Professor que ficou cego ensina a ‘enxergar’ a vida de modo diferente

Um professor que ficou cego hoje dá uma lição sobre seu aprendizado com o novo modo de enxergar a vida por meio do braile.
Aos 39 anos, o jornalista e professor João Guanaes, de Campo Grande (MS), conta que perdeu a visão por causa de um descolamento de retina. Ele fez duas cirurgias, mas não conseguiu reverter. Passou por um período que chama de “luto”.
“O braile para mim é como o amanhecer do dia, o braile é a esperança do cego. É ele que nos traz o sentimento de pertencimento do mundo. Ele é a escrita do deficiente visual”, definiu o professor.
Primeiro repórter cego a atuar em TV, no Mato Grosso do Sul, João Guanaes não parou diante dos obstáculos. Fez um segundo curso superior, Letras, e depois pós-graduação, tornando-se professor.
“Quando eu estou em contato com o Braile, eu esqueço de tudo. O Braile me conduziu ao mundo da educação”, disse.
Período de luto
Ao lembrar do seu período de luto, João Guanaes parece sentir as dores que o abateram na época. Também ouviu vários “não” e esbarrou em dificuldades.
“Você não quer falar com ninguém, vêm aqueles pensamentos ruins porque eu me lembrava daqueles dias, eu tinha minha empresa, era empresário, e de uma hora para outra aconteceu tudo isso”, afirmou o professor.
Reaprender a viver
O professor disse que foram dois anos até encerrar o período de luto e buscar uma solução para reaprender a viver.
No Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florivaldo Vargas, ele se reabilitou, aprendeu a orientação de mobilidade, que é andar com a bengala, e como direcionar nos ambientes e a tecnologia.
“Na época, fui numa escola próxima de casa, e eu estava ainda no Ensino Fundamental. E essa professora, que é minha amiga, disse com todas as letras: ‘Você não pode estudar aqui porque você é cego. Você tem que estudar onde só cegos estudam’”, contou.
Em seguida, João Guanaes disse: “Aquilo me doeu, foi o primeiro obstáculo que eu encontrei depois que eu perdi a visão. Eu me lembro que eu chorei tanto aquele dia, eu passei mal”.
Depois de uma semana, a diretora do colégio chamou João, informando: “Você vai estudar aqui”. “Se eu fizesse uma prova e tivesse uma nota boa, eu poderia estudar naquela escola. Ela me falou: ‘João, não desista porque você está abrindo portas para outras pessoas’”.
A nova luta
João Guanaes não desistiu, pediu ajuda para uma vizinha, que tinha um Cyber Café, estudou, concluiu o Ensino Fundamental, fez o Enem e foi para a sua primeira graduação, Comunicação Social – Jornalismo.
Fez estágio como repórter, e em 2016 foi o primeiro cego repórter em TV. Mas disse que sentiu desejo de ir para educação, foi aí que fez o curso de Letras e pós-graduação, tudo com ajuda do braile.
“O braile me proporcionou acesso a tudo isso, é insubstituível. Tentaram várias vezes substituir o braile com as novas tecnologias, mas não tem como, ele é a escrita da pessoa com deficiência visual”, afirmou.
Inovação
Sem enxergar, o tato é um dos sentidos mais usados no cotidiano dos cegos. O braile é que ajuda na leitura e comunicação para cerca de 530 mil pessoas no país, fora os 6 milhões com baixa visão. No mês de janeiro, comemora-se a data deste sistema de escrita tátil, criado no século XIX.
Para celebrar o Dia Mundial do Braile, comemorado no último dia 4, a Biblioteca Isaias Paim, em Campo Grande, abriu para o público o acerto e promoveu conversas sobre deficiência visual e o sistema escrito tátil. O acervo tem aproximadamente mil livros em braile.
Na biblioteca, a acessibilidade é plena, dispondo de impressora braile, máquina Perkins, lupa para baixa visão, o teclado colmeia para mobilidade reduzida. Há, ainda, curso de braile abertos à população. O próximo está previsto para março.
Braile
Em 1824, o francês Louis Braile, cego depois de um acidente aos 3 anos, desenvolveu o sistema que leva seu nome que reúne diferentes combinações de 1 a 6 pontos em relevo.
O Braille é composto por 63 sinais, gravados em relevo. Esses sinais são combinados em duas filas verticais com 3 pontos cada uma. A leitura se faz da esquerda para a direita.
Com informações da Fundação de Cultura do MS e do MEC.

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