Joelmir Beting: humor criativo, frases brilhantes, inteligência aguda. Homenagem

joelmir_beting_fabio
Comercial
Foto: Fabio Pannunzio
Por Rinaldo de Oliveira
Hoje o Brasil acordou sem o homem que criou o estilo de falar de economia sem economês na televisão. Uma notícia pra lá de triste, que aqui a gente transforma em homenagem ao mestre.
O grande jornalista Joemlir Beting, partiu aos 75 anos, vítima de um acidente vascular encefálico hemorrágico (AVE).Um homem brilhante. Daquelas figuras ímpares do jornalismo pra gente se espelhar.
Sério, educado, gentil, competente, com senso de humor e que sabia falar a língua do povo.
O filho dele, o jornalista Mauro Beting, também nosso colega de Band leu no ar esta madrugada, pela rádio Bandeirantes, uma carta sobre o pai.
“…cérebro privilegiado. Irrigado e arejado como poucos dos muitos que o conhecem e o reconhecem. Amado e querido pelos não poucos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. ..”
“…Ele me ensinou tantas coisas que eu não sei. Uma que ficou é que nem todas as palavras precisam ser ditas. Devem ser apenas pensadas. Quem fala o que pensa não pensa no que fala. Quem sente o que fala nem precisa dizer…”
“…A ausência dele não tem nome. Mas a presença dele ilumina de um modo que eu jamais vou saber descrever. Como jamais saberei escrever o que ele é…”
Outra homenagem foi feita pelo jornaista Fábio Pannunzio, que várias vezes dividiu a bancada do Jornal da Band com ele, em São Paulo.
No Facebook Pannunzio contou um pouco dos bastidores, do convívio com Joelmir, e ressaltou o lado bem humorado, positivista, que reproduzimos agora.
“Um oftalmologista amigo me contou, no ano passado, que o homem deve a extensão da expectativa de vida à invenção dos óculos. Sem eles, antes da Revolução Agrícola, morríamos aos 40 porque a visão turvada pelo tempo impossibilitava a identif
icação dos predadores e a localização da comida. Deve ser verdade.
No caso do Joelmir Beting, aconteceu um pouco mais tarde, já para lá dos 70. Recém-recuperado de uma cirurgia nos olhos, ele tinha uma dificuldade enorme para enxergar o teleprompter. Os óculos não funcionavam. Mas ele estava lá todos os dias, enfrentando a dificuldade diante de milhões de telespectadores.
Algumas vezes, eu, a Ticiana e os outros colegas que dividíamos com ele a bancada do Jornal da Band, soprávamos uma palavra ou outra para que ele completasse seus comentários brilhantes.
Nessa época, Joelmir começou a tomar tombos de madrugada em casa. Um desses tombos fraturou uma costela, que pressionou o coração, e aí começou essa história triste que termina agora.
Ninguém sabe quantas vezes o Joelmir caiu no trajeto entre a cama e o banheiro, mas eu contei uma cinco. Ele não era dado a reclamar da vida e transformava tudo em motivo de piada. Com elas, alegrava cada segundo dos nossos começos de noite.
Não me lembro de vê-lo triste nem abatido. Quem conviveu com ele profissionalmente sabe que era uma pessoa que gostava de fazer troça das dificuldades. Tinha sempre uma tirada engraçada, a chave para arrancar um sorriso dos que estavam a seu lado.
Um dia, filosofando sobre a vida, contando causos nos intervalos comerciais, perguntei-lhe como conseguia aparentar tanta felicidade e nunca reclamar de nada, absolutamente nada, em situações que levariam outras pessoas a se descabelar (aliás, ele andava literalmente descabelado, a despeito do protesto das fãs sessentonas).
Joelmir pegou a caneta, pediu uma folha do script e cravou em alemão a frase que registrei nesta foto (acima): “Tudo na vida tem um fim. Só a salsicha tem dois”. Faz pouco mais de um ano.
A patir daí, Joelmir começou a aparecer cada vez menos na TV, deixando-nos sem sua alegria compulsiva . Fez uma falta danada. Agora vai fazer uma falta absoluta.
Não só pelo fim de seu humor criativo, das frases brilhantes e da inteligência aguda.
Sua partida também vai deixar muita coisa sem resposta. Refiro-me às histórias que contava — e que, checadas, nem sempre se confirmavam. Fazer piada de sua própria história era uma das especialidades dele. Foram centenas de “causos”, que lhe valeram a recomendação, pelo que se sabe jamais atendida, de registrar tudo em um livro.
Uma dessas histórias (estória ?) era uma lembrança recorrente de algo que provavelmente não ocorreu. Ele era menino em Tambaú, tinha cinco ou seis anos de idade. Num domingo, pegou um barco para atravessar para a outra margem de um rio que desaguava numa cachoeira enorme. Ele e outros seis amigos. O barco foi tragado pela corredeira e desabou cachoeira abaixo. Os seis amigos teriam morrido na queda.Foi levado pela correnteza quilômetros rio abaixo. Quando saiu da água, trepou em uma árvore e ficou lá um dia inteiro e uma noite. Na segunda manhã, quando foi finalmente encontrado, não conseguia falar uma palavra sequer. Ficou anos sem a fala, recuperada apenas graças ao milagre intermediado por um padre cuja memória cultuava como um santo.
Foi muito triste acompanhar a derrocada de Joelmir Beting. Desejo à família, que era a única coisa de que ele gostava mais do que futebol e economia, força para enfrentar esse momento de dificuldade.
Se estivesse vivo, Joelmir provavelmente repetiria a frase da foto para fazer troça de seu próprio fim. Afinal, tudo na vida tem um fim. Só a salsicha tem dois.”
No caso do Joelmir Beting, aconteceu um pouco mais tarde, já para lá dos 70. Recém-recuperado de uma cirurgia nos olhos, ele tinha uma dificuldade enorme para enxergar o teleprompter. Os óculos não funcionavam. Mas ele estava lá todos os dias, enfrentando a dificuldade diante de milhões de telespectadores.
Algumas vezes, eu, a Ticiana e os outros colegas que dividíamos com ele a bancada do Jornal da Band, soprávamos uma palavra ou outra para que ele completasse seus comentários brilhantes.
Nessa época, Joelmir começou a tomar tombos de madrugada em casa. Um desses tombos fraturou uma costela, que pressionou o coração, e aí começou essa história triste que termina agora.
Ninguém sabe quantas vezes o Joelmir caiu no trajeto entre a cama e o banheiro, mas eu contei uma cinco. Ele não era dado a reclamar da vida e transformava tudo em motivo de piada. Com elas, alegrava cada segundo dos nossos começos de noite.
Não me lembro de vê-lo triste nem abatido. Quem conviveu com ele profissionalmente sabe que era uma pessoa que gostava de fazer troça das dificuldades. Tinha sempre uma tirada engraçada, a chave para arrancar um sorriso dos que estavam a seu lado.
Um dia, filosofando sobre a vida, contando causos nos intervalos comerciais, perguntei-lhe como conseguia aparentar tanta felicidade e nunca reclamar de nada, absolutamente nada, em situações que levariam outras pessoas a se descabelar (aliás, ele andava literalmente descabelado, a despeito do protesto das fãs sessentonas).
Joelmir pegou a caneta, pediu uma folha do script e cravou em alemão a frase que registrei nesta foto (acima): “Tudo na vida tem um fim. Só a salsicha tem dois”. Faz pouco mais de um ano.
A patir daí, Joelmir começou a aparecer cada vez menos na TV, deixando-nos sem sua alegria compulsiva . Fez uma falta danada. Agora vai fazer uma falta absoluta.
Não só pelo fim de seu humor criativo, das frases brilhantes e da inteligência aguda.
Sua partida também vai deixar muita coisa sem resposta. Refiro-me às histórias que contava — e que, checadas, nem sempre se confirmavam. Fazer piada de sua própria história era uma das especialidades dele. Foram centenas de “causos”, que lhe valeram a recomendação, pelo que se sabe jamais atendida, de registrar tudo em um livro.
Uma dessas histórias (estória ?) era uma lembrança recorrente de algo que provavelmente não ocorreu. Ele era menino em Tambaú, tinha cinco ou seis anos de idade. Num domingo, pegou um barco para atravessar para a outra margem de um rio que desaguava numa cachoeira enorme. Ele e outros seis amigos. O barco foi tragado pela corredeira e desabou cachoeira abaixo. Os seis amigos teriam morrido na queda.Foi levado pela correnteza quilômetros rio abaixo. Quando saiu da água, trepou em uma árvore e ficou lá um dia inteiro e uma noite. Na segunda manhã, quando foi finalmente encontrado, não conseguia falar uma palavra sequer. Ficou anos sem a fala, recuperada apenas graças ao milagre intermediado por um padre cuja memória cultuava como um santo.
Foi muito triste acompanhar a derrocada de Joelmir Beting. Desejo à família, que era a única coisa de que ele gostava mais do que futebol e economia, força para enfrentar esse momento de dificuldade.
Se estivesse vivo, Joelmir provavelmente repetiria a frase da foto para fazer troça de seu próprio fim. Afinal, tudo na vida tem um fim. Só a salsicha tem dois.”
Fábio Pannunzio.