que faria no segundo encontro, como ia proceder com o vicio dela.
Para não perdê-la, pois tinha se apaixonado, resolveu aprender a fumar.
Sábado seguinte, tudo igual, encontro, cinema, filme, a pressa de sair para fumar e então ele lhe pede um cigarro, acende, dá duas tragadas e pronto.
Seus olhos se enchem de lágrimas, ele fica completamente zonzo e tem uma forte tontura.
Todos os que estavam por perto o acodem, mas Silvia se põe a rir: acabava de descobrir que o pretendente estava mesmo na dela.
Uns quinze minutos depois, já refeito, ele olha para Silvia e faz um pedido.
– Se a gente casar você promete para mim fumar só no jardim lá de casa e nunca dentro?
A resposta foi um sim, com a cabeça.
A próxima pergunta também aceita resultou na filha Sara e um monte de anos juntos, fumando somente no jardim.
Agora ela tá pensando em parar definitivamente, porque a filha acha que fumar é coisa de velho: tá completamente “out.”
E sabe muito bem que quem não fuma vive mais 10 anos.
roberto.garini@sonoticiaboa.com.br