Felicidade: um top de linha que não custa nada

Por Rinaldo de Oliveira
Ouvindo o rádio há pouco me dei conta de como as pessoas da vida moderna estão confundindo o conceito de felicidade.
De como estão desfocando das coisas prazerosas da vida, vivendo de sonhos – muitas vezes difíceis de realizar – e ficando consequentemente decepcionadas, tristes, depressivas.
A internet, a correria do trabalho, dos afazeres domésticos, os estudos, as contas, as compras… Noves fora, quanto tempo sobra do dia pra ser feliz, pra relaxar, jogar conversa fora, curtir a vida e as pessoas que você ama?

Aliás, quando foi a última vez que você fez tudo isso? Que namorou, por exemplo? No fim de semana? 
A felicidade não está lá na frente, no carro novo que você quer comprar, na casa que quer construir, na viagem que está planejando para as próximas férias, na roupa nova, no tênis, no celular top de linha. 

Buscar a felicidade no futuro é semelhante à história do cachorro que corre atrás da linguiça, que está na ponta de um vara, presa nele mesmo.
Ele corre, corre, corre e a linguiça continua distante.

Em outras palavras, a felicidade não está naquilo que a gente sonha, planeja, não tem.
Ao contrário!

Ouvindo os excepcionais Toquinho e Vinícius, cantando “Tarde em Itapoã”, a gente percebe que a felicidade está aqui, pertinho, ao nosso alcance, nas coisas simples da vida, da natureza… que por falta de tempo, distração, ou o que quer que seja, a gente não tem olhado, curtido, não tem dado muito valor…

Preste atenção na letra abaixo – você que já conhece, ou você, mais jovem, que não teve a oportunidade.

A apresentação no clipe é de um show antológico, gravado em 18 de outubro de 1978, em Milão, na Itália.
Vinícius de Moraes, acompanhado pelo violão de Toquinho e pela voz de Miúcha, irmã do Chico Buarque.

Tarde em Itapoã
(Toquinho)

Um velho calção de banho
Um dia prá vadiar
O mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar…

Depois, na Praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de côco
É bom!…

Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã…(2x)

Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha…

E com olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda rodar
É bom!…

Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã…(2x)

Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
E o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais…

E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã
É bom!…

Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã…(2x)