Professor brasileiro está entre os 10 melhores do mundo: finalista

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Por Só Notícia Boa
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Wemerson Nogueira - Foto: arquivo pessoal

O professor Wemerson Nogueira da Silva, 26 – mostrado em dezembro aqui no SóNotíciaBoa – deu mais um passo para a conquista do prêmio de melhor professor do mundo.

Ele, que estava na época da reportagem entre os 50 finalistas do Professor Global 2017, considerado o “Nobel da educação”, agora passou em mais uma peneira e ficou entre os 10 favoritos para levar o prêmio de US$ 1 milhão.

Ele é o único brasileiro na lista seleta. Wemerson está concorrendo com educadores de países como Inglaterra, Alemanha, Espanha e Austrália.

Em sua terceira edição, o Professor Global (Varkey Foundation Global Teacher Prize 2017), é o maior prêmio do gênero.

Ele foi criado para reconhecer “um professor excepcional que tenha feito uma grande contribuição para a profissão, além de chamar a atenção para o importante papel que os professores exercem na sociedade”.

Motivos

Entre 2012 e 2014, o professor capixaba revolucionou as comunidades pobres de Nova Venécia, sua terra natal, com o projeto ‘Jovens Cientistas’.

“A comunidade é carente de tudo e muitos alunos faziam o tráfico de drogas nos arredores e nas dependências da escola. Comecei a motivá-los para a música, para o esporte e, por fim, envolvi os pais. Os alunos passaram a ter interesse pela escola e pelo contexto social”, disse o professor ao Estadão.

Ele conta que num dos projetos, o ‘Karaoquímica’, os alunos cantavam as fórmulas de uma matéria normalmente difícil.

Contrariando orientação dos chamados “pedagogos”, ele liberou o celular nas aulas e converteu os aparelhos em fonte de consulta.

Depois de detectar que muitos alunos sofriam violência em casa, focou o tema em pesquisas e trabalhos escolares.

“Em dois anos, a violência doméstica nessa região caiu 80% e a criminalidade relacionada à droga reduziu 90%.”

Outro projeto, chamado “Filtrando as Lágrimas do Rio Doce”, saiu da escola e foi para as margens do rio, castigado pelos resíduos de mineração após o rompimento da barragem de Mariana (MG).

Além de constatar in loco os efeitos da poluição, os alunos orientados por ele, e com a ajuda de especialistas, desenvolveram sistemas para tratar a água e devolver a potabilidade.

“Distribuímos os filtros para a comunidade ribeirinha e os moradores puderam ter de volta água limpa em casa.”

Os trabalhos já renderam a Silva o prêmio brasileiro de Educador Nota 10, o Educador do Ano, em 2016, da Fundação Victor Civita.

A forma diferenciada de lecionar deu bons frutos, segundo ele.

“Muitos desses alunos conseguiram entrar no Instituto Federal do Espírito Santo, uma escola concorrida. Eles disseram que nunca tinham sonhado com isso. No ano passado, um aluno meu foi aprovado para o curso de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo. Pena que, de tão pobre, ele não tinha dinheiro para se manter e não pôde dar continuidade, mas tenho certeza de que não vai desistir.”

História

O jovem professor é filho de agricultores pobres do interior do Espírito Santo.

Os pais dele davam duas opções aos irmãos: ir para roça com eles, capinar lavouras e colher café, ou estudar.

Franzino, Wemerson sempre preferia os livros.

“Sou de origem humilde, meus pais até hoje vivem do salário de aposentado rural, mas sempre deram prioridade para o estudo. Somos sete irmãos e sou o único professor, mas todos estudaram. Tenho uma irmã formada em advocacia, outra em radiologia e outra na área social. Todos nós estudamos em escolas públicas, com muita dificuldade. Quando eu tinha 14 anos, vendia picolé na rua e guardava o dinheiro, pois sonhava fazer faculdade.”

Ele conta que conseguiu, na época, fazer uma poupança de R$ 700 vendendo sorvete de palito.

“Não consegui passar na federal, então decidi fazer um curso a distância. Isso mesmo, sou formado num EAD (Ensino a Distância). Muitas pessoas torcem o nariz, mas foi o que consegui fazer. Com minhas economias, eu pagava R$ 190 de mensalidade.”

Com apenas quatro meses de curso, ele se apresentou em uma escola que enfrentava falta de professores e começou a substituir os faltosos nas aulas.

“O dinheiro da substituição me ajudou a terminar o curso de Ciências Biológicas.”

Hoje ele é professor de ciências da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Antônio dos Santos Neves, na pequena Boa Esperança, cidade de 15,3 mil habitantes na região noroeste do Estado.

Planos

Caso vença o Professor Global 2017, o brasileiro já sabe o que fará com o dinheiro.

“A prioridade é construir um laboratório de Ciência e Tecnologia na minha cidade, aberta a todos. Sei da importância porque minha escola não tinha um microscópio para mostrar uma célula para os alunos.”

Outra parte do dinheiro vai para uma instituição que incentive a formação de professores e, se sobrar, Wemerson usará o restante em sua própria formação.

“Sonho em conhecer a realidade da educação em outros países, os mais avançados, como a Finlândia, e outros mais carentes. Isso pode me ajudar no trabalho no Brasil.”

O prêmio é concedido pela Varkey Foundation, com sede em Londres.

Os dez finalistas foram selecionados entre 20 mil indicações e inscrições de 179 países.

O vencedor será anunciado no Fórum Global de Educação e Habilidades em Dubai, no domingo, 19 de março de 2017.

Com informações do Estadão