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Química brasileira cria caneta capaz de detectar câncer em 10 segundos; testes no Brasil

Monique de Carvalho
12 / 11 / 2025 às 10 : 47
A caneta que ajuda a detectar câncer, através de um teste rápido, foi criada pela química brasileira Lívia Schiavinato Eberlin. - Foto: Vivian Abagiu/Universidade do Texas
A caneta que ajuda a detectar câncer, através de um teste rápido, foi criada pela química brasileira Lívia Schiavinato Eberlin. - Foto: Vivian Abagiu/Universidade do Texas

Da Unicamp para o mundo. A química brasileira Lívia Schiavinato Eberlin, que é professora da Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, desenvolveu uma caneta capaz de detectar, em apenas 10 segundos, se um tecido é saudável ou se há vestígios de câncer ainda durante a cirurgia.

O dispositivo, chamado MasSpec Pen, promete agilizar procedimentos oncológicos e reduzir erros médicos.

A tecnologia já vem sendo testada no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, no primeiro estudo clínico fora dos Estados Unidos, em parceria com a Thermo Fisher Scientific, multinacional responsável pelo espectrômetro de massas que analisa as amostras.

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Como funciona a MasSpec Pen

A MasSpec Pen é uma caneta conectada a um espectrômetro de massas, equipamento capaz de identificar moléculas e criar uma “assinatura química” de cada tecido. Durante a cirurgia, o médico encosta a ponta da caneta no tecido suspeito. Uma microgota de água estéril é liberada e, em segundos, absorve moléculas da superfície, sendo então enviada para análise.

O espectrômetro compara o perfil molecular do tecido com uma biblioteca de dados, identificando instantaneamente se ele é saudável ou cancerígeno. Segundo Lívia Eberlin, o processo é simples e não danifica o material analisado. “A análise é instantânea e não causa nenhum dano ao tecido”, explicou a pesquisadora.

Essa rapidez oferece ao cirurgião uma resposta imediata, permitindo ajustes na operação em tempo real e reduzindo o tempo de anestesia e o risco de complicações.

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O desafio das margens cirúrgicas

Definir até onde o cirurgião deve cortar é uma das etapas mais complexas de uma cirurgia oncológica. Remover pouco tecido pode deixar células cancerígenas, enquanto retirar demais pode comprometer órgãos e funções vitais.

Atualmente, essa decisão depende do chamado exame de congelação, que leva de 20 minutos a 1h30 para ser concluído. Durante esse período, o paciente permanece anestesiado e a equipe cirúrgica aguarda o laudo do patologista. Além disso, o congelamento do tecido pode distorcer a amostra e dificultar a análise.

Com a MasSpec Pen, esse tempo é reduzido a segundos. “O resultado vem diretamente da sala de cirurgia, e o médico sabe imediatamente se precisa retirar mais tecido”, destacou Lívia. Em casos como o câncer de pulmão, em que a margem precisa ser extremamente precisa, a nova tecnologia pode ser decisiva para o sucesso da operação.

Estudos no Brasil

O Einstein é o primeiro centro fora dos Estados Unidos a testar a tecnologia em pacientes. O estudo clínico acompanha 60 pessoas com câncer de pulmão e tireoide — tipos escolhidos pela acessibilidade cirúrgica e pela maturidade dos algoritmos da caneta.

Em testes anteriores, publicados na revista JAMA Surgery, a MasSpec Pen demonstrou acurácia superior a 92%. A pesquisa atual também vai comparar os resultados com o exame anatomopatológico tradicional, medindo precisão e confiabilidade.

Após essa etapa, o dispositivo será testado em tumores de mama, fígado e ovário, que já apresentaram resultados promissores em laboratório.

Além do diagnóstico

A equipe do Einstein também investiga se a MasSpec Pen pode ir além da detecção do câncer e identificar o perfil imunológico do tumor. Essa informação, conhecida como “temperatura imunológica”, indica se o tumor é “quente” (rico em células de defesa) ou “frio” (capaz de escapar do sistema imunológico).

Saber isso ainda durante a cirurgia pode ajudar a definir o tratamento ideal logo após o procedimento. “A expectativa é que o médico consiga planejar a terapia sem esperar semanas pelo resultado da biópsia completa”, explicou o imunologista Kenneth Gollob, diretor do Centro de Pesquisa em Imunologia e Oncologia (CRIO) do Einstein.

A tecnologia

A Thermo Fisher Scientific fornece o espectrômetro Orbitrap 240, equipamento que faz a leitura molecular das amostras. O processo ocorre em duas etapas: a caneta coleta a microgota com moléculas do tecido e o espectrômetro realiza a análise, separando as substâncias conforme massa e carga elétrica.

Um software com inteligência artificial compara o resultado com milhares de padrões de tumores já catalogados, gerando um diagnóstico instantâneo e preciso. Segundo Dionísio Ottoboni, diretor da Thermo Fisher para a América Latina, “a espectrometria de massas é o coração do processo, transformando a leitura química em um diagnóstico confiável”.

Da Unicamp para o mundo

Natural de Campinas (SP), Lívia Eberlin formou-se em Química pela Unicamp, fez doutorado na Purdue University e pós-doutorado em Stanford. Atualmente, lidera uma equipe na Baylor College of Medicine e comanda a MS Pen Technologies, startup responsável pelo desenvolvimento da caneta.

Com o avanço dos testes no Brasil, o próximo passo será submeter a tecnologia à aprovação da FDA, nos Estados Unidos, e da Anvisa, no Brasil. “Meu sonho sempre foi trazer a tecnologia para o país. O estudo com o Einstein mostra que ela é robusta e aplicável a diferentes realidades clínicas”, afirmou.

Para a pesquisadora, o projeto tem valor científico e simbólico. “É a prova de que a ciência brasileira tem alcance global e pode transformar a vida das pessoas”, disse ao G1.

A pesquisadora brasileira Lívia Eberlin — Foto: Arquivo Pessoal
A pesquisadora brasileira Lívia Eberlin — Foto: Arquivo Pessoal
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