Chega de críticas pra quem é filho único. Testes neurológicos e de personalidade mostram o potencial criativo de quem não tem irmãos.
Um estudo do Laboratório de Cognição e Personalidade, do Ministério da Educação da China – divulgado em abril – mostra que filhos únicos têm mais massa cinzenta porém podem ser mais egoístas.
Os cientistas pesquisaram o cérebro de centenas de universitários e concluíram que pode existir uma grande vantagem em ser filho único.
Testes
Os pesquisadores começaram o experimento com uma bateria de testes de personalidade.
Um deles testava o potencial da imaginação de cada voluntário.
Eles precisavam pensar em formas curiosas de transformar caixas de papelão, jeitos inéditos de usar brinquedos infantis e soluções criativas para problemas imaginários.
Depois, os participantes passavam por exames de imagem que identificavam o volume de massa cinzenta em cada área do cérebro deles.
A análise dos resultados mostrou que o grupo de filhos únicos teve um desempenho melhor nos testes de criatividade do que aqueles que tinham irmãos.
E a diferença foi refletida nos exames também: os filhos solitários tinham mais massa cinzenta concentrada no giro supramarginal.
É uma área do cérebro que faz parte do lobo parietal, região associada com a imaginação e uma certa flexibilidade mental.
Convívio com adultos
Para os cientistas, uma possível explicação para essa diferença é o convívio mais intenso que filhos únicos tendem a ter com adultos.
Eles também ganham atenção exclusiva dos pais, o que pode ser um estímulo a mais durante seu desenvolvimento.
Por outro lado, a pesquisa também parece concordar parcialmente com o senso comum.
Egoístas ou bem resolvidos?
Como nem tudo são flores, o teste também revelou que os filhos únicos apresentavam “agreeableness” abaixo da média.
Este traço de personalidade, às vezes traduzido como amabilidade, é ligado à preocupação com os outros, valorizando seu bem estar.
Pessoas com alta amabilidade tendem a colocar os interesses dos outros acima dos seus próprios e fazem questão de ser calorosas nas suas relações.
Já o desempenho dos filhos únicos mostra uma tendência de priorizar os próprios interesses e tratar os outros com ceticismo.
Os exames de imagem do cérebro também parecem estar associados a esse resultado: os cientistas encontraram uma concentração menor de massa cinzenta no córtex pré-frontal medial.
Essa região é ativada quando pensamos em nós mesmos em relação aos outros.
De novo, os cientistas teorizam que a resposta esteja na forma como os filhos únicos são criados.
Nunca precisaram competir por atenção ou elogios e tiveram que lidar com expectativas altas por toda vida.
País de filhos únicos
Os estudos foram todos feitos na China – em que o número de crianças sem irmãos aumentou muito após a política do Filho Único – e todos os participantes eram universitários chineses.
Os resultados da pesquisa levaram em conta tanto o perfil socioeconômico dos voluntários quanto o nível de escolaridade dos pais, mas não dá para excluir totalmente os efeitos de uma cultura tão diferente da nossa.
Com informações da Superinteressante