Desfile Beleza Negra 2016: Lugoli e novos talentos

-
Por Só Notícia Boa
Imagem de capa para Desfile Beleza Negra 2016: Lugoli e novos talentos
Adriano Lugoli - Fotos: arquivo pessoal|

Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa.

Esta quarta-feira, 23, foi um dia para reverenciar a diversidade e a beleza de mulheres e homens negros.

Este ano, em sua 6a. edição, o Desfile Beleza Negra levou 70 modelos para uma passarela no meio do povo: ao lado da Estação Central do Metrô de Brasília, na Rodoviária do Plano Piloto.

São jovens que foram descobertos nas ruas, ônibus, metrô, na periferia de Brasília, nas redes sociais e agências, selecionados pela produtora de moda e do evento, a ex-modelo Dái Schimidt, de 32 anos.

Dái contou em entrevista ao SóNotíciaBoa que teve a ideia de criar o Desfile Beleza Negra em 2010, para fazer um contraponto ao Capital Fashion Week:

“Antigamente o Capital [Fashion Week], as grandes marcas, eles sempre colocavam modelos brancos nas passarelas. O negro era tipo cota, uma negra para representar. Achei um absurdo”.

Surgiu ali a ideia de quebrar o racismo na moda.

Adriano Lugoli (fotos acima)

Para o desfile deste ano Dai Schmidit trouxe de volta a Brasília o modelo referência da Beleza Negra, Adriano Lugoli, (vídeo abaixo) que ela descobriu em 2012 e hoje vive em São Paulo, brilhando em comerciais e programas de TV em rede nacional.

Adriano tem uma história de superação impressionante. Ele foi usuário de drogas e morou nas ruas antes de ser descoberto, como mostramos no SóNotíciaBoa. Releia aqui.

“Foi o primeiro desfile que fiz. Quando a Dái me conheceu eu vendia mel nos ônibus para a casa de recuperação. Só que ninguém sabia. Fiquei em dúvida se contava a minha história, que na verdade eu queria esconder. Mas a Dái via em mim um sonho. Contei e foi selecionado. Saí na revista Raça e tudo começou”, disse Lugoli esta semana ao SóNotíciaBoa.

Apostas de 2016

A produtora revelou uma de suas novas apostas para este ano: outro rapaz que teve uma história de vida difícil e conseguiu se superar.

É Jasiel França, de 24 anos (foto abaixo), nascido em Itajuípe, o interior da Bahia.

Ele contou ao SóNotíciaBoa que não conheceu o pai e que foi abandonado pela mãe – usuária de drogas – aos 5 anos de idade.

Disse que sofreu maus-tratos na casa da avó, onde foi morar, fugiu de casa aos 8 anos de idade, sofreu bullying, viveu no lixão e fazia bicos para comer até a adolescência.

A agonia só terminaria em Brasília, para onde foi mandado aos 19 anos, para morar com uma tia.

Na capital federal conheceu um chef de cozinha, chamado André, que por coincidência tinha nascido na mesma cidade que Jasiel. Eles se tornaram grandes amigos.

O jovem começou então a trabalhar lavando panelas no restaurante chefiado por André e aprendeu a cozinhar com ele.

Hoje Jasiel é chef também, no Bistrô D’Vilela, na 310 Norte, em Brasília.

Ele é separado, tem um filho de 2 anos e mora no Paranoá, cidade carente a 25 km do Congresso Nacional.

Nas horas vagas o hobby do rapaz é ser modelo e ele vai desfilar pela primeira vez nesta edição do Beleza Negra.

Jasiel França - Fotos: arquivo pessoal

Jasiel França – Fotos: arquivo pessoal

Desfile com diversidade

O Beleza Negra 2016 apresentou três coleções inspiradas na moda africana, com vários looks da cultura do negro, com turbantes, saias, vestidos, moda praia e roupas sociais africanas.

Dio Fernandes assinou cabelo e maquiagem. Julio By Razec, inspirado na coleção africana, levou a cor. A Coleção da AcamplaÁfrica deu um toque do estilista Fernando Cardozo.

Para exaltar a importância da diversidade, além de negros, o desfile também levou brancos e uma idosa.

“Trabalhamos com a diversidade. O legal do Beleza Negra é isso. É um projeto de inclusão porque trabalha a autoestima da juventude. A gente coloca cadeirante, branco que sofre preconceito e abraça a causa. Uma senhora de 76 anos, da terceira idade, desfilou”, disse Dai.

Evento sem dinheiro

Dái contou que não conseguiu um centavo de patrocínio do governo para esta edição, apenas parcerias e permutas, que estão ajudando na realização do Desfile.

Ousada, ela não se abalou. A meta agora levar o projeto para todos os estados brasileiros e para o mundo: “Já temos proposta para a África”, adiantou.

Da redação do SóNotíciaBoa