Primeiro soro contra picada de abelha entra na fase final de testes; vai para o SUS

É do Brasil! O primeiro soro contra picada de abelha, desenvolvido por pesquisadores da Unesp, entra na 3ª e última fase de estudos clínicos e assim que for aprovado pela Anvisa poderá ser produzido comercialmente e ser disponibilizado no SUS, Sistema Único de Saúde.
Isso porque os pesquisadores da Universidade Estadual Paulista receberam R$ 20 milhões do Ministério da Saúde para iniciar a fase final de testes do soro antiapílico, destinado ao tratamento de envenenamentos por abelhas africanizadas (Apis mellifera).
O soro vem sendo desenvolvido há mais de uma década por cientistas do Cevap (Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos) da Unesp de Botucatu. É um biofármaco com tecnologia 100% nacional e apoio da Fapesp.
Como é o soro contra picada de abelha
O soro antiapílico foi desenvolvido a partir da inoculação gradual de veneno em cavalos para gerar anticorpos.
De lá para cá, o antídoto apresentou bons resultados em testes.
Entre 2016 e 2018, um estudo clínico de fase 1/2, conduzido em Botucatu (SP) e Tubarão (SC), confirmou a segurança e eficácia preliminar do produto: 20 pacientes, picados por 7 a 2.000 abelhas, tiveram melhora clínica sem efeitos graves.
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Acidentes com abelhas no Brasil
As abelhas africanizadas, resultado do cruzamento entre espécies africanas e europeias, são hoje as principais produtoras de mel do país e, também, responsáveis por milhares de acidentes. Entre 2013 e 2023, o Brasil registrou 206.746 casos de picadas, com 649 mortes diretas e 50 indiretas, número superior aos acidentes com serpentes.
As picadas podem causar desde dor local e inchaço, até reações sistêmicas graves, devido à sensibilidade humana aos componentes do veneno das abelhas. Já múltiplas picadas podem provocar dificuldades para respirar, choques, tremores e insuficiência renal, entre outros sintomas.
Fatores como desmatamento, pesticidas e urbanização fazem abelhas procurarem abrigo e alimentos em outros lugares, tornando o problema uma questão de saúde pública.
Como é o tratamento hoje
Atualmente, não existe antídoto específico para picadas de abelha disponível no SUS. O tratamento hospitalar baseia-se apenas em medicamentos para dor, inflamação e alergia, informou a Agência SP.
“Infelizmente nós não temos hoje, na rede de saúde, um antídoto específico para esses acidentes. O atendimento com drogas para controlar a dor, inflamação e alergia é o protocolo padrão realizado em qualquer hospital. No entanto, a ausência de um tratamento específico torna esses casos mais graves, podendo levar à morte”, diz Rui Seabra Ferreira Jr, coordenador-executivo do Cevap.
Como será a última fase de testes
Esta última fase de testes do novo antídoto terá a participação de 150 a 200 pacientes.
Com a patente aprovada pelo INPI em 2023, o projeto segue agora para a última fase de testes e depois vai para a aprovação da Anvisa.
Aí, o soro poderá ser produzido em larga escala e distribuído no SUS, para o que será o primeiro tratamento específico contra acidentes por abelhas no Brasil.
