Médico psiquiatra se veste de palhaço para resgatar pessoas da Cracolândia

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Por Monique de Carvalho
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Flávio é psiquiatra e, vestido de palhaço, leva mensagens lúdicas sobre o uso de drogas e transtornos emocionais para a Cracolândia - Foto: reprodução Profissão Repórter

O médico psiquiatra Flávio Falcone encontrou na arte lúdica uma forma de conscientizar as pessoas que vivem na Cracolândia. Ele organiza eventos vestido de palhaço e leva mensagens de conscientização sobre o uso de drogas.

Flávio já visita a Cracolândia há dez anos. No local, ele já vivenciou diversas histórias de vida dos dependentes químicos que conheceu.

“O trabalho que eu faço é mostrar que tem vida aqui. Um jeito de fazer o tratamento é você potencializar o que eles têm de melhor, e a arte é uma forma de mostrar o que eles têm de melhor”, afirmou.

Convite que virou missão

Flávio foi convidado para participar de um projeto, o De Braços Abertos. Ele conta que fez a proposta de se vestir de palhaço e, na hora, a ideia foi aceita pelo grupo.

“Na prática, vi que o que aprendi na universidade sobre o tema estava equivocado. Eu olhei e vi que já estava fazendo exatamente o que a reforma diz que é pra fazer, ou seja, focando na pessoa e não na droga, com o palhaço”, explica.

“Eu sempre trabalhei com dependente químico, desde 2007. Com gente vulnerável, população de rua. Primeiro no CAPS [Centro de Atenção Psicossocial], em São Bernardo do Campo, na gestão do Luis Marinho, e depois fui para a “Cracolândia””.

Desde então, ele passou a visitar a região e realizar eventos de conscientização sobre a dependência química e transtornos emocionais.

Teto, Trampo e Tratamento

Do “De Braços Abertos”, Flávio resolveu criar um projeto em paralelo, o “Teto, Trampo e Tratamento” e passou a levar mais ludicidade para as ruas.

Entre músicas, encenações e muita dedicação, o profissional vai trabalhando as pessoas. Ele conta que tem muitas histórias de recuperação e se orgulha de ter ajudado.

Uma das pacientes que o médico atende é a Edna. Por causa do projeto de Flávio, ela conseguiu deixar as ruas depois de três anos e conquistou trabalho e moradia, apesar de ainda lutar contra o vício em drogas.

Segundo o médico, o que ele faz na Cracolândia é uma tentativa de retirar as pessoas daquela situação em que se encontram, porque o problema do local não é tão simples de ser resolvido.

O palhaço contagia

Ao ser perguntado o motivo de escolher ser um palhaço, o médico lembra de uma frase que aprendeu na escola de artes: “O palhaço é a fragilidade compartilhada”.

E ele reflete muito sobre o tema. “É você assumir diante do outro: sou isso aqui. O artista, por conta do ego, tem muita dificuldade de aprender o palhaço”, explica.

Flávio acredita que o personagem de palhaço funcionou na Cracolândia porque ele estava lidando com pessoas que já eram marginalizadas.

“Ser o erro já era a vida deles. Eles já eram drogados, viviam na rua. Foi quando eu formei um grupo, uma companhia de palhaços com pessoas que estavam em processo de recuperação de dependência química e montei um espetáculo que misturava artistas profissionais e eles [os dependentes]”, lembra.

“O palhaço faz as pessoas rirem do erro. É o que você faz de errado, é o seu defeito não sua qualidade que é colocada ali, na frente de todo mundo. E é aí que me conecto com aqueles que estão em uma situação de esquecimento completo, que são marginais”, finalizou o médico.

Flávio Falcone durante evento na Cracolândia, em SP — Foto: Profissão Repórter

Flávio Falcone durante evento na Cracolândia, em SP — Foto: Profissão Repórter

Médico psiquiatra se veste de palhaço para ajudar dependentes químicos — Foto: Profissão Repórter

Médico psiquiatra se veste de palhaço para ajudar dependentes químicos — Foto: Profissão Repórter

Com informações de Ponte