Por Rinaldo de Oliveira
Acabo de ser convencido a assistir ao documentário Dossiê Jango, sobre João Goulart, presidente do Brasil entre 1961 e 1964.
O amigo e jornalista André Guisti escreveu em seu blog uma análise instigante sobre a produção, que conta uma parte da história desse país, que não aparece nos livros escolares, mas todo brasileiro precisa conhecer.
João Goulart havia sido eleito democraticamente presidente do Brasil, mas foi expulso do cargo após o golpe de Estado de 1 de abril de 1964.
Depois disso, Jango viveu exilado na Argentina, onde morreu em 1976.
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As circunstâncias de sua morte no país vizinho não foram bem explicadas até hoje.
Seu corpo foi enterrado imediatamente após a sua morte, aumentando as suspeitas de assassinato premeditado.
O principal mérito de Dossiê Jango: permitir que o espectador possa entender o complexo jogo político em vigor na década de 1960, que resultou não apenas no golpe militar como também no modo como a ditadura agiu nos primeiros anos de governo.
O documentário tenta esclarecer publicamente fatos obscuros da história do Brasil.
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Reproduzo o texto de André Giusti abaixo:
“Para quem realmente deseja que o país mude, deve ser parada obrigatória um cinema em que esteja sendo exibido o documentário Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle.
Logo no início, há um depoimento que chama a atenção sobre o momento que o Brasil vivia quando os generais deram o golpe.
Éramos um país cuja inteligência e o talento floresciam em diversos campos da educação, saúde, artes, literatura e pensamento, movido por um forte crescimento econômico. Tudo que se busca e não se encontra atualmente.
Pelo documentário, o Brasil de 64 era aquele universitário brilhante, primeiro da sala, com emprego onde quisesse após a formatura, mas que sofreu um acidente brutal e teve a vida limitada por sequelas gravíssimas.
Então, logo nos primeiros minutos de projeção, cai por terra qualquer dúvida que ainda possa existir se os 21 anos de treva e terror fardados possuíram alguma utilidade para o país.
Mas há outros dois aspectos relevantes no documentário de Fontenelle.
Um joga luz sobre um plano pouco explorado quando se fala de Jango: seu apego com limites éticos ao poder, adjetivo que cairia bem aos políticos de hoje.
Vendo que se resistisse ao golpe nosso território seria dividido pelos EUA e haveria um banho de sangue no país, ele joga a toalha, e junto vão sua vaidade e sua biografia, a qual o documentário tenta devolver parte do reconhecimento merecido.
O outro é o aspecto jornalístico.
O expectador sai do cinema convencido de que as ditaduras sul-americanas mataram não apenas Jango, mas também JK e Lacerda.
Ele não prova isso, porque a prova definitiva não há, mas investiga, vai aos documentos da época, deixa claras as evidências e ouve pessoas pertinentes, inclusive tomando depoimentos inéditos no caso. Ou seja, lança mão de todos os instrumentos necessários para conseguir do público o que um documentário sobre a morte de um ex-Presidente da República precisa: credibilidade.
Coisa que falta ao jornalismo de hoje em dia.”
Veja o trailer:
Em maio de 2011 o filho de Jango pediu ajuda do Ministério Púlbico brasileiro para exumar o corpo do pai. E nós divulgamos
no SóNotíciaBoa. Releia aqui.
“Nós queremos que o Ministério Público autorize a exumação do corpo do presidente João Goulart porque nós temos a convicção, e os indícios necessários, de que Jango foi eliminado pela Operação Condor, e nós temos que esclarecer definitivamente o que a história do Brasil reservou ao seu ex-presidente.”
Jango morreu oficialmente de ataque cardíaco, em dezembro de 1976 na Argentina, refugiado em sua fazenda, mas o filho acredita que tenha sido vítima de uma troca de remédios criminosa: “O problema da troca de medicamentos, nós temos certeza de que, através desse depoimento,- dado no livro do ex-embaixador Lincoln Gordon, citado abaixo – foi feita a troca de 1 comprimido. Ele diz: nós temos que ir monitorando pra ver quando ele tomaria aquele e nós não poderiamos ter trocado vários pra ele tomar porque deixaria rastro.”
Mas por que Jango teria sido morto na Argentina? João Vicente relembra: “A Triple A, que era a Aliança Anticomunista Argentina, veio a perseguir exilados que estavam na Argentina… e alí começaram uma espécie de mercosul do terror. Ali mataram o Gutierrez Guis, Selmar Miqueline, o presidente Torres. Eles montam a Operação Andréa que consistia em 10 venenos fundamentais para serem exportados para eliminar inimigos da América Latina.”
O filho de Jango fala ainda em valores e diz quanto o governo americano teria desembolsado para financiar o golpe militar no Brasil: “Pelas declarações do ex-embaixador Lincoln Gordon, hoje falecido, que em 2002 esteve no Brasil lançando seu livro, ele torna-se réu confesso no momento em que denuncia que usou 5 milhões, em verbas da CIA americana, para comprar parlamentares para derrubar o governo constitucional.”
Exumação autorizada
Este mês saiu a confirmação: a exumação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart deverá começar em setembro.
O reconhecimento do cemitério foi marcado para o dia 8 de agosto, quando serão tomadas as providências necessárias para desenterrar o caixão.
Uma nova reunião será realizada em 3 de setembro, dia em que será selada a data oficial da exumação, prevista para ocorrer até o fim do ano.
Após a exumação, os restos mortais de Jango serão levados a Brasília para serem periciados no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal.
A decisão foi tomada este mês, em reunião entre a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Comissão Nacional da Verdade, Policia Federal e Ministério Público Federal
A Polícia Federal vai participar de todo procedimento.
A coordenação geral será realizada pela Comissão da Verdade, com o apoio do governo federal.
Pelo menos 6 peritos internacionais vão participar da exumação: dois argentinos, dois uruguaios, dois cubanos, além de toda estrutura da Cruz Vermelha.
Com informações do G1 e 247.