Fazenda já tratou 5 mil dependentes de drogas

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Por Bruno M.
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Fotos: Sandra de Angelis/SnB
Por Sandra de Angelis, da redação do SóNotíciaBoa

Trabalho com a terra? Remédios? Força de vontade? Apoio familiar? Fé?
O que milhares de famílias se perguntam é qual a fórmula para tirar alguém das drogas?
Em Minas Gerais uma fazenda vem mudando há 25 anos a vida de dependentes em álcool e outras drogas.
Lá a dependência é abordada como uma doença crônica, progressiva e fatal.
Desde 1990 cerca de 5000 jovens passaram pela Instituição e grande parte destes alcançou uma mudança de estilo de vida, reinserindo-se socialmente e promovendo projetos construtivos para um futuro próspero.
Com ajuda de colaboradores, a Fazenda Senhor Jesus – em Araxá, no Triângulo Mineiro – trabalha para deter a doença, recuperar o dependente e restaurar as famílias vítimas, que também são afetadas pelo problema.

Tratamento

A fazenda recebe 80 pessoas.


As atividades programadas para o tratamento do dependente (adicto) estão embasadas no tripé: Trabalho, Disciplina e Oração, com ajuda de uma equipe constituída de psiquiatra, clínico geral, psicólogo, assistente social, técnicos em dependência química e orientador pedagógico.

“A técnica que usamos é a mesma dos Alcoólatras Anônimos, onde a disciplina, a oração e o trabalho são considerados aliados valiosos na luta contra esse mal”, explica dona Oscarina Maria Borges, que dirige a instituição. (foto abaixo)

A técnica do AA inclui os 12 passos do Só Por Hoje.

A terapia dos internos consiste também no desempenho de tarefas para a manutenção da instituição, como limpeza, cozinha e hortas, na disciplina para as orações e atividades diárias, conduzindo cada dia como um passo de cada vez.

Recuperação
A internação é voluntária e mais da metade dos pacientes consegue se recuperar, segundo dona Ocarina:

“Em geral, a média de recuperação é de 60 a 70% dos internos. “Mas o importante, como dizia meu marido, é que se a gente consegue salvar apenas uma vida, já terá valido a pena”.

No Brasil, dentre os seus cerca de 200 milhões de habitantes, estima-se que 2,6 milhões são usuários de crack e cocaína e 1,5 milhão faz uso de maconha diariamente.

De interno a coordenador
Carlos Eduardo Flores (foto acima) trabalha como coordenador terapêutico da Fazenda Senhor Jesus.

O jovem bem disposto, de 36 anos e de sorriso fácil, hoje, além do trabalho que realiza no local, destinado à recuperação de droga-dependentes, tem mais um motivo para rir, pois acaba de ser pai.

Mas se dissessem a ele há 7 anos, que em 2015 o dinâmico Cadu estaria nessa condição, talvez nem tivesse escutado.
Naquela ocasião, ele fazia parte das estatísticas de usuários de drogas, onde o crack foi seu último recurso.

Ele conta que muita gente tentou ajudá-lo, mas sem família e sem um destino, deixou-se levar pelo álcool e pelas drogas muito rapidamente.

O basta
Mas um dia, quando já não havia mais nada em casa para vender e comprar mais uma pedra da droga, nem comida, água ou luz, ele pensou: “Meu Deus, se você existe, me dê uma luz!”…

Foi vasculhar uma gaveta e achou um folheto da Fazenda e do trabalho de recuperação de drogas e álcool.
Pensou que ali poderia estar a saída e ele estava certo, mas o caminho de Belo Horizonte a Araxá seria longo.

O rapaz foi até a casa de uma tia, pediu para usar o telefone e ligou para um amigo.

“Eles tinham desistido de mim, em uma atitude que a gente chama de “Amor exigente”, onde eles nos amam, mas não concordam com nosso comportamento”, lembra.

“Na conversa, eu dei o prazo de 10 minutos para virem me ajudar a tomar o rumo de Araxá. Eles chegaram em sete minutos, me compraram dois maços de cigarro e um lanche. Não me deram dinheiro com receio de eu trocar por droga”.

O rumo de Cadu, como o homem é conhecido na Fazenda Senhor Jesus, rendeu-lhe cinco caronas e muita força de vontade.

Ele lembra que ao chegar na cidade, encontrou um morador de rua com uma garrafa de cachaça na mão e que lhe disse: “Você demorou…eu estava esperando!”.

Ele pensou se tratar de um equívoco, mas o homem prosseguiu: “Abra a mão, pois tenho uma coisa para te dar!”, Relutante, Cadu obedeceu, sob a orientação de só abri-la quando chegasse à casa de triagem da Fazenda.

Ao chegar, abriu a mão e viu que o homem havia dado uma medalhinha de Nossa Senhora das Graças, cuja devoção o acompanha até hoje.

Foi acolhido imediatamente e encontrou seu caminho. Hoje se considera um homem feliz e trabalha com afinco na fazenda, para replicar a experiência libertadora que o tornou um homem de respeito.

Benedito
A história de Benedito da Costa (foto acima) , 55 anos e há 23 trabalhando na fazenda, não é diferente. Na ocasião, saiu de São Paulo decaído pelas drogas injetáveis.

Hoje ele trabalha em várias frentes da fazenda, mas sua especial dedicação é no cuidado ao viveiro de plantas nativas da região, cujas mudas têm sido distribuídas em áreas de mananciais e desmatadas.

Palestrante de voz firme, relata sua história e os benefícios de conseguir conquistar o domínio de sua vida contra as drogas. Seu nome é sempre requisitado para essa finalidade.

Quanto a voltar para sua cidade natal, ele diz: “Não volto por nada deste mundo, porque aqui é o meu lugar”

Sonho realizado
Dona Oscarina Maria Borges, que dirige a instituição desde o falecimento de seu marido, Gerardo Melo, em 1997, conta que a fazenda tem 25 anos e foi um sonho de seu marido realizado.

Ela conta também que a implementação da infraestrutura, no começo de tudo, recebeu o apoio de alguns empresários da região, tais como Luiz Camargo, que era presidente de uma grande mineradora local.

“Com o apoio dele, conseguimos construir o refeitório e ampliar as instalações dos internos. Hoje mantemos o compromisso de cultivar mudas de plantas nativas, tais como jatobá, angico vermelho , pororoca vermelha e verde, amora, ingá, jequitibá, ipês e jambolão,dentre outras, que são distribuídas em fazenda e áreas preservação permanente, como contrapartida”.

A instituição também recebe o apoio da prefeitura local , do Governo do Estado de Minas Gerais e de empresas vizinhas, como a Bem Brasil Alimentos, que sempre fornece batatas pré-fritas para compor a alimentação na fazenda.

 

Custo

O tratamento dura em média 6 meses.
Tem um custo para quem pode pagar. Para quem não pode, é gratuito.


Serviço
Fazenda Senhor Jesus – Araxá – MG
Fone: 34- 3662-1180
http://www.fazendasenhorjesusaraxa.com.br