Diretor recupera alunos, escola violenta e concorre a prêmio internacional

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Por Só Notícia Boa
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Diego Mahfouz Faria Lima - Fotos: arquivo pessoal||

Um diretor que transformou uma escola violenta do interior de São Paulo em colégio promissor está concorrendo a um prêmio internacional.

Diego Mahfouz Faria Lima é um dos 50 finalistas do Global Teacher Prize, uma das mais importantes premiações de docentes do mundo. O vencedor será anunciado em março.

Há 3 anos, quando ele assumiu, encontrou a Escola Municipal Darcy Ribeiro, de São José do Rio Preto, no fundo do poço: com histórico de violência, aluno armado em sala de aula, brigas, depredações.

“Era uma das escolas mais violentas da região. Quando vim conhecê-la, não só achei a fachada feia, como vi que o muro era cheio de buracos, onde (usuários) guardavam suas drogas. Os banheiros não tinham nem vaso sanitário”, contou Diego à BBC Brasil.

Para reverter o ciclo de violência, a desmotivação e as baixas notas de escolas, ele adotou 4 passos, baseados  na recuperação do espaço físico e no engajamento dos alunos e da comunidade.

Os resultados, diz ele, começaram a surgir no intervalo de um ano, a começar pelos altos índices de evasão: 212 alunos haviam abandonado a escola em 2013; o número baixou para dois no ano seguinte.

O desempenho dos estudantes melhorou, embora ainda permaneça bastante abaixo do ideal: em 2011, apenas 11% dos alunos do 9º ano tinham conhecimentos adequados em português e 6% em matemática; esses índices subiram, respectivamente, para 30% e 12% em 2015 (últimos dados oficiais disponíveis).

A avaliação da Varkey Foundation, responsável pelo prêmio, é de que “acima de tudo, a escola atualmente tem um lugar na comunidade, e todos sabem que são bem-vindos ali”.

Antes e depois da sala incendiada - Foto: arquivo pessoal

Antes e depois da sala incendiada – Foto: arquivo pessoal

4 passos para o sucesso

1 – Ouviu os alunos

Após uma “rebelião” de alunos quando assumiu, o diretor os alunos e soube que eles achavam a escola feia e excessivamente punitiva – ou seja, que qualquer coisa era motivo para suspensão.

Foi criado um mural onde os alunos deixam seus elogios, críticas e sugestões, para serem lidos pelos professores em sala. As sugestões coletivas são levadas à direção. Além disso, assembleias e o grêmio estudantil foram fortalecidos.

Com a Câmara Municipal de Rio Preto, foi lançado o projeto “vereadores mirins”: alunos escolhidos pela classe elaboram projetos levados a votação pelos vereadores “reais”.

A partir disso, diz Lima, foi aprovado um projeto de lei para a criação de laboratórios de informática nas escolas da cidade.

Outro ponto-chave é a mediação de conflitos: alguns dos próprios alunos do 9º ano foram treinados por Lima para identificar e mediar a resolução de casos de bullying e conflitos. Lima também atua como mediador atualmente.

“É ensinar a ouvir o outro, a se colocar no lugar do outro”, afirma. “Buscamos os alunos mais indisciplinados para (comandar) a mediação, porque daí sua liderança negativa se torna positiva.”

2 – Combateu a evasão

A escola criou carteirinhas para seus estudantes para monitorar o número de faltas. A cada três faltas consecutivas de um mesmo aluno, Diego Lima ia à casa do estudante descobrir o que estava acontecendo.

Para aumentar a frequência às sextas-feiras, dia de mais faltas, surgiu a ideia de tornar o ambiente escolar mais atrativo, com um show de talentos: pais e alunos passaram a realizar performances nesse dia da semana.

Para aumentar o quórum na reunião de pais ele contratou um carro de som, que passa pelas comunidades próximas avisando as datas das reuniões escolares, já que muitos alunos não entregavam os comunicados em casa.

3 – Melhorou o comportamento

Desanimados com o mau comportamento das turmas, os professores da Darcy Ribeiro costumavam emitir cerca de 60 suspensões de alunos por semana.

Para aproximar docentes de estudantes foi criado um programa de tutoria, em que cada professor passou a zelar pelo bem-estar e pelo desempenho de uma determinada turma.

Um questionário aplicado aos estudantes e à comunidade identificou necessidades e sonhos dos alunos e despertou na equipe empatia por estudantes até então considerados “problemáticos”.

Um plantão de dúvidas no contraturno, em que alguns dos próprios alunos viraram ajudantes dos professores, ajuda a combater problemas de aprendizado. Para incentivar a leitura e enfrentar o alto índice de analfabetismo funcional entre os estudantes, foi criado o “Pare Para Ler” – intervalo diário de 15 minutos em que todos na escola – alunos e funcionários – se dedicam à leitura de textos escolhidos por eles próprios ou por professores.

E um clube de astronomia, que começou como uma forma de estimular o interesse pela pesquisa científica e pelas tarefas de casa, acabou virando um dos xodós da escola, levando inclusive à compra de um telescópio e ao disparo de uma sonda, acoplada a um balão de hélio, para captar imagens aéreas.

E o WhatsApp, antes proibido em classe, virou ferramenta para tirar dúvidas e discutir os projetos do clube.

4 – Embelezou a escola

A péssima infraestrutura – espaços abandonados, salas e banheiros degradados – era uma das principais queixas dos alunos da Darcy Ribeiro.

Lima começou pedindo, a outros colégios da região, materiais de construção e tinta que tivessem sobrado de reformas anteriores para melhorar a aparência da escola durante as férias, “para receber os alunos de uma forma diferente quando as aulas recomeçassem”.

Isso gerou uma onda de apoio: pais e estudantes passaram a se oferecer para ajudar.

“Hoje, temos um grupo de mais de 30 pais voluntários para a manutenção da escola, varrendo ou trocando torneiras”, diz Lima.

A biblioteca, que antes era um depósito de materiais, foi revitalizada, ganhou 7 mil livros doados e agora é gerida voluntariamente pela mãe de um aluno.

O muro foi pintado e grafitado, e as salas ganharam novas carteiras.

O tráfico de drogas no ambiente escolar foi coibido com a revitalização, pelos próprios alunos, da área mais degradada da escola, transformada em uma praça de leitura.

“Quando uma mãe vem e reclama que o filho (está usando ou traficando drogas), chamamos o aluno e tentamos parcerias para conseguir emprego para ele, mostrar que ele não precisa das drogas (para se sustentar ou passar o tempo)”, diz o diretor.

A escola também passou a abrir aos fins de semana, com um projeto de música clássica, hoje realizado pela prefeitura em outro espaço.

Dica

O mais importante para revitalizar outras escolas em situação semelhante, opina ele, é “mudar o olhar” dos gestores.

“É um projeto que dá resultado se você se abrir à gestão democrática, dar voz em vez de concentrar as decisões, valorizar o protagonismo dos alunos e abrir a escola como se ela não tivesse muros”, afirma.

Antes e depois da fachada da escola - Foto: arquivo pessoal

Antes e depois da fachada da escola – Foto: arquivo pessoal

Com informações da BBC