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Ex-vendedor de cocadas fez 5 faculdades

Rinaldo de Oliveira
03 / 09 / 2015 às 00 : 00

Foto: Arquivo Pessoal

Veja como são as voltas da vida… pra quem batalha!
O brasiliense Cristian Santos foi barrado na escola pública, quando pequeno, por uniforme velho.
Ele era criticado por não ter mochila, usar tênis gasto e ser filho de pedreiro.
Mas o rapaz, que chegou a ser vendedor de cocadas, superou tudo e mostrou a que veio.
Ele fez 5 faculdades, é bibliotecário e hoje tem um livro indicado ao Prêmio Jabuti.

A virada
O jovem se refugiava das críticas dos colegas na biblioteca, onde encontrou livros que o ajudaram a ingressar na universidade e conquistar cinco graduações.

A fantasia o estimulava diante da realidade complicada. O pai era pedreiro e tinha dificuldades em sustentar a casa sozinho. A família passava por necessidades.

“O pão, normalmente sem manteiga, era o do dia anterior, vendido pela metade do preço. O gás, raridade lá em casa, era substituído pela lenha, que alimentava uma lata de tinta transformada em fogão de duas bocas”, contou Santos ao G1.

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Diante do quadro, a mãe do rapaz decidiu comprar cocos secos no mercado e preparar o doce para que ele pudesse vender pelas ruas de Brazlândia quando completou 9 anos. O lucro era usado na aquisição de um novo fruto, verduras em oferta e o passe escolar.

Bullying
Na adolescência, ele ia de ônibus para o colégio Elefante Branco – a 45 quilômetros de casa. 

“Fui vítima de bullying escolar pelo tênis velho, por não ter mochila e pelo fato de o meu pai ser pedreiro. Era uma crueldade absurda. Recordo-me, dessa mesma época, ter sido motivo de chacota por parte de meus colegas de turma ao descobrirem que levava um pãozinho francês amanteigado, prensado entre meus livros. Era minha refeição a ser devorada no recreio, já que não tinha dinheiro para a lanchonete”, conta.

“No nível médio, fui impedido de frequentar as aulas pela direção da escola por usar um uniforme antigo. Uma semana intensa dedicada à venda das cocadas me permitiu adquirir a camiseta. Impossibilitado de comprar os livros didáticos, consumia todos os meus recreios copiando no caderno as tarefas a serem entregues na próxima aula. Era um sufoco! De todo modo, sempre era escolhido pelo conselho escolar como o melhor aluno da turma”, completa

Faculdade
Santos se preparou com a ajuda de apostilas velhas achadas em uma biblioteca para fazer o vestibular na UnB. Ele também usou o período para batalhar bolsas de estudo em francês, inglês e espanhol.

“Era com o dinheiro dos doces que bancava as fotocópias dos textos, o almoço no restaurante universitário – R$ 0,50, por refeição, o menor valor, já que era classificado pelo serviço social da UnB como aluno carente – e as passagens de ônibus”.

Trabalho
Aos 19 anos, o garoto conseguiu estágio e passou a ganhar R$ 250 por mês. O dinheiro foi usado em um cursinho preparatório para o cargo de técnico judiciário. Aprovado, ele deixou de vender cocadas e passou a sustentar os pais e as cinco irmãs.

Após concluir biblioteconomia, Santos foi aprovado em primeiro lugar no concurso do Superior Tribunal de Justiça para o cargo de bibliotecário. Na mesma época ele passou a apresentar, na condição de bolsista, trabalhos científicos na Argentina, Finlândia, Noruega e Estônia. 

“Acabei me graduando em língua e literatura francesas e depois em tradução. Nesse período, estudei por três meses na Universidade Laval, Canadá, graças à hospedagem gratuita de uma família católica”, diz.

O homem fez ainda filosofia e teologia, além de mestrado em ciência da informação – a dissertação foi premiada em um concurso na Argentina. Ele chegou a ser admitido para o curso anual da Scuola Vaticana di Paleografia, mas não pôde fazer porque não foi liberado pela direção do STJ.

Doutorado
Depois, o ex-vendedor de cocadas fez doutorado em literatura e práticas sociais. Os estudos o levaram a se aprofundar na obra de Michel Foucault e o estimularam a se preocupar em ser mais humanista e culto.

“Defendo que todo bibliotecário é, fundamentalmente, um intelectual, ou seja, como disse Foucault, um sujeito que tem por papel ‘mudar algo no espírito das pessoas’. Um bibliotecário letárgico é, portanto, um engodo, um desserviço à sociedade”, afirma Santos.

A tese dele virou livro e aborda a representação de padres e beatas na literatura. ‘Devotos e Devassos’ acaba de ser indicado para o Prêmio Jabuti em duas categorias: melhor crítica literária e melhor capa.”

Santos afirma que os exemplos foram essenciais para que ele ter forças para transformar a vida que levava. “Não poderia alcançar mobilidade por mim mesmo. Somente virei a mesa porque fui estimulado.”

Com informações do G1

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