Professor do RJ dedica vida à educação de crianças indígenas no Xingu

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Por Monique de Carvalho
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O professor deixou a vida no Rio de Janeiro para ensinar crianças e adolescentes do Xingu - Foto: Carol Brenck/ GoMartins

O professor Sebastião Soares, de 33 anos, abraçou uma causa tão linda, que a história dele vem inspirando muita gente!

Formado em Biologia, ele largou tudo e passou a dedicar a vida à educação de crianças e adolescentes indígenas. Hoje, Sebastião vive com o povo da etnia Kuikuro, na aldeia Afukuri, localizada no Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso.

São 25 alunos inscritos, mas Sebastião conta que nem sempre todos estão presentes nas aulas. As meninas, principalmente, às vezes precisam faltar por conta dos afazeres e dos cuidados com irmãos e filhos.

Desafio

Ele diz que vale muito a pena, mesmo com alguns obstáculos e ressalta o esforço das crianças Kuikuro para aprender o português: “Eu sempre preciso escrever tudo no quadro e falar devagar para eles entenderem. Imagina a gente sendo educado em outra língua?”.

Aulas abordam desde a língua portuguesa até os direitos dos povos indígenas e a importância do voto

Mudança de vida

Sebastião morava no Rio de Janeiro quando surgiu uma vaga para trabalhar na aldeia. Mesmo com um pouco de medo, a motivação de poder educar as crianças do Xingu falou mais alto. Da proposta de trabalho até a chegada na aldeia, passou-se apenas uma semana.

O desafio era dar aula de todas as principais disciplinas escolares para as crianças e adolescentes, e ele seria o único professor.

Sebastião conta que sentiu medo, tinha dúvidas se daria conta, mas, foi tão acolhido desde a chegada, que percebeu logo que havia feito a melhor escolha.

O que mais chamou a atenção, segundo o professor, foi a organização da aldeia, com o fato de todas as decisões serem tomadas pelo coletivo.

“Isso me encantou muito. Fui aprendendo que as decisões que eu queria tomar precisavam passar pelo coletivo primeiro”, explica.

“Foi um desafio trabalhar com a escuta, para não ter esse movimento colonizador para impor vários conteúdos que eu queria, e sim ter a escuta de trabalhar uma cultura que eu não conhecia. Então eu sempre perguntava tudo, inclusive para os alunos”, conta o professor.

Avanço na educação

Sebastião tem colhido bons frutos da dedicação que tem com os jovens indígenas. Muitos alunos já falam perfeitamente o português e ensinaram o professor o idioma kuikuro.

Ele diz que essa troca de experiências foi fundamental e facilitou as aulas e o convívio com as crianças e adolescentes. O professor também ressalta a importância de ensinar português e outras matérias na aldeia.

“A importância da educação escolar indígena é sobre contribuir para que esses povos possam se dar melhor com o homem branco quando chegarem à cidade, quando quiserem lutar por seus direitos. É para que possam entender as leis, saber o que está sendo falado e entender seus direitos. É para que esses alunos não sejam passados para trás, como muitos indígenas já foram”.

Direitos do povo

As aulas também vão além da alfabetização. O professor faz questão de falar em sala sobre a importância do voto e de conhecer os próprios direitos.

Sebastião organizou um dia só para os jovens Kuikuro de 16 a 18 anos fazerem seu pedido pela internet para tirar o título de eleitor. A internet é paga pelos próprios Kuikuro, sem ajuda nenhuma do governo.

Sobre o futuro na profissão, Sebastião tem um sonho:

“No tempo em que estou aqui, talvez não consiga ver a resposta, mas plantei a sementinha para que essas pessoas saibam seus direitos e lutem por eles”, finaliza.

O professor Sebastião Soares com as crianças da etnia Kuikuro, na aldeia Afukuri, no Xingu - Foto: Carol Brenck/ GoMartins

O professor Sebastião Soares com as crianças da etnia Kuikuro, na aldeia Afukuri, no Xingu – Foto: Carol Brenck/ GoMartins

Menina Kuikuro - Foto: Carol Brenck/ GoMartins

Menina Kuikuro – Foto: Carol Brenck/ GoMartins

Com informações de Observatório do Terceiro Setor