Três irmãos com “ouvido absoluto” descobertos em favela no Rio

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Por Só Notícia Boa
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Laís

Um professor de música descobriu três adolescentes de uma comunidade do Rio de Janeiro que têm o chamado “ouvido absoluto”,  uma qualidade rara que aparece em um a cada 10.000 indivíduos – como Bach, Beethoven, Mozart e Frank Sinatra.

Os irmãos Alex, de 18 anos, Laís, de 16, e Pedro, de 12, estão sendo ajudados/orientados por Newton Motta, um professor de escola publica que sonha em ser maestro de uma grande orquestra.

Os jovens moram rua Esperança, num bairro humilde de Campo Grande, na zona oeste do Rio, dominado pela milícia.

Para os estudantes, identificar e nomear uma nota musical é quase tão fácil como identificar uma cor.

Quando toca a buzina do tio do doce, eles logo dizem que o buzinaço é uma sequência de “ré”.

Acontece também com a buzina do Fiat Palio do pai, que sempre toca em “si”.

Nas músicas é ainda mais fácil. Até o caçula dos Santana é capaz de perceber quando quem toca ou canta não está na altura certa.

A ajuda

Newton Motta, professor de música de uma escola municipal, ficou surpreso com a habilidade de Alex de identificar notas e fez questão de apoiar os irmãos fora da aula, porque na escola, numa área rural de Bangu, próxima dos presídios, não há estrutura para desenvolver o talento deles.

“Eles conhecem muito pouco de música. Têm essa habilidade naturalmente. O Alex toca uma guitarra que eu doei, o Pedro mal conhece as notas e a Laís canta voz aguda e afinada”, contou Newton Motta em entrevista ao SóNotíciaBoa.

Os irmãos descobriram relativamente tarde esse valioso tesouro – o ideal é expor as crianças a atividades musicais antes dos oito anos.

Alex só começou a tocar timidamente o violão na igreja aos 14 anos, mas aprendeu praticamente sozinho. Pedro mal começou a experimentar tocar a flauta.

E professor fez algo mais importante: mostrar ao pai os diamantes brutos que ele tem em casa.

“A princípio, quando o professor veio falar comigo me mostrei muito resistente. Nossa mente é muito fechada em relação a isso. A gente enxerga futuro e garantia com base ao esforço, estudo e muito trabalho. Estava muito longe de enxergar futuro na música no nosso contexto”, contou o pai ao ElPaís.

“Mas minha mente mudou muito. Com a persistência do professor e o envolvimento dos meninos, comecei a enxergar neles uma paixão, um prazer em usar esse dom que eles têm. Hoje de forma alguma pensamos na questão monetária como algo principal, hoje a gente enxerga que o importante é a realização pessoal deles”.

Histórias que se cruzam

O sonho do professor Newton, que passou parte da infância vendendo balas nos trens fluminense e comendo pão duro, sempre foi ser maestro de uma grande orquestra.

“Nunca consegui, mas também nunca tive esse talento que eles têm”, lamenta.

“Eu sinto que preciso ajudá-los a terem a chance que eu nunca tive”.

Ouvido absoluto

Com treinamento, alguém com ouvido absoluto é capaz de reproduzir notas, inclusive uma melodia, mesmo sendo a primeira vez que as escutam.

Muitos músicos pagariam para ter nascido com essa capacidade natural.

“Aos nove anos, sem saber nada de música, eu comecei a perceber quando o coro da igreja estava cantando no tom errado”, lembra Alex.

“Era, e ainda é, complicado para mim, porque você vira um chato, sou incapaz de tocar sem ser na tonalidade original”.

Luta para estudar

Os três irmãos sempre tiveram contato com a música, sobretudo evangélica, inclusive antes de nascerem.

Mas numa família que vive com cerca de 3.000 reais por mês, a compra de instrumentos e as aulas de música nunca entraram no orçamento.

“Em virtude da nossa realidade, a gente sempre viveu em base a prioridades. Não tínhamos prestado muita atenção à questão da música. A gente percebia que tinham certo dom, mas a música era um sonho, não um futuro”, diz com certo arrependimento o pai, Anderson Alvarenga de Magalhães.

“Eu gostaria de aprender a tocar teclado, guitarra, entre outros instrumentos. Mas, como não temos condição, eu, por enquanto, pensei em ser engenheiro químico”, diz o pequeno.

O menino inclusive teve que pedir com lágrimas nos olhos para seu professor parar de exaltar seu talento na aula. Estava sofrendo bullying.

“Ele sempre me chamava para acertar a nota e começaram a me zoar. Me apelidaram de Do, e me chamavam de Do o tempo inteiro”, relata com um sorriso triste.

“Se eu tivesse a oportunidade de poder ser cantora com certeza que eu adoraria”, conta Laís.

Pedro, um menino que navega na internet procurando provas de escolas privadas com a esperança de ganhar uma bolsa, gostaria de ser músico.

Como Ajudar

O professor Newton Motta disse ao SóNotíciaBoa que os irmãos precisam de “Instrumentos musicais! violino, teclado, guitarra, flauta…curso de canto para Laís…bolsa de estudo integral em escola de música para os meninos!”.

Se você puder ajudar, entre em contato com o professor por e-mail: maestro.newtonmotta@gmail.com  .

Alex, Laís e Pedro, nós do SóNotíciaBoa estamos torcendo para que alguém com visão e dinheiro leia esta reportagem e ajude vocês a conquistar o universo musical que nasceram prontos para receber.

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Com informações do ElPaís e SóNotíciaBoa