Morador de rua de SP encontra família 20 anos depois graças a perfil no Facebook

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Quem passa pelo Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, certamente já viu o morador de rua Raimundo Arruda Sobrinho, de 73 anos.
Há 30 anos ele vive na região, vestindo uma capa preta de plástico, com barbas e cabelos brancos longos. Ele passa os dias escrevendo poemas.
O mistério do poeta da rua terminou depois que uma moradora do bairro, Shaila Monteiro, criou um pefil para ele no Facebook.
Raimundo não entrava em contato com a família desde a metade da década de 1980. Ele saiu de casa para estudar em São Paulo no início dos anos 1960.
Sem informações precisas sobre sua localização, a família de Raimundo sempre buscou notícias sobre ele na internet.
Durante todos esses anos, Raimundo já apareceu em revistas, jornais, programas de TV e inclusive documentários. “Mas a maioria do material era antigo e não informava sua localização exata”, conta Josangela Roberta, mulher de Francisco.
Em setembro de 2011, Roberta buscou na internet o nome de Raimundo para mostrar uma foto dele para a filha de Francisco. Ao fazer a pesquisa na web, elas localizaram o perfil de Raimundo no Facebook, que havia sido criado por Shalla há menos de dois meses.
Em setembro de 2011, Roberta buscou na internet o nome de Raimundo para mostrar uma foto dele para a filha de Francisco. Ao fazer a pesquisa na web, elas localizaram o perfil de Raimundo no Facebook, que havia sido criado por Shalla há menos de dois meses.
“Conheci Raimundo em maio de 2011. Acho que foi amor à primeira vista. O que mais me chamou a atenção foi a paz e a tranquilidade que ele transmite”, conta Shalla, que criou a página no Facebook dez dias depois do aniversário de 73 anos de Raimundo, comemorado em 10 de agosto com bolo e presentes.
“Criei o perfil como uma forma de dar reconhecimento e afeto para uma pessoa com a qual eu estava muito envolvida”, diz.
“Criei o perfil como uma forma de dar reconhecimento e afeto para uma pessoa com a qual eu estava muito envolvida”, diz.
Antes de criar a página no Facebook, Shalla explicou para Raimundo o que é internet e mídias sociais, e pediu sua autorização. “Ele apenas me disse: ‘se você quer perder tempo com um mendigo’”.

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Ao encontrar Raimundo na rede social, Roberta levou um susto. “Mandamos imediatamente uma mensagem questionando quem havia feito a página, já que Raimundo era morador de rua”. Shalla logo entrou em contato com a família para dar todas as informações.
“Eu nunca imaginei que encontraria a família pelo Facebook, mas eu sabia que haveria alguma repercussão. Durante o tempo que convivi com ele, notei a grande popularidade de Raimundo, que sempre era cumprimentado por moradores, policiais e inclusive crianças”, diz Shalla.
Duas semanas depois do primeiro contato, Francisco desembarcou em São Paulo para reencontrar Raimundo pela primeira vez depois de mais de 20 anos. “O Facebook foi muito útil, pois quem criou o perfil tentou ajudá-lo”, opina Roberta. Francisco passou dois dias inteiros com Raimundo, que se disponibilizou a voltar para Goiás.
Dias depois, Roberta buscou ajuda para tirar Raimundo das ruas no Ministério Público de São Paulo, que pediu um dossiê com informações sobre a história de Raimundo. A resposta chegou dois meses depois. Em uma reunião no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) em 30 de março, a remoção foi agendada para 23 de abril. Nesse dia, Raimundo foi transferido ao Caps do Itaim, onde ele está até hoje.
Na última quarta-feira (23), ele completou um mês fora das ruas.No fim de novembro, Roberta saiu de Goiânia em direção a São Paulo de carro para buscá-lo. “No momento que cheguei lá, ele disse que não queria voltar para não dar trabalho, pois já está velho”, relata Roberta. A família já tinha preparado um quarto para receber Raimundo com toda a estrutura necessária, inclusive com computador. Segundo Roberta, Raimundo diz escutar vozes que falam que ele ainda não está preparado para voltar. “Ele me disse que é um ser estragado socialmente e que não consegue mais conviver em um ambiente familiar”, relata Shalla.
No início, Raimundo precisou tomar vitaminas, pois estava muito magro. Agora, ele vai cortar o cabelo e trocar a capa de plástico que veste até hoje. “Raimundo nunca quis usar roupa porque ele não tinha onde tomar banho. Ele fala que roupa traz fungos e bactérias, e o plástico não, principalmente o preto, que ainda o mantém aquecido”, conta Roberta..
Em São Paulo, Raimundo foi vendedor de livros e jardineiro. “Na página do Facebook tem pessoas que lembram quando ele foi jardineiro da família”, conta Shalla. Os irmãos ainda não descobriram como Raimundo foi parar nas ruas.
Raimundo nunca escondeu que seu grande sonho sempre foi publicar um livro. “Ele conta que chegou a ir a várias editoras, que não lhe deram atenção”, diz Shalla. Depois de voltar a conviver com a família, o próximo passo será concretizar o sonho de Raimundo, segundo Roberta. “Já estamos preparando tudo para que ele volte e vamos lutar para publicar um livro dele”.
Detalhes no G1.