Bebês livres do HIV: Brasil deve receber certificado da OMS

Um marco histórico. Milhares de bebês brasileiros nasceram livres do HIV e o Brasil deve receber ainda este ano o certificado de país que conseguiu eliminar a transmissão vertical da doença.
O pedido de certificação foi enviado em junho à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e à Organização Mundial da Saúde (OMS) e o reconhecimento oficial deve chegar em dezembro de 2025, após trâmites e análises.
“Falar de eliminação da transmissão vertical é falar de infância, de proteção e de esperança. Cada bebê que nasce livre do HIV é uma vitória coletiva. É a prova de que políticas públicas bem estruturadas salvam vidas e mudam destinos”, disse Pâmela Cristina Gaspar, coordenadora-geral de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde.
Como tudo começou
Segundo Pâmela, o Brasil iniciou o processo em 2017, inspirado nas diretrizes internacionais da OPAS e da OMS:
“O país desenvolveu um modelo próprio, que começou certificando municípios com mais de 100 mil habitantes, depois ampliou para a sífilis e hepatite B e, recentemente, incorporou também a doença de Chagas e o HTLV.”
E o resultado chegou: “Hoje o Brasil tem mais de 150 municípios certificados e sete estados reconhecidos por eliminar ou reduzir drasticamente a transmissão vertical. Isso mostra que estamos no caminho certo”, afirmou a especialista.
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Graças ao SUS
O sucesso do programa se deve a uma força-tarefa formada por profissionais do SUS de diferentes regiões do país.
São mais de 130 pessoas, entre técnicos, gestores, especialistas e voluntários.
“A eliminação da transmissão vertical só é possível porque existe uma rede sólida de profissionais na ponta nas maternidades, nos serviços de atenção primária, nas equipes de vigilância e nas gestões locais que acreditam nesse objetivo e trabalham todos os dias para garantir que nenhuma criança nasça com o vírus”, lembrou Pâmela.
“Não olha só para números”
Ela contou que o trabalho é minucioso com visitas e acompanhamento das famílias.
“É um trabalho que exige sensibilidade e rigor. A gente não olha só para números, mas para o cuidado de verdade. Se o serviço acolhe, se a gestante é acompanhada, se o bebê é testado, se a comunidade participa das decisões”, explica.
O acompanhamento começa desde o pré-natal e reforça a adesão ao tratamento para garantir que todas as gestantes com HIV recebam diagnóstico e tratamento adequados para impedir a transmissão do vírus aos bebês.
“O Brasil é um país enorme e desigual. Há lugares com maior dificuldade de acesso, como comunidades ribeirinhas, populações indígenas, pessoas em situação de rua ou de uso de drogas. São contextos que exigem abordagens específicas e um olhar intersetorial.”
Eliminação não é erradicação
Pâmela faz questão de esclarecer: eliminação não significa erradicação.
“A eliminação é quando o país atinge indicadores que mostram que a transmissão vertical deixou de ser um problema de saúde pública. Para o HIV, isso quer dizer ter menos de 2% de transmissão entre mães e bebês e menos de 0,5 caso para cada mil nascidos vivos, além de coberturas acima de 95% em testagem, pré-natal e tratamento”.
E ela lembra:
“A eliminação não é o fim de um caminho, é o começo de uma nova etapa. A partir do reconhecimento, o desafio será manter esses resultados e garantir que nenhuma criança, em nenhum lugar do Brasil, nasça com o vírus. Essa é a nossa missão”, concluiu.
