Como o câncer se forma? Cientistas decifram peça-chave

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Por Andréa Fassina
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Um peixe-zebra com câncer marcado com proteína fluorescente verde é a peça-chave do estudo do Dr. R. White - Foto: mskcc.org

Como o câncer se forma? Por que apenas algumas células são ‘competentes’ para formar a doença? Cientistas do Centro de Câncer Memorial Sloan Kettering, nos EUA, conseguiram descobrir a peça-chave dessa questão.

A resposta está numa proteína chamada ATAD2, que faz célula dar origem a tumores. O estudo saiu em um artigo publicado esta semana na revista Science.

A descoberta explica o motivo de algumas células, mas não outras, conseguirem produzir o câncer. E mais: isso oferece potenciais alvos terapêuticos para um dia ajudar os pacientes.

O artigo da Science.

No artigo, a equipe deu um passo à frente, descrevendo um mecanismo chamado pelos cientistas de “competência oncogênica”.

Ou seja, o resultado de uma colaboração entre as mutações do DNA em uma célula e o conjunto particular de genes que são ativados na estrutura alterada.

As células competentes para formar o melanoma são capazes de acessar um conjunto de genes que, normalmente, são bloqueados aos melanócitos maduros (as células que produzem a melanina e dão a cor à pele).

Segundo White, para acessá-los, requerem proteínas específicas que atuam como chaves.

Sem isso, são incapazes de formar um melanoma, mesmo quando têm mutações no DNA associadas ao câncer.

Toupeira e Peixe-Zebra

Richard White explica que usou a estrutura de uma toupeira, que é composta basicamente por células com anomalias genéticas, incluindo uma mutação do gene BRAF, que, em outros organismos vivos, pode levar ao melanoma.

“Sabemos, já há algum tempo, que o contexto celular importa na formação do câncer”, diz.

“O problema é que ainda não sabemos exatamente como o contexto combina com as mutações genéticas para promover o câncer”, diz o pesquisador.

Para responder a essa pergunta, o Dr. White se juntou ao biólogo de desenvolvimento MSK Lorenz Studer, um especialista em criar e usar células-tronco para estudar e tratar doenças.

10 anos de estudos

O projeto começou há uma década e no início, os médicos estudavam o melanoma de um peixe-zebra. Eles modificaram geneticamente o peixe e inseriram um gene BRAF.

Depois, introduziram um gene defeituoso. Após meses, descobriram que os peixeis com o BRAF, em determinados estágios, eram capazes de formar tumores.

“O resultado foi surpreendente. Mas o que é verdade para os peixes não é necessariamente verdade para os humanos”, diz o pesquisador.

Após pesquisarem o mecanismo do surgimento do câncer, eles identificaram a diferença-chave que era uma proteína específica chamada ATAD2 ativa nas células modificadas.

Resultados 

Segundo os pesquisadores, os resultados lançam uma nova perspectiva na formação do câncer.

“A ideia padrão, que existe há décadas, é que você, basicamente, precisa de dois tipos de mutações no DNA para ter câncer: um oncogene ativado e um gene supressor de tumor desativado.

Depois de superar esses dois obstáculos, o câncer se formará. Agora, temos essa coisa totalmente diferente, a competência oncogênica, que adiciona uma terceira camada à mistura”, diz White.

Para provar que o ATAD2 estava desempenhando um papel decisivo, os cientistas fizeram experimentos em que retiraram o gene, ou o adicionaram de volta.

Quando o removeram em um modelo de peixe-zebra propenso a ter melanoma, as células perderam a capacidade de gerar tumores.

Quando eles o adicionaram às células MC, elas ganharam essa capacidade.

Para a equipe, essa é a prova de que esse gene é um componente crucial no contexto da formação do câncer.

Com informações do Correio Braziliense