Cabeleireiro corta cabelo de crianças autistas de forma gratuita; filho é a inspiração

Um gesto de amor que nasceu dentro de casa está transformando a vida de várias famílias em São José do Rio Preto (SP). Toda quarta-feira, o salão de beleza de Jucimar José Ribeiro, mais conhecido como Jô, se enche de acolhimento, paciência e muito carinho. É nesse dia da semana que o cabeleireiro reserva uma cadeira especial e corta, gratuitamente, o cabelo de crianças autistas.
A motivação para essa iniciativa nasceu dentro da própria casa de Jô. Pai do pequeno Lourenzo, de seis anos, que também está no espectro, ele viu de perto como pode ser difícil e angustiante cortar o cabelo de uma criança autista e decidiu fazer a diferença usando o que sabe fazer de melhor: cuidar com as mãos e com o coração.
“É muito doloroso, não só para as crianças, mas também para os pais, ter que segurar, forçar… Isso machuca”, conta ele, emocionado. A partir desse sentimento, nasceu a ideia de oferecer cortes gratuitos, com paciência e respeito, para outras famílias que passam pela mesma situação.
Propósito
Durante muito tempo, Jô enfrentou, junto com a esposa, o desafio de levar o filho para cortar o cabelo.
A experiência, que deveria ser simples, acabava sendo carregada de estresse e sofrimento.
Trabalhando como cabeleireiro, ele decidiu usar a própria dor como propósito para deixar outras crianças que passam o mesmo que o filho dele, mais confortáveis.
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Tempo, cuidado e respeito
Quem convive com crianças autistas sabe: elas sentem o mundo de forma diferente. Sons, toques e até o barulho da tesoura podem causar desconforto ou até crises. Por isso, cada atendimento de Jô é único. Ele não tem pressa, não olha o relógio. Um corte pode levar duas horas ou mais, e tudo bem.
Esse carinho fez toda a diferença na vida da fisioterapeuta Juliana Castilho, mãe do Raul, de dez anos.
“Antes, era traumático. A gente precisava segurar ele, e saíamos do salão exaustos, tristes. Aqui, não. Aqui, o Raul é respeitado, é acolhido”, conta ela, com os olhos marejados.
Acolhimento
A cena é sempre emocionante: enquanto Lourenzo já se senta na cadeira com calma, outros pequenos ainda precisam explorar o ambiente, se sentir seguros. É o caso do Noah, de três anos, que prefere andar pelo salão antes de se permitir o corte.
“É uma maratona com ele, mas o Jô entende, brinca, se adapta. É gostoso de ver”, diz Bianca Bragueto, mãe do garoto ao G1. O salão vira um espaço de confiança, onde a criança é protagonista e o adulto é quem se adapta.
Um gesto que muda vidas
Para Jô, cada sorriso no rosto das crianças e o alívio estampado nos olhos dos pais são a verdadeira recompensa. Ele acredita que sua missão vai além da tesoura: é sobre oferecer dignidade, acolhimento e um pouco mais de paz para famílias que enfrentam tantos desafios.
“A alegria que a gente leva para essas famílias não tem preço. Isso me preenche, me dá força. É como cuidar do meu filho, só que multiplicado”, conclui o cabeleireiro.
