Moça que fingiu ser menino vira campeã de squash

atleta_squash1|atleta_squash2
Comercial
Nascida no Waziristão, uma região altamente conservadora do Paquistão, Maria Toorpakai Wazir, de 22 anos, teve de se fazer passar por um menino quando decidiu abraçar o squash.
Maria é corajosa. E teve de ser para praticar o esporte em um lugar onde até a educação escolar é negada a meninas.
Quando ela tinha quatro anos de idade, teve de vestir as roupas de seu irmão, cortou os cabelos curtos e teve todas suas roupas de meninas queimadas.
”Meu pai começou a rir e disse, “Lá vamos nós, temos um Gengis Khan na família, conta ela, em referência ao guerreiro mongol do século 12.
Com 12 anos ela foi registrada em um torneio para meninos – e venceu.
”Ter dado a ela um falso nome de menino permitiu que ela participasse dos jogos que queria”, afirma o pai de Maria, Shamsul Qayyum Wazir.
Seu pai a levou para uma academia de squash em Peshawar, administrada pela Força Aérea Paquistanesa.
Em seu primeiro mês praticando squash, as pessoas não sabiam que ela era uma menina.
Quando a verdade veio à tona, outros jogadores começaram a provocá-la.
”Eles costumavam me provocar, falar palavrões. Era intolerável e desrespeitoso, um bullying extremo”, lembra a jovem.
Mas ela não desistiu.
Se trancava na quadra de squash e jogava por horas, da manhã até a noite, mesmo terminando com as mãos inchadas e até sangrando.
O esforço foi recompensado. Maria venceu vários campeonatos juvenis e se tornou profissional em 2006.
No ano seguinte, recebeu uma premiação do presidente do Paquistão.
A exposição também rendeu problemas a ela e à sua família na tensa região onde vive, que abriga militantes da milícia islâmica extremista Talebã.
Foi nessa região fronteiriça que, em outubro de 2012, um atirador ligado ao Talebã feriu gravemente na cabeça a blogueira Malala Yousafzai, de 14 anos, que militava pelo direito de meninas irem à escola.

atleta_squash2
A despeito das dificuldades, Maria conquistou o terceiro lugar no torneio mundial juvenil
”Elas usam véu o tempo todo e estão sempre acompanhadas de homens de sua família. Quando as pessoas viram Maria e perceberam que ela não usava véu e jogava de shorts, ficaram chocadas. Eles disseram que ela trazia desonra para nossa tribo e criticaram-na muito por isso.”
Uma carta contendo ameaças foi deixada no carro do pai da jovem, dizendo que jogar squash era ”anti-islâmico” e que se ela não abandonasse a prática do esporte sofreria ”graves consequências”.
Mas a Federação Paquistanesa de Squash forneceu à jovem atleta segurança, montando um posto de controle próximo à sua casa, e posicionando atiradores de elite perto da quadra onde ela jogava.
Foi então que seu pai decidiu que era melhor enviá-la ao exterior.
Para conseguir isso, ela passou a enviar diariamente, ao longo de três anos e meio, e-mails para clubes, academias, escolas e universidades no ocidente.
Um desses e-mails chegou ao campeão canadense de squash Jonathon Power.
Ele descobriu que ela havia chegado em terceiro lugar no Campeonato Mundial Feminino Juvenil de Squash e se prontificando a ensiná-la a jogar no Canadá.
Alguns meses depois, em 2011, ela chegava a Toronto para começar a treinar com ele.
”Ela tem talento e determinação para se tornar a melhor jogadora do mundo. Vai demorar um pouco, ela passou uns quatro anos evoluindo pouco porque ficava praticando apenas em seu próprio quarto”, afirma.
Mas agora, acrescenta, seu instrutor, ”ela está em um excelente ambiente e conta com pessoas notáveis a seu redor”, comenta.
Atualmente, Maria é a melhor jogadora de squash de seu país e ocupa a 49ª posição no ranking mundial feminino.
O pai de Maria não esconde o seu orgulho pela filha.
“O Paquistão e todo o mundo islâmico deveriam estar orgulhosos dela”, diz ele.
“Em nossa sociedade as pessoas comemoram quando nasce um menino e lamentam quando nasce uma menina – essa atitude tem que mudar. Gostaria que todas as garotas de tribos tivessem as mesmas chances que outras”.
Com informações da BBC.