Não basta ser pai, tem que levar para a escola

Por Roberto Garini

Esta frase é de minha filha, aos 8 anos de idade, querendo chamar minha atenção para que a levasse para a escola.

Mas a frase é boa até hoje, depois de vinte e tantos anos.

Não basta ser pai, tem que levar a filha para as baladas.

Não basta ser pai, tem que levar e trazer as amigas.

Afinal, não basta ser pai, tem que ser avo também.

Assim é a vida do pai.

Diferente da mãe, pois mãe tem os filhos nas entranhas: sente crescer, sente tornar-se vida.

Pai não. Tem que fazer um pouco mais. Ele vê crescer, ele vê e não sente tornar-se vida.

Por isso e muito mais, pai não pode ser só pai, não basta só olhar, tem que aprender a sentir, ser pai. 

Esse aprendizado do sentir-se pai vem do filho que somos.

O pai de cada um faz cada um sentir-se filho, pois todo pai é para o filho o grande herói, o super-homem.

Com meu pai foi assim, era mais que um pai.

Tinha a frase certa nos momentos mais importantes da minha vida.

Não era quantidade de ser pai, mas sim qualidade de ser pai.

Foi ele que me fez ver que filho deve ser criado para sair para o mundo.

Que filho deve ter responsabilidade desde muito cedo.

Lembro que aos onze anos me deu a chave de casa com um aviso:

– Não gostaria de ter que ir buscar você, quero chegar em casa depois de você. 

E assim era, eu sempre tentei chegar antes dele em casa, pois não bastava ser o filho do Tito, tinha que respeitar seus pedidos, que para mim nunca foram ordens.

Coisas assim fazem a gente aprender um jeito de ser pai. 

Pai é mais duro que mãe.

Pai é mais ingênuo que mãe.

Pai é mais ausente que mãe, afinal tem muito mais defeitos do que mãe.

O que a mãe tem de coração, pai tem de razão.

O que pai tem de segurança, mãe tem de emoção.

Quando algum pai vai além de ser pai, aquele que não bastou ser pai, na verdade é o pai que transcende, está além do natural, pois é algum ato acima de si mesmo, ultrapassa todas as categorias humanas.

Hoje nesse, mais um dia dos pais, eu queria deixar minha homenagem ao pai que deixou ser levado e foi mais além de ser pai.  

Quero deixar minha saudade aos pais que serão só lembrados como o meu pai, que sempre transcendeu à condição de simples pai, pois foi e sempre será meu super-homem. 

roberto.garini@sonoticiaboa.com.br