Fiocruz descobre como frear avanço do câncer de mama e impedir que o tumor se espalhe

Uma nova descoberta brasileira traz esperança para pacientes que enfrentam uma das doenças que mais matam mulheres no mundo. Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), realizada na unidade de Minas Gerais, identificou que nanopartículas de óxido de ferro são capazes de frear o avanço do câncer de mama e impedir que o tumor se espalhe para outros órgãos.
O estudo foi feito com camundongos e mostrou que essas pequenas partículas têm um grande poder: elas “acordam” o sistema imunológico, fazendo com que o próprio corpo reconheça o tumor como uma ameaça e passe a combatê-lo. O melhor de tudo: sem causar danos aos outros órgãos. A descoberta foi publicada na revista científica Cancer Nanotechnology.
“O tumor libera substâncias que o ‘camuflam’. Mas, com as nanopartículas, conseguimos reverter esse quadro. Elas estimulam a produção de biomoléculas que despertam o sistema imune, que passa a atacar as células tumorais”, explica Calzavara à Fiocruz.
Como foi feita a pesquisa
A equipe da Fiocruz separou fêmeas de camundongos com câncer de mama em dois grupos. Apenas um deles recebeu as nanopartículas.
Ao final do experimento, os cientistas notaram que os animais tratados apresentaram menos células cancerígenas e mais células de defesa conhecidas como natural killers (NKs), responsáveis por eliminar células alteradas no organismo.
Além disso, houve uma queda nos níveis de neutrófilos, um tipo de célula que, em muitos casos, contribui para a progressão do câncer. Ou seja, o tratamento conseguiu reduzir tanto o crescimento do tumor quanto a capacidade dele de se espalhar pelo corpo.
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Redução da metástase
Um dos dados mais animadores do estudo foi a queda nos níveis da molécula MCP-1, que está ligada à formação de metástases no câncer de mama.
Os cientistas analisaram os pulmões e fígado dos camundongos, que são comumente afetados pela doença, e notaram uma redução significativa de focos tumorais nos pulmões dos animais que receberam as nanopartículas.
Já no fígado, não houve diferença expressiva entre os grupos, o que ainda está sendo investigado. Mesmo assim, o resultado reforça o potencial da nova abordagem como um suporte importante para impedir que a doença se espalhe pelo corpo.
Ajuda ao sistema imune
Segundo o pesquisador Carlos Eduardo Calzavara, líder do estudo, o câncer costuma “enganar” o sistema de defesa do corpo. Isso permite que ele cresça sem ser percebido.
Mas, ao aplicar as nanopartículas, o cenário muda: o sistema imunológico é ativado e passa a reagir de forma mais intensa contra as células doentes.
Mesmo ainda em fase experimental, a novidade é um passo importante na busca por terapias mais eficazes e menos agressivas. E, no futuro, pode representar uma alternativa mais segura para pacientes que não respondem bem aos tratamentos atuais, como a quimioterapia.
Avanço contínuo
Essa não é a primeira vez que o grupo da Fiocruz explora as nanopartículas de óxido de ferro. Em 2023, eles já haviam demonstrado que o tratamento era capaz de reduzir em quase 50% o tamanho dos tumores, ao transformar um tipo de célula do sistema imune chamada macrófago M2, que favorece o tumor, em M1, que combate a doença.
Agora, com os novos dados, os cientistas conseguiram entender melhor como esse processo acontece.
“Estamos cada vez mais próximos de chegar a uma imunoterapia realmente efetiva”, celebra Calzavara.
O que vem pela frente
A próxima etapa será a realização de testes pré-clínicos, que vão avaliar segurança, dosagem, absorção e possíveis efeitos colaterais. Só depois dessa fase é que os testes com pacientes poderão começar.
Além disso, duas novas linhas de pesquisa já estão em andamento: uma delas usa o efeito de calor gerado pelas nanopartículas para destruir células tumorais; a outra avalia se a combinação das nanopartículas com medicamentos tradicionais pode potencializar os resultados e diminuir os efeitos colaterais da quimioterapia.
“A ideia não é substituir os tratamentos existentes, mas oferecer novas opções, principalmente para quem não responde bem às terapias convencionais”, afirma Calzavara.
O câncer de mama ainda é uma das doenças que mais matam mulheres no mundo. Muitos casos apresentam resistência ao tratamento ou retornam após algum tempo. Por isso, a descoberta da Fiocruz traz um novo fôlego à luta contra essa enfermidade.
